DEANAcordo com a sensação morna do corpo dela ao meu lado, e, por um instante, tudo parece certo. Vallie respira suavemente, a cabeça repousando no meu ombro, e o rosto dela tem aquela expressão tranquila que só vejo quando está completamente entregue. O calor dos lençóis, o perfume dela, tudo me enche de uma paz que eu sei que não posso me permitir sentir agora. Ela merece dormir um pouco mais, então deslizo cuidadosamente para fora da cama, dou um beijo leve em sua bochecha e deixo o quarto com a porta entreaberta.
No quarto de hóspedes, ligo o chuveiro e deixo a água correr por mais tempo do que o necessário, como se pudesse lavar as últimas semanas tortuosas. Termino o banho e, enquanto seco o rosto, encaro meu reflexo. Coloco um terno, me ajeitando com o tipo de precisão que só o hábito traz. Hoje vou para o laboratório. Não posso continuar me escondendo.
Desço as escadas e encontro Lily na mesa, tomando café da manhã sozinha. A expressão dela é algo entre desinteresse e irritação mal contida, mas ainda assim, ela sorri ao me ver. É um sorriso ensaiado, como o de quem precisa manter uma máscara no lugar. Não posso negar que o desconforto me atinge, alguma coisa não está certa. Será que ela entrou no quarto de Vallie durante a noite? Eu sei que não tranquei a porta… mas, a essa hora, Vallie ainda deveria estar apagada. O calmante foi forte o suficiente para ela dormir até o meio-dia, pelo menos.
Entro no jogo de Lily e sorrio de volta, fingindo que nada aconteceu. Sento-me à mesa e faço um esforço para parecer descontraído.
— E então, como foi a sua noite? — pergunto, casualmente. — Descansou o suficiente?
Algo brilha nos olhos dela por um segundo, algo que é impossível de decifrar, mas o sorriso permanece.
— Dormi feito uma pedra, mas não vi você no quarto. — Ela murmura, em um tom baixo e quase irônico.
Meu corpo fica tenso, mas mantenho o sorriso, controlando a expressão.
— Dormi no quarto de hóspedes.— respondo, tentando soar natural. — Tenho feito isso há um tempo. Você sabe.
Ela não reage de imediato, apenas mantém o sorriso e continua a me oferecer comida, enchendo a mesa com mais opções do que o necessário. O que me surpreende, porém, é vê-la realmente comendo. Desde que fez a cirurgia de redução de peso, Lily seguia a dieta rigidamente, como se a aparência fosse tudo que lhe importava. Hoje, no entanto, está devorando o café da manhã como se não tivesse mais nenhuma restrição.
Eu não comento, mas guardo a estranheza em mente. Lily vinha sendo meticulosa com sua alimentação, rígida até o limite da obsessão com sua imagem, então essa mudança repentina me deixa alerta. Será que isso faz parte do jogo dela? Olho para ela, tentando avaliar o que realmente está se passando em sua mente, mas antes que eu possa formular qualquer pergunta, decido ir para outro caminho.
— Vou ao laboratório com você hoje — digo, em tom neutro.
Por um segundo, ela me encara, e vejo algo próximo ao desconforto cruzar o rosto dela, mas logo volta a sorrir, como se tivesse aceitado a ideia. Nesse momento, escuto passos descendo a escada, e sinto meu corpo enrijecer. Vallie aparece, e a lembrança da noite passada se apodera de mim como uma onda, me deixando tenso. Ela ainda é o segredo que preciso esconder, o desejo que preciso suprimir por agora.
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VICE
RandomPadrasto. (+18) Vice= Vício. Vallie Simmons sente que Dean Lawrence é perigoso, mas não consegue resistir à paixão avassaladora. Ela terá que escolher entre a lealdade à sua mãe e o amor proibido por seu padrasto, que pode custar a sua vida.