VICE

33

VALLIE

Eu continuei correndo pela floresta, sentindo o ar gelado chicotear meu rosto, mas não o suficiente para acalmar o turbilhão de emoções que fervilhava dentro de mim. A escuridão ao meu redor se fechava, sufocante, enquanto eu tentava me afastar da confusão, da dor e de Dean. Mas seus passos, firmes e incansáveis, ecoavam atrás de mim. Eu sabia que ele não desistiria. Ele nunca desistia.

— Vallie, para! — A voz dele era uma mistura de raiva e súplica, tão familiar quanto o próprio vento. — Não adianta correr de mim. Você sabe que eu vou te encontrar. Pare de fugir, porra!

Eu continuei correndo, ignorando o aviso, o apelo em seu tom. Minhas pernas doíam, meu coração batia rápido, mas era o peso da verdade que me esmagava. A revelação sobre meu irmão, sobre o acidente, me corroía por dentro. Eu sempre desconfiei que havia algo errado na morte dele, mas nunca imaginei que fosse algo assim. Porém, não é só isso. Há mais. Sempre havia mais com Dean.

De repente, senti uma mão forte agarrar meu braço, me puxando para trás com uma força que fez meu corpo girar. Me vi presa contra o tronco de uma árvore, o olhar selvagem de Dean pairando sobre mim, seus olhos queimando como brasas na escuridão. Seus dedos estavam apertados ao redor do meu pulso, mas eu não estava com medo. Não de verdade.

— Me solta! — Eu tentei me soltar, mas ele não cedeu. Seus lábios estavam apertados, os olhos escurecidos por uma mistura de emoções que eu não conseguia ler completamente. Raiva e medo?

— Não até você me ouvir! — Ele rosnou, a proximidade entre nós fazendo minha respiração acelerar.

— Eu já ouvi o suficiente. — Gritei, tentando empurrá-lo, mas ele era mais forte. Sempre foi.

— Você não sabe de tudo, meu pequeno coelho. — Sua voz ficou mais baixa, quase um sussurro sombrio, e ele me puxou para mais perto, como se o contato entre nós fosse a única coisa que o mantinha inteiro. — Eu precisava te contar. Eu precisava que você soubesse o que aconteceu, mas... não assim.

Eu olhei para ele, sentindo as lágrimas se acumularem nos meus olhos. O peso de tudo era demais, e eu não sabia se ainda podia carregar isso.

— Eu lamento pelo meu irmãozinho. — Minha voz falhou, mas eu continuei. — Mais do que você imagina. Não por ele apenas... mas por mim. Por não ter tido a chance de conhecê-lo. De amá-lo. — Minhas palavras se quebraram no final, e eu vi algo mudar no rosto de Dean. Uma sombra, talvez de arrependimento, ou de algo ainda mais profundo.

Ele soltou um suspiro pesado, e por um momento, sua mão relaxou no meu pulso. Mas logo, sua outra mão se moveu, agarrando minha cintura e me puxando para ele com uma força quase possessiva.

— Eu sei, baby. Eu lamento com todo o meu ser.

— Mas eu odeio que você tenha cedido e casado com ela. — digo, sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto uma atrás da outra.