Capítulo 58: Preciso da sua ajuda.

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Wyatt

Abri a porta de casa, fechando-a com o pé antes de jogar minha mochila do lado do sofá e me sentar. Luca estava na cozinha e parou o que estava fazendo para me encarar, parecendo estranhar o meu jeito. Não prestei atenção nele, porque estava estressado demais com tudo que estava acontecendo.

—Fiquei sabendo do que aconteceu. —Luca comentou, saindo da cozinha e vindo se sentar no sofá oposto ao meu. —Elisa me contou. Hazel está bem?

—Sim, na medida do possível. —Dei de ombros, antes de erguer a mão para esfregar meu rosto e depois puxar meus cabelos para trás. —Conheci os pais dela hoje cedo.

—O que? Sério? —Luca pareceu surpreso, e eu confirmei com a cabeça, tentando não demonstrar o quanto isso me pegou desprevenido, porque hesitei antes de bater na porta de Hazel depois de saber que eles estavam lá. Mas não deixaria de vê-la só porque os pais dela estavam naquele quarto também.

—É, a mãe dela é uma fofa e o pai é... —Não soube o que dizer, porque tinha a sensação que o senhor Carson estava entre gostar de mim e querer me matar. Talvez o fato de eu e Hazel não sermos namorados tivesse influencia nisso.

Nem sei porque não a pedi em namoro ainda. Parece bem óbvio pra mim onde nos dois estamos indo com o que está rolando. Eu quero isso e tenho certeza que Hazel também quer. Essa vai ser minha prioridade, depois que eu resolver a questão da peça.

—Ei, o que está rolando? —Luca questionou, se inclinando pra frente e me encarando preocupado, podendo ver a tensão que marcava meu rosto. —Está preocupado com a Hazel ou tem outra coisa?

—Quero sair da peça. Não do teatro, só da peça. Isso era tão importante para a Hazel e eu não quero fazer isso sem ela. —Afirmei, olhando para a expressão compreensiva do meu irmão mais novo. —Só que a professora não foi nada receptiva com o meu pedido. Ela ameaçou falar até com o meu treinador.

—Ah, cara, eu sinto muito. Essa situação é uma merda. —Luca balançou a cabeça, se ajeitando no sofá e parecendo pensar no que eu tinha falado. Fiz o mesmo, porque estava esperando um milagre acontecer. —Tem alguma forma de convencê-la?

—Já pensei em tudo, mas acho que ela seria contra, porque ela não quer perder os dois protagonistas de uma vez só. —Falei, revirando os olhos em irritação, porque ela não fazia ideia de como a gente já tinha perdido tudo sem a Hazel.

—Então você vai ter que se machucar igual a Hazel. —Luca falou, soltando uma risada brincalhona, mas uma luzinha se acendeu na minha cabeça quando eu ouvi aquilo e o encarei, vendo a expressão de Luca se tornar uma careta. —O que foi? Eu estava brincando.

—Eu sei, mas pensei em outra coisa. —Soltei, abrindo um sorriso quando uma ideia começou a surgir na minha cabeça. Eu normalmente não tinha ideias ruins, mas aquela claramente era muito, muito ruim. Só que ela daria certo se eu tivesse ajuda. E eu sabia quem era a única pessoa que me ajudaria naquilo, por mais maluco que aquilo soasse na minha cabeça.

—Você está com aquela cara. —Luca murmurou, e eu o olhei com uma das sobrancelhas erguidas, porque não tinha o entendido. —Aquela cara que você faz quando vai bater em alguém.

—Eu realmente vou. —Abri um sorrisinho quando Luca pareceu incrédulo. —Obrigado pela ajuda. Tenho que ir.

Já tinha ficado de pé e disparado até a porta quando Luca me chamou. Mas ele iria querer explicações e eu não poderia dar nenhuma a ele no momento. Precisava resolver aquilo antes que fosse tarde demais. Então sai de casa e peguei o carro, com um sorriso muito idiota no rosto, porque eu ia fazer uma merda bem grande.

[...]

O campo de beisebol da universidade estava quieto, exceto pelos jogadores treinando lá dentro, sobre os berros do treinador estressado. Fiz uma careta, chutando a neve no chão, antes de subir os degraus da arquibancada e encontrar um lugar para me sentar.

Esfreguei minhas mãos frias, soltando um suspiro pesado quando olhei ao redor, até encontrar quem eu estava procurando. Caleb Carson estava parado no meio do campo com uma expressão entediada, segurando o taco de beisebol sobre o ombro. O uniforme sujo de terra e os cabelos bagunçados ao redor do boné.

Ele não viu que eu estava ali, porque parecia focado demais no treino. Fiquei lá até o treino deles terminar, com os olhos grudados em Caleb o tempo todo. Ele caminhou para fora do campo com os ombros tensos, ouvindo o que o treinador dizia a ele depois de o encontrar no meio do caminho. Pela cara do treinador, não estava sendo uma conversa muito agradável.

Desviei os olhos quando senti uma pontada amarga na minha garganta, porque entendia muito bem como aquilo era. Já tinha tido conversas desagradáveis o suficiente com o meu treinador. Era um saco o fato de eles estarem o tempo todo em cima da gente, exigindo uma perfeição absoluta.

Caleb se despediu dele e caminhou atrás dos outros colegas de time, finalmente erguendo a cabeça e vendo que estava sendo observado. Acenei com a cabeça pra ele, batucando os pés no chão de leve. Caleb hesitou, olhando pra mim com uma expressão impassível, antes de acenar de volta com a cabeça.

Acho que ele não precisou de muito pra perceber que eu estava ali por causa dele. Caleb seguiu os colegas para o vestiário e eu permaneci sentado naquelas arquibancadas, sentindo o frio congelar meus ossos. Quando ele apareceu de novo, meia hora depois, não consegui evitar torcer os lábios em frustração.

—Tenho a sensação que você demorou mais do que o necessário esperando não me encontrar aqui quando saísse. —Comentei, assim que ele subiu na arquibancada e parou ao meu lado, ainda de pé. A mochila jogada sobre o ombro e o rosto exibindo cansaço.

—Sim, e você fez o favor de me decepcionar. —Caleb retrucou, e eu soltei uma risada baixa, negando com a cabeça. —Eu tenho certeza que meu rostinho bonito é a última coisa que você gostaria de ver, então você deve estar aqui por um motivo muito importante.

—Estou aqui pela sua irmã. —Falei, e Caleb passou a mão pelos cabelos úmidos, sem demonstrar qualquer surpresa. —Na verdade, eu estou aqui mais por mim do que por ela. —Dessa vez eu o surpreendi, porque Caleb franziu a testa e me olhou como se eu fosse muito estranho. —Preciso da sua ajuda.


Continua...

O último ato do jogo / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora