Capítulo 8: Se eu tiver sorte.

723 173 38
                                    

Wyatt

Meu pai me encarou com as sobrancelhas erguidas quando entrei em casa, já que eu ainda estava usando o uniforme do treino e nem tinha tido tempo de tomar banho. Mas quando me dei conta do horário, sai correndo sem me preocupar com absolutamente nada. Acho que nunca atravessei o campus tão rápido quanto hoje.

—Os chuveiros do ginásio estavam estragados? —Questionou, e eu soltei uma risada baixa, antes de erguer minha regata até o nariz e fazer uma careta, porque eu estava mesmo precisando de um banho. E puta merda, eu tinha chegado perto de Hazel daquele jeito. Não me surpreende que ela tenha me olhado com aquela cara péssima depois.

—Tive um compromisso e precisei sair correndo do treino. Nem tive tempo de tomar banho. —Falei, deixando minha mochila no chão, antes de ir até a cozinha procurar alguma coisa pra comer. —Onde está todo mundo?

Meu pai não precisou responder, porque minha mãe passou pela porta junto com Taylor e Luca. Mordi a língua ao enfiar um biscoito na boca, me arrependendo de não ter corrido pro quarto antes de eles chegarem. Já bastava o time todo de basquete me enchendo por causa do teatro. Não precisava que Taylor fizesse o mesmo.

—Meu Deus, você caiu dentro do caminhão de lixo? —Taylor fez cara de nojo, passando bem longe de mim enquanto ia pra geladeira. Revirei os olhos, escutando a risada de Luca da sala. Ele nunca escolhia lado, além de rir de todos os irmãos igualmente. Pelo menos ele era justo nisso.

—Adam fica exatamente assim depois dos treinos, sabia? —Retruquei, vendo Taylor soltar uma risadinha e negar com a cabeça, como se minha provocação não desse em nada.

—Pelo menos ele toma banho. —Taylor deu de ombros, correndo para fora da cozinha quando fiz menção de ir até ela e a abraçar. —Você não tinha teste no teatro hoje?

—Isso não é da sua conta. —Soltei, porque me recusava a falar qualquer coisa relacionada a isso com Taylor, sabendo que em algum momento ela usaria contra mim.

—Podem parar de implicar um com o outro? Parecem crianças. —Nossa mãe resmungou, lançando um olhar torto a nos dois. —Wyatt, vá logo tomar banho. Preciso que você e o Luca vão buscar nossas encomendas na confeitaria ainda hoje, porque vamos precisar delas no café amanhã cedo. E Taylor, pare de incomodar seu irmão com a questão do teatro. Não tem nada de errado em ele participar.

—Inclusive, eu tenho um talento surpreendente. —Afirmei, abrindo um sorriso orgulhoso de mim mesmo, porque não estava esperando ser elogiado pela professora, quando a maioria dos professores me detesta. —Deixei quatro professores de artes cênicas de queixo caído.

Taylor me lançou um olhar descrente, enquanto eu fazia uma careta pra ela. Mas minha mãe abriu um sorriso orgulhoso, assim como meu pai, enquanto Luca parecia apenas feliz, como se já esperasse por isso. Depois do que eu ouvi da professora, tinha certeza que ia conseguir o papel principal junto com Hazel. Ela parecia não confiar muito em mim, mas eu ia me esforçar para faze-la mudar de ideia.

[...]

—Você parece animado com a ideia da peça, quando falou disso mais cedo. —Luca comentou, enquanto eu cuidava do transito. Tínhamos pegado o carro assim que sai do banho, ainda com os cabelos molhados, porque nossa mãe parecia com pressa.

—É, na verdade eu estou sim. No início achei que ia ser uma coisa por obrigação, mas percebi que não vai ser tão ruim assim. —Falei, observando meu irmão me lançar um olhar curioso, como se estranhasse meu interesse repentino. Duas aulas parecia muito pouco pra mudar a opinião de alguém, mas eu tinha tido um bônus.

—E isso tem a ver com uma garota? —Questionou, me fazendo torcer os lábios na tentativa de não sorrir, mas foi difícil segurar quando lembrei da minha encenação com Hazel.

—Talvez. —Dei de ombros quando Luca riu, negando com a cabeça. —Não é nada demais, ok? Só uma garota bonita e interessante. Mas ela não vai muito com a minha cara.

—Pouca gente vai com a sua cara. —Retrucou, e eu lancei a ele um olhar ofendido, antes de Luca rir e erguer as mãos como se não tivesse dito por mal. —Ah, não me olha assim. Quem vê você de fora acha que você é um bad boy que não liga pra muita coisa. Eu que te conheço sei que você é só meio tonto e bobo.

—Você está tentando me elogiar ou me ofender? —Questionei, e Luca soltou uma risada mais alta, antes de desviar os olhos de mim e dar de ombros, como se não tivesse certeza. —E você?

—Eu o que? —Retrucou, erguendo as sobrancelhas como se não soubesse do que eu estava perguntando, apesar de eu ter certeza de que ele sabia sim, só era bom em se fingir de lerdo.

—A estrela do hóquei não encontrou nenhuma garota bonita e interessante? —Questionei, vendo meu irmão comprimir os lábios e encarar a rua na nossa frente. —Ou um garoto?

—Taylor queria me arranjar um encontro. —Ele me olhou de relance, parecendo um pouco tenso com a conversa, mas não negou nada. —Mas eu recusei, porque achei que ia ser constrangedor demais minha própria irmã precisando arranjar encontros pra mim. Tipo, o que a garota ia pensar?

—E quem é a garota em questão? —Questionei, e Luca riu, antes de negar com a cabeça, deixando claro que não tinha a intenção de me contar. —Ok, então porque você mesmo não vai falar com ela e chama-la pra sair?

—Não sou bom com isso assim como você. —Afirmou, e eu balancei a cabeça negativamente, porque ele não estava sendo justo.

—Você é melhor nisso do que eu, Luca. É mais fácil eu ofender uma garota tentado flertar com ela do que você. —Falei, sorrindo quando meu irmão soltou uma risada. Mas eu estava sendo sincero e ele sabia disso. —Deveria chamá-la pra sair, sabia? Se está mesmo interessado e não for apenas coisa da Taylor.

—Você não vai chamar a garota do teatro pra sair?

—Não, porque ela não aceitaria. —Apertei meus lábios para não rir, imaginando a reação de Hazel se eu sequer pensasse em chama-la pra sair. Ela era fácil demais de se ler. Suas emoções estavam sempre expostas no seu rosto. Gostava disso, apesar de achar que ela também era boa em mudar de personalidade rapidinho. —Mas não preciso de um encontro. Se eu tiver sorte, vamos precisar passar muito tempo juntos nas próximas semanas.


Continua...

O último ato do jogo / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora