O último ato do jogo / Vol. 2

Capítulo 14: Você é impossível.

Wyatt

—Vocês dois... —Walker abriu e fechou a boca algumas vezes, apontando para nos dois. A boca parecia quase a de um peixe, porque ele parecia realmente chocado. Ele pareceu se recuperar, como se até o álcool tivesse deixado seu corpo, quando deu um passo para trás. —Desculpa, Hollis, não fazia ideia de que vocês dois estavam juntos.

Olhei de relance para Hazel, que parecia surpresa demais para negar, ao mesmo tempo que não havia me afastado. Eu poderia ser mais sútil, mas estava literalmente a abraçando, com o peito colado nas costas dela. E nossa, Hazel era tão pequena que cabia perfeitamente dentro dos meus braços. Era quase engraçado.

—Nos estamos. —Afirmei, deixando aquela mentira ir pra frente, vendo Walker engolir em seco muito lentamente, com uma expressão hesitante. —Vai pra casa, cara. Você tá bêbado demais e daqui a pouco vai arrumar problemas de verdade.

—Claro, vou pegar um Uber e... —Walter gesticulou para qualquer lugar, parecendo tão sem graça que não sabia o que fazer. Ele abriu e fechou a boca mais algumas vezes, antes de assentir e sair dali rapidinho. Soltei uma risada, seguindo Walker com os olhos até ele desaparecer na entrada da casa.

—Você está bem? —Questionei, assim que Hazel deslizou para longe do meu corpo, parecendo um pouco constrangida quando se virou para me encarar. Os olhos estavam quase brilhantes e as bochechas vermelhas.

—Estou sim. Obrigada. —Hazel ergueu a mão e ajeitou os cabelos atrás da orelha, engolindo em seco. —Já tinha mandado ele ir pra casa, mas ele não me ouviu. Mas você pareceu deixá-lo com medo.

—Ele já conhece o peso do meu soco. Deve ser por isso. —Falei, dando de ombros como se aquilo não fosse nada demais. Hazel soltou uma risada nervosa, balançando a cabeça negativamente. Ela desviou os olhos de mim, esfregando as bochechas antes de beber um gole de água. —Você bebeu?

—Um pouquinho. —Afirmou, caminhando de volta para a mesa de bebidas, onde eu tinha a visto com Walker, quando percebi que ele estava a incomodando. —Acho que mereço um pouco de descontração depois dessa semana.

—Alguma coisa te encheu de ansiedade essa semana? —Questionei, abrindo um sorriso inocente quando Hazel olhou pra mim com uma expressão cautelosa, antes de pegar uma cerveja e dar um gole um tanto longo. —Vou considerar isso um sim. Sabe, nós dois vamos precisar conviver muito pelas próximas semanas. Seria interessante se chegássemos a um acordo de convivência.

—A gente já tem um acordo de convivência. —Retrucou, e eu ergui as sobrancelhas, vendo Hazel morder o lábio para não rir. —Você não flerta comigo e eu não falo mal de você pra professora. Me parece um ótimo acordo.

—Não vejo onde estou sendo beneficiado nisso. —Afirmei, observando Hazel dar outro gole longo na certeza, antes de fazer uma careta e balança um pouco o rosto. —A professora já sabe que sou um desastre. Você falar ou não, não vai mudar nada.

—Ah, meu Deus, Wyatt. Você não tem nada melhor pra fazer? —Hazel soltou outra risada nervosa, erguendo a mão para esfregar a testa. As bochechas estavam mais vermelhas. Mas agora eu tinha certeza que era pelo álcool e não por timidez, apesar de ela parecer super tímida também. —Tem uma festa cheia de gente ao nosso redor. Por que não vai chamar uma dessas garotas super lindas pra dançar? Aposto que elas iam se derreter de felicidade por ganhar sua atenção.

—Estou olhando pra mais bela da noite nesse momento e não desejo qualquer outra. —Sussurrei, vendo os olhos dela se voltarem para os meus. Algo caloroso atravessou o rosto de Hazel, antes de ela umedecer os lábios com a língua e soltar uma risada nasal.

—Você acabou de tirar essa frase das falas do seu personagem da peça? —Questionou, e eu apenas dei de ombros, observando ela abrir um sorriso descrente e balançar a cabeça negativamente. —Juro, você é impossível. Não sei como lidar com isso.

—Eu te deixo nervosa, Hazel? —Me aproximei mais dela, sentindo-a estremecer quando ergueu a cabeça para encarar meus olhos. Havia certa tensão ali, misturada com um brilho de coragem que eu sabia estar vindo da bebida. —Ou você só está com medo?

—E eu teria medo do que, exatamente? —Questionou, empinando o nariz como se quisesse me enfrentar. Não conseguir não sorrir com aquilo, sentindo meu sangue vibrar como se eu estivesse no meio de um jogo, contra meu melhor adversário.

—Você sabe que se começar a passar mais tempo comigo, não vai conseguir fingir que não sente atração por mim. —Ergui a mão e toquei a ponta do queixo dela, da mesma forma que nossos personagens fariam na peça, sentindo-a ficar toda arrepiada, enquanto meu sorriso ficava maior. —E que essa sua aversão a mim é só uma forma de você tentar se proteger do que está sentindo. Mas no fundo eu e você sabemos da verdade, não é?

—Acho que seu ego é grande demais, Wyatt, e isso te faz ver coisas que não existem. —Retrucou, afastando minha mão que estava no seu queixo, dando outro gole longo na cerveja. Pra mim aquilo era o suficiente para me dar certeza de que ela estava super nervosa. —Se você não vai se divertir nessa festa, eu vou.

Ela estendeu a garrafa de cerveja pela metade pra mim, antes de caminhar até onde todo mundo estava dançado. Estava tocando uma música super animada naquele momento e Hazel não hesitou em entrar na onda e começar a dançar como se sua vida dependesse daquilo. Segurei a vontade de dar um gole na cerveja, sabendo que precisaria muito daquilo pra não ir até lá e me juntar com ela.

Deixei a cerveja de lado e me escorei na parece, cruzando os braços na frente do peito enquanto mantinha meus olhos fixos nela. Hazel pulou e se balançou com toda animação do mundo, com o sorriso crescendo nos lábios cada vez que ela parecia ainda mais animada. Apertei meus lábios com força quando ela olhou na minha direção, com as bochechas ainda mais coradas, a respiração parecendo acelerada e o os olhos iluminados.

Engoli em seco ao ver ela dançar, desviando os olhos de mim como se não se importasse. Mas eu sabia que ela só estava fingindo. Ainda sentia a atenção dela em mim. Os movimentos ansiosos porque ela sabia que eu estava a observando. Depois do que pareceu uma vida toda, me afastei da parede e caminhei na direção de Hazel quando outra música começou, dançado de ficar apenas a olhando de longe.

Continua...