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VALLIE

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VALLIE

O silêncio entre nós era ensurdecedor, como se o próprio vento tivesse parado para nos ouvir. Eu olhava para ele, esperando, mas Dean parecia distante, preso em algum lugar entre a culpa e o orgulho. Por um instante, ele parecia que ia desmoronar. Mas eu precisava de mais do que um vislumbre da vulnerabilidade dele. Eu precisava de respostas. Da verdade.

— Você me ama, Dean? — As palavras escaparam antes que eu pudesse segurá-las, e no instante em que saíram, o ar ao nosso redor pareceu congelar.

O olhar dele se fixou no meu, mas ele não respondeu de imediato. E foi nesse segundo de hesitação que meu coração começou a rachar.

Ele sempre foi rápido com as palavras, sempre sabia o que dizer para me desarmar, para me fazer esquecer qualquer dúvida. Mas agora... agora ele hesitava. E essa hesitação era pior do que qualquer mentira que ele pudesse ter dito.

— Vallie... — Ele começou, a voz mais baixa do que o habitual, quase como se estivesse falando consigo mesmo. — Eu... nunca disse "eu te amo" para ninguém.

Eu senti uma pontada no peito. Como assim? Como poderia ser verdade? Ele tinha sido casado com Lily. Eles tinham uma história. E ainda assim...

— Nem mesmo para ela? — Eu perguntei, a voz mais fraca do que queria que fosse.

Ele balançou a cabeça, e eu vi a dor cruzar seu rosto, como se estivesse revivendo algo muito antigo.

— Nem para ela. Nem para ninguém... — Ele respirou fundo e desviou o olhar, como se fosse difícil continuar. — A única vez que eu disse isso foi para meu irmão. Uma única vez. No dia em que ele morreu.

Aquilo me atingiu como um golpe. O irmão dele, o gêmeo que ele nunca mencionava. Eu sabia que havia uma história ali, algo sombrio, mas ele nunca quis me contar os detalhes. E agora, aqui estávamos, no meio da floresta, e ele me confessava que a única pessoa que ele havia amado era alguém que perdeu. Uma perda que eu nunca poderia reparar.

— Dean, por que você nunca me disse isso antes? — Perguntei, sentindo as lágrimas começarem a encher meus olhos. Eu queria entender. Precisava entender.

Ele passou a mão pelo rosto, como se quisesse afastar os próprios fantasmas, mas eles estavam ali, presos em seu silêncio e na dor que ele carregava.

— Porque... eu não sei o que é amar, Vallie. — Ele admitiu, os ombros caídos, a voz rouca. — Eu não sei como é. Depois que meu irmão morreu, eu me fechei. Ele era a única da família que se importava comigo, mesmo que fôssemos opostos. Quando ele morreu, comecei a fazer tudo errado. Eu... eu achei que se eu nunca parasse em casa, não lembraria que eu estava sozinha, mas a rotina acabou me destruindo. Eu não quero te machucar dizendo as palavras erradas. Eu só não sei identificar o amor.

Ele parou de novo, as palavras presas na garganta, e meu coração apertou ainda mais.

— Mas então por que você casou, Dean? — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Por que você se casou com minha mãe?  Se você não a ama, se você não sente... por quê?

Ele ficou em silêncio por um momento, como se a pergunta o tivesse paralisado. E então, lentamente, ele deixou o ar sair de seus pulmões, como se estivesse carregando o peso da resposta há muito tempo.

— Culpa. — Ele finalmente disse, as palavras cruas e amargas.

— Culpa? — Eu mal conseguia processar. — Culpa de quê?

Ele me olhou, os olhos escuros brilhando na luz fraca da lua. Havia algo ali, algo que ele não queria dizer, mas que estava prestes a explodir.

— Foi meu amigo que matou seu irmão, Vallie. Sinto muito. — Ele disse, a voz baixa, quase inaudível. — Eu estava lá naquela noite. Ele estava dirigindo o carro mesmo sendo o mais bêbado do grupo . Nós estávamos juntos, e eu não fiz nada para impedir.

— O quê?

O mundo ao meu redor parecia girar enquanto as palavras dele afundavam em minha mente. Um acidente. Meu irmãozinho. E Dean... Dean estava lá.

— Estávamos voltando de uma festa, nenhum de nós estava sóbrio o suficiente para dirigir, mas eu ainda podia distinguir os sinais de trânsito e ainda assim, fiquei no banco do carona.

— Você se casou com minha mãe por culpa e ela aceitou?— Minha voz tremeu, quase um sussurro. — Porque você achou que devia alguma coisa a ela, tentou consertar casando com ela?

Ele não respondeu, mas o silêncio dele me disse tudo.

Meu corpo inteiro começou a tremer, e eu dei um passo para trás, como se precisasse de distância para respirar. Toda a minha vida ao lado dele parecia desmoronar em frente aos meus olhos, e eu não sabia mais em quem acreditar. Não sabia mais o que era real.

— E eu? — Perguntei, sem conseguir conter o desespero na minha voz. — O que eu sou para você, Dean? Se você se casou com ela por culpa, por pena... o que eu sou? A garota que você usa para esquecer?

Ele deu um passo à frente, a expressão desesperada.

— Não! Vallie, você não entende... eu nunca quis te machucar. O que aconteceu com Lily, o que aconteceu com o filho dela, seu irmão. Tudo foi um erro terrível, e eu tentei consertar. Mas você nunca fez parte dessa equação. — confessou, dando um passo inseguro na minha direção.

Mas eu já não sabia se podia acreditar. A verdade sobre o passado dele estava se revelando em pedaços, e cada pedaço era mais afiado que o outro. Como eu poderia confiar no que ele dizia agora? Meu irmãozinho morreu por culpa de um babaca irresistível e ele sempre soube disso. Lily sabia disso.

— Eu não sou uma substituta, Dean. Eu não sou alguém para você consertar seus erros. — Minha voz estava carregada de dor. — Eu achei que você me via de forma diferente. Mas agora... agora eu vejo que talvez eu nunca tenha sido suficiente.

Ele tentou me alcançar, mas eu recuei.

— Vallie, não... por favor. — Ele parecia desesperado, mas eu já não sabia o que era desespero genuíno e o que era culpa falando por ele.

— Eu preciso de tempo, Dean. — Minha voz finalmente encontrou a força que eu vinha segurando. — Eu não posso continuar sem saber que posição ocupo na sua vida.

E com essas palavras, me virei e corri de volta para a escuridão da floresta. As lágrimas corriam pelo meu rosto, e a única coisa que eu sabia com certeza era que eu precisava me afastar dele antes que tudo desmoronasse de vez.












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