Capítulo 36: Odeio gente enrolada.

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Wyatt

Hazel ia me deixar louco. Não que eu não a entendesse, mas ela ia mesmo me deixar louco. A observei indo embora do auditório ao lado de Elisa, sem me olhar uma última vez. Ela tinha deixado bem claro o que pensava e passou os próximos minutos da aula evidenciando isso em cada olhar afiado que lançava na minha direção, como se tivesse me desafiando.

—Wyatt? —A professora chamou, enquanto eu pegava minha mochila em uma das cadeiras do auditório. Me virei para observar a mulher séria que caminhava na minha direção, sabendo que levaria um puxão de orelha pela risada que soltei no meio da coreografia de dança. —Preciso lembrar que é importante que você preste atenção nas aulas. Se não pegar a dança ou alguma cena, isso pode atrapalhar não só você, mas o restante dos seus colegas.

—Eu sei, sinto muito. Foi um momento de distração que não vai acontecer de novo. —Prometi, pensando que andava fazendo muitas promessas desde que entrei pro teatro e estava mesmo tentando cumprir todas elas.

—Que bom. Fico feliz em ver que você e a Hazel pareceram se entender muito bem. —Ela abriu um sorriso radiante, como se isso fosse tudo que ela precisava pra saber que a peça seria incrível. —Ouvi dizer por aí que vocês dois estão saindo juntos inclusive.

—Ah, jura? —Soltei uma risada baixa, erguendo a mão para esfregar a bochecha, enquanto me perguntava de onde ela tinha tirado aquilo. A professora continuou me olhando, como se esperasse que eu confirmasse ou negasse. —Estamos nos entendendo muito bem. E posso dar certeza que isso não vai interferir em nada na peça. Hazel se importa muito com ela e eu também.

—Maravilhoso, Wyatt. É a melhor coisa que eu poderia ouvir hoje. —Afirmou, e eu quase ri naquele instante, porque sabia que Hazel me mataria se soubesse que eu estava dando a entender para a professora que nós dois tínhamos alguma coisa. Mas parece que outra pessoa já estava fazendo isso. —Tem outra coisa que eu gostaria de falar com você. A Brianna veio falar comigo mais cedo sobre você ter sido um tanto agressivo com ela. Eu só queria deixar claro que esse tipo de coisa não vai ser tolerada aqui.

—Eu... —Abri e fechei a boca, chocado demais com a audácia daquela garota de fazer aquilo. Ela era corajosa, eu não podia negar, mas eu não costumava mentir também então ela estava ferrada na minha mão. —Professora, eu tenho três irmãs mulheres e uma mãe maravilhosa. Acredite quando eu digo, eu jamais seria agressivo com uma mulher.

Cínico e maldoso não estavam incluídos nessa frase, então abri um sorriso pra ela que soava como se eu fosse um anjo. Não era mentira de fato, porque não fiz absolutamente nada contra Brianna. Mas ela deveria ter mesmo ouvido o que eu disse, porque odiava alguém tentando me sacanear. Tinha visto isso acontecer com meus irmãos algumas vezes pra saber como lidar com gente como a Brianna.

—Olha, não sei porque ela iria falar uma coisa assim. Eu devo ter conversado com ela umas duas vezes desde que entrei no teatro e foram palavras rápidas e tranquilas. —Dei de ombros, soando muito tranquilo, vendo a professora assentir como se acreditasse em mim.

—Bem, de qualquer forma eu só queria ter certeza de que está tudo bem. —A professora balançou a cabeça negativamente, como se estivesse muito confusa com aquela história. —Você pode ir, Wyatt.

[...]

Enfiei as mãos no bolso do casaco do time de basquete, enquanto entrava na arena de patinação. Olhei ao redor a procura de Taylor, vendo que não havia qualquer sinal dela dentro da pista de gelo. Mas sabia que ela tinha horário de treino, então ela deveria aparecer ali a qualquer momento.

Caminhei até me escorar no muro de proteção, cruzando meus braços sobre ele quando vi quem eu estava de fato procurando. Hannah Carson estava deslizando pelo gelo com os olhos fechados, parecendo muito concentrada. Quase podia imagina-la flutuando naquele momento. Abri um sorriso, negando com a cabeça ao ver o quão parecida ela era com Hazel, mas também era fácil ver as diferenças.

Hannah abriu os olhos, parecendo sentir que estava sendo observada. Ela parou no meio da pista, olhando ao redor até me encontrar. Não demonstrei absolutamente nada, mas ela soltou uma risada quando os olhos encontraram os meus, tirando o fone de ouvido. Acho que não fiquei surpresa ao vê-la deslizar pelo gelo na minha direção, parecendo saber muito bem quem eu era.

—Por que eu tenho a sensação de que você está rindo de mim? —Questionei, assim que ela se aproximou o suficiente para me ouvir. A risada dela foi quase uma gargalhada alta.

—Mas eu estou. —Retrucou, e eu ergui as sobrancelhas quando ela se escorou no muro ao meu lado, ajeitando os cabelos que estavam presos em um rabo de cavalo. —Sabia que uma hora ou outra você ia me procurar.

—Como? —Soltei, completamente confuso, enquanto uma risada incrédula escapava pela minha boca.

—Vocês homens são muito previsíveis. —Hannah deu de ombros, como se fosse uma coisa óbvia. —Meu irmão procurou a sua irmã quando queria saber mais sobre a Elisa. Agora você está aqui por causa da Hazel. A gente pode pular a parte chata da conversa e você ir direto ao assunto. Odeio gente enrolada.

—Alguém já te disse que você é bem direta? —Questionei, e Hannah abriu um sorrisinho orgulhoso de si mesmo. Caramba, ela parecia quase exibir um brilho próprio, cheio de uma personalidade que deixava uma marca. —Quero ficar com a sua irmã.

—Você tá na parte chata da conversa. —Hannah falou, me lançando um olhar meio torto. —Olha só, Wyatt, certo? Vou ser bem honesta com você. Hazel não vai ficar com você de novo, porque ela não é assim. Ela é a garota que faz planos de uma vida toda e quando alguém resolve entrar na vida dela, ela inclui essa pessoa nesses planos. Se você não quer um relacionamento ou só tá aqui por uns beijos que vão acabar logo, melhor você parar o que está fazendo, porque você só vai estar fazendo a Hazel perder o tempo dela com você.

—Ela não tá perdendo o tempo dela comigo. —Rebati, o que fez Hannah abrir um sorrisinho enorme, como se estivesse esperando ouvir essa resposta de mim. —Do que ela gosta, hein?

—Conto o que você quiser saber se me levar pra almoçar, porque tô quase morrendo de fome. —Afirmou, e eu soltei uma risada, porque Hannah Carson era marcante. Precisava de 5 minutos com ela pra perceber isso. 

—Qual sua comida favorita? —Questionei, e ela soltou um gritinho animado quando percebeu que tinha ganhado.


Continua...

O último ato do jogo / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora