VALLIE
O frio da floresta parecia cortar minha pele, mas minha mente estava em chamas, cheia de lembranças que se desenrolavam como um pesadelo lento. Eu sentia Dean ao meu lado, observando cada movimento meu, mas as imagens na minha mente me deixavam incapaz de processar sua presença. A cada segundo, um fragmento do passado despontava, girando e se remexendo em minha mente, e minha cabeça latejava.
— Dean… — comecei, mas minha voz soava distante, como se eu falasse de dentro de um sonho. Ele se virou para mim, atento. — Eu… acho que estou lembrando. Mas tudo é… é como se estivesse borrado.
— Não precisa se forçar, linda. Respire comigo. — ele disse suavemente, mas meu peito parecia carregado demais para parar agora.
As lembranças vinham e iam como uma brisa gelada. Algumas partes nítidas, outras quase distantes demais para tocar. Eu enxerguei a casa, vi a expressão dura da minha mãe, o olhar que ela me lançara naquele dia… como se eu fosse algo que ela precisava esmagar.
— Eu estava… na sala… e a minha mãe… — minha voz tremeu. Aquele olhar, tão estranho e cortante. — Ela disse coisas horríveis.
— Vallie. — Dean sussurrou meu nome, mas eu continuei, sentindo a pressão no meu peito aumentar.
— Ela… me ameaçou, Dean. — A confusão deu lugar a uma ponta de clareza amarga. — Ela pegou uma faca e… eu não tive escolha, tive que correr. — Senti uma lágrima quente escorrer pelo meu rosto enquanto encarava o chão. As memórias pareciam deslizantes, mas certas. — Eu corri pra longe dela… para a floresta, desesperada. Precisava encontrar ajuda.
Ele se moveu mais próximo, quase tocando meu braço, mas hesitou, como se soubesse que eu estava atravessando sozinha um labirinto sombrio do passado.
— Fui para a estrada… eu achei que lá… — minha voz fraquejou. — Droga! Tudo está confuso.
— Querida, por favor, não se esforce tanto.
— Ela estava atrás de mim, então eu corri o mais rápido que pude. Achei que estaria segura se me escondesse. Mas quando cheguei lá, ouvi um barulho de motor, pensei que pudesse ser você...— minha respiração ficou presa. O que eu estava prestes a dizer era a peça final, o peso insuportável. Olhei para Dean, e o vi rígido, como se esperasse o golpe final.
— Eu… eu lembro quem estava dirigindo o carro — sussurrei, e uma pontada de dor se espalhou por meu peito. Dean ficou tenso, uma inquietação em seus olhos. — Era ela, Dean. Minha mãe… ela estava lá. Ela… ela tentou me matar.
A palavra final saiu num soluço, e naquele momento, como se as barragens se rompessem, eu desabei, tremendo e soluçando. Dean imediatamente me puxou para ele, seus braços ao redor de mim firmes e fortes. Ele sussurrava palavras de conforto, talvez promessas de que eu estava segura agora. Fechei os olhos, enroscando-me nele, tentando encontrar alguma segurança, alguma âncora.
Ele passava a mão pelos meus cabelos, me segurava como se pudesse me proteger de todas as dores do mundo.
Minhas mãos se agarraram à camisa dele, e chorei contra seu peito, o cheiro dele misturando-se com o aroma úmido da floresta ao nosso redor. Eu o segurava como se fosse a única coisa sólida em um mundo de mentiras e perigos.
— Por quê? — minha voz saiu rouca, quase inaudível. — Por que ela me odeia tanto, Dean? O que eu fiz para ela?
Ele se manteve em silêncio, os braços firmes ao meu redor, e eu pude sentir seu corpo tenso contra o meu.
— Ela sabe sobre nós, Dean — murmurei, com os dedos apertando ainda mais o tecido sob eles. Então eu lembrei das nossas últimas conversas e de como ela estava disposta a me mandar embora de casa.— Ela sabe e finge que não sabe. Finge que nada está acontecendo, mas eu vejo o jeito que me olha. Ela ainda quer acabar comigo.
Dean apertou o abraço, e mesmo que estivesse em choque, desesperado com tudo o que eu havia dito, ele não se afastou. Eu sentia seu peito subir e descer pesadamente, como se ele buscasse ar, como se quisesse encontrar palavras para algo que não tinha explicação.
— Eu sinto muito, Vallie… — ele sussurrou, a voz quebrada. — Sinto muito por não ter chegado a tempo naquele dia… eu deveria estar lá para você. Porra! Eu vou matá-la por fazer isso com você, coelhinha. Sinto muito, amor. Sinto muito...
— Ela está fingindo, Dean. — Minha voz era um fio trêmulo, e o desespero queimava em meu peito. — Ela finge que não sabe sobre a gente, mas ela sabe.
— Shiiii... Calma, amor. Estou aqui.
Olhei para ele, buscando uma certeza que só ele podia me dar. Havia uma dúvida crescente dentro de mim, uma pergunta que me corroía e eu não podia mais ignorar.
— Você acredita em mim?Eu sei que tudo o que estou falando é horrível, mas é verdade. Não estou inventando isso, Dean.
Ao ver o silêncio dele, tentei me afastar, como se a distância pudesse me proteger do que eu temia ouvir. Mas Dean me puxou para ele novamente, os braços envolvendo-me com tanta força que eu sentia como se ele estivesse tentando ancorar-me ao seu lado.
— Dean? — perguntei, a voz um pouco mais forte, mas carregada de incerteza.
Ele me segurou ainda mais firme, me olhando de frente, seus olhos intensos, quase desesperados.
Minha boca estava seca.
— Não me afasta, baby. — ele rosnou, beijando meu rosto. —Eu estou com você. Eu nunca vou deixar você sozinha, nunca. Vou te proteger, prometo.
— Mas você acredita em mim, não é?
— Ah, querida, eu nunca duvidaria de você . — ele suspirou e beijou minha cabeça. — Sim, eu acredito.
Eu me aninhei mais nos braços dele, tentando encontrar alguma paz no calor e na segurança que ele me dava. Mas a ideia de voltar para casa, de encarar minha mãe, me fazia estremecer.
— Dean… a gente não pode voltar — sussurrei, a voz embargada. — Eu… eu não posso olhar pra ela de novo. Não depois disso.
Ele suspirou, e eu podia sentir a tensão em seu corpo, mas ele não me soltou.
— Ei, amor. Eu entendo — começou, sua voz firme mas carregada de algo que parecia culpa. — Mas a gente precisa voltar.
— O quê?! Não! Eu não vou voltar, não podemos. Ela vai continuar fingindo que nada aconteceu. Fingindo que não sabe sobre a gente, fingindo que… não tentou me matar e eu não posso lidar com isso.
Ele agarrou o meu queixo, o polegar acariciando minha pele de um jeito que me acalmava.
— Eu sei que você não quer voltar lá, mas precisa confiar em mim, ok? — Sua voz era grave, decidida.
— E se ela tentar de novo? — Minha voz saiu quase em um sussurro. — E se ela me machucar ou machucar você?
Dean segurou meu rosto entre as mãos, seus olhos fixos nos meus, como se ele pudesse ler cada pensamento confuso que passava por mim.
— Eu não vou deixar isso acontecer — prometeu, a voz quase como um sussurro. — Eu juro, coelhinha. Ela não vai mais te machucar. Não enquanto eu estiver aqui.
Fechei os olhos, tentando absorver o máximo de segurança que ele conseguia me oferecer, porque, no fundo, sabia que precisaria de toda a força para o que estava por vir.
— Por que você não quer ir embora, Dean? Por que insiste tanto que a gente volte? Por favor , me conta a verdade.Você criou sentimentos por ela? — Minha voz saiu mais afiada do que eu pretendia, um reflexo da mistura de medo e frustração que queimava em mim.
Dean abaixou a cabeça, e um peso sombrio passou por seu olhar quando ele finalmente me olhou de volta. Havia algo um tipo de tristeza que me fez prender a respiração.
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VICE
RandomPadrasto. (+18) Vice= Vício. Vallie Simmons sente que Dean Lawrence é perigoso, mas não consegue resistir à paixão avassaladora. Ela terá que escolher entre a lealdade à sua mãe e o amor proibido por seu padrasto, que pode custar a sua vida.