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VALLIE

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VALLIE

A brisa gelada da noite faz meu corpo tremer, o frio é cortante, mas não sei dizer se é o vento ou a lembrança vívida da lâmina que minha mãe apontou para mim minutos atrás. Aquela imagem retorna à minha mente a cada passo que dou, uma prova do seu ódio escondido.

Aperto os punhos e sinto as lágrimas queimando meu rosto, mas tento ignorar. A dor, porém, não cessa. Cada passo que dou me leva mais longe de casa, mas a realidade me alcança como um golpe cruel. Eu não tenho para onde ir. E o que ela disse sobre Kiara... Ela realmente a matou? Não consigo parar de chorar.

Corro pela estrada escura, meus pés descalços esmagando folhas úmidas, e o frio da noite mordendo cada centímetro da minha pele. Não posso parar, mesmo com o cansaço ameaçando derrubar meu corpo no chão. Mas a lembrança do olhar da minha própria mãe contra mim, me empurra adiante, mais rápido, sem me importar com o destino.

O que fiz para ela me odiar tanto? Esse pensamento ecoa, pesado, sufocante. Nunca imaginei que alguém que deveria me proteger, pudesse me desprezar com tanto fervor.

Meus olhos ardem, mas eu seguro as lágrimas. Não quero dar a ela essa satisfação, nem mesmo na minha mente. Mas eu corro e corro, e o cansaço começa a me consumir, até perceber que deixei meu celular para trás. Sinto o estômago afundar. Estou sozinha. Tão longe que nem sei dizer onde estou, e sem ele, sem nada que me conecte a alguém, estou perdida. Dean não sabe o que aconteceu, não sabe que agora ele é a única pessoa que tenho.

Será que ele sentiu que alguma coisa estava errada? Tento imaginar se ele ainda está por aí, ou se já voltou para casa, achando que estava tudo bem. O pensamento dele  me procurando, traz um lampejo de alívio no meio da escuridão sufocante.

Minhas pernas queimam, cada músculo em chamas por causa da corrida desenfreada. Paro por um segundo, tentando recuperar o fôlego, com o ar entrando pesado nos meus pulmões. Sinto o suor escorrendo pela coluna, gelado, me lembrando do quanto estou exposta. Não quero voltar para casa, mas não posso ficar aqui no meio da estrada, esperando que alguém apareça, alguém que possa me ajudar. Ou talvez que Dean passe por aqui.

Me aproximo de uma árvore e me encolho atrás dela, na esperança de que, se alguém vier, eu consiga pedir uma carona. Não é seguro, eu sei. Mas é minha única chance. E se for Dean… Meu peito aperta com a esperança de que ele venha por aqui, que me encontre e me tire deste pesadelo.

Encostada na árvore, sinto o frio se infiltrando em minha pele, e a dúvida começa a corroer minha coragem. Talvez seja melhor me aventurar pela floresta, onde ele certamente me acharia. Dean sempre me encontra, sempre sabe onde estou, porque sou seu pequeno coelho. Ele me acha mesmo quando estou perdida. Penso em entrar por entre as árvores escuras, em me perder até ser só uma sombra.

Mas, então, o barulho de um motor corta o silêncio da estrada, e minha esperança reacende, quente e urgente. Saio um pouco de trás da árvore, com o coração acelerado, observando o carro que se aproxima. Quem sabe eu consiga uma carona? Talvez eu consiga dormir na casa da Every, pelo menos por essa noite, longe de tudo, longe da minha mãe e ligar para Dean me pegar pela manhã. Eu preciso contar tudo a ele pessoalmente.

Mas conforme as luzes dos faróis se aproximam, percebo que o carro vem do lado oposto, da direção da minha casa. Meu peito aperta com um nó de ansiedade. Quem estaria vindo de lá a essa hora? E se… não. Não posso pensar nisso. Tento me convencer de que não é ela, de que não é possível que ela continua me seguindo depois de todo esse tempo.

O carro se aproxima, e meu coração dispara ainda mais rápido. Tento decifrar as linhas do veículo à medida que ele se aproxima, mas não o reconheço, a cor e o modelo não são os dela. Mas o medo ainda me atravessa. E se for algum conhecido dela? Ou alguém que ela mandou atrás de mim? Não posso arriscar.

Sem pensar duas vezes, corro de volta para a estrada, sentindo a adrenalina pulsando em minhas veias, e o terror me impulsionando para frente, mais rápido do que eu sabia ser possível. A cada passo, minhas pernas protestam, o ardor subindo pelas coxas e pelo peito, mas não posso parar. O suor escorre pelas minhas costas, e o ar frio da noite queima meus pulmões, mas tudo que sinto é o medo de ser pega, de voltar para aquela casa e ter que encarar o ódio no rosto da minha mãe.

Ela sempre me odiou. A certeza disso é um tiro certo no meu crânio. Sou um erro para Lily Simmons. Sempre fui.

Não darei a chance dela me apagar da sua história.

As luzes do carro já estão perto demais, e eu sei que, se olhar para trás, vou congelar. Então, mantenho os olhos fixos na escuridão à minha frente, esperando que ela me engula, que me esconda antes que eu seja vista.

Os faróis se apagam de repente, e o motor silencia. Meu coração salta e, por um instante, a curiosidade me vence. Desacelero, olhando para trás, tentando entender o que está acontecendo. Mas antes que eu possa reagir, o carro avança sem aviso, e sinto o impacto brutal nas costas, o ar sendo arrancado dos meus pulmões. Meu corpo é jogado para frente e o mundo se transforma em uma confusão de luzes e sombras, até que eu atinjo o chão e rolo, sem controle, com a gravidade me arrastando numa queda infinita.

Minha cabeça atinge algo duro, e uma dor cortante explode pela minha mente, cada pensamento abafado por um zumbido ensurdecedor. Meus dedos, trêmulos, tocam a nuca, e sinto um líquido espesso e quente entre os fios do meu cabelo. Sinto o cheiro metálico e sei o que é, mesmo sem ver. O mundo ao meu redor se desfaz em manchas, e minha visão fica turva, mas consigo ver alguém descendo do carro.

Tudo o que vejo são pernas femininas e botas, coturno de bico fino, e antes que eu possa entender o que está acontecendo, ela se aproxima e se agacha. A voz vem suave, quase sussurrada, mas carregada de um sarcasmo venenoso que corta mais fundo do que qualquer dor física.

—Eu te avisei que isso aconteceria.

O rosto dela se dissolve no escuro, e meu corpo cede, afundando no vazio da inconsciência.

*****

Este é um capítulo curto, apenas a continuação do anterior. Um pequeno agrado para as minhas lindas leitoras e leitores ( ❤️)

Estou tão ansiosa para compartilhar os próximos capítulos, algumas de vocês vão surtar comigo!!! ( Não vejo a hora)

Beijinhos de algodão doce 🤪😘

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