Mystic Falls, Virgínia - 2010
O som do despertador rasgava a quietude da manhã, pontual como sempre, marcando exatamente cinco horas. O ponteiro implacável do tempo parecia não se importar com o quanto as noites de Amélia haviam sido perturbadas. O mesmo sonho insistia em voltar, noite após noite, se agarrando à sua mente e roubando seu descanso.
Ela suspirou e olhou para o relógio sobre a mesa de cabeceira. Com um movimento preguiçoso, desligou o barulho e se sentou, alongando o corpo até sentir os ossos estalarem. Mas a verdade era que já estava acordada há horas; o sono a evitava. O pesadelo a envolvia assim que fechava os olhos.
No sonho, o cenário sempre era o mesmo: um lugar sombrio, coberto por uma névoa espessa, onde um rio de sangue fluía aos pés de um homem misterioso. Ele estava de costas, usando um terno que lembrava os trajes elegantes de seu pai. Ela nunca conseguia ver seu rosto... até a noite passada.
Na última vez, ele se virou por um instante e, como se a esperasse, sorriu. Havia algo intensamente perigoso e, ao mesmo tempo, inegavelmente fascinante em sua expressão. Ele era lindo, o tipo de beleza perturbadora que parecia desafiar a razão. Aos dezessete anos, ela nunca havia visto ninguém assim.
Era como um alerta para fugir, uma presença envolta em sombras e segredos. Mas, como que presa por um feitiço, ela permanecia ali, fascinada.
Ainda sentada na cama, ela sentiu o peso da manhã e do sonho que não deixava sua mente. O caminho até a penteadeira parecia se estender, como se os últimos vestígios do sono ainda a prendessem. Era o primeiro dia do segundo ano do ensino médio, e ela precisava estar apresentável, especialmente depois do verão. Os roxos sob seus olhos e o cabelo completamente desarrumado exigiam atenção imediata.
Ela e Tyler tinham passado as férias com o tio na Flórida. Ele os levara para trilhas e acampamentos, mas agora o retorno à rotina era inevitável.
Amélia estava ansiosa para ver seus amigos, especialmente Elena, que não via desde a morte dos pais dela. Tyler insistia que ela deveria dar espaço para Elena processar tudo, mas seu coração dizia que uma amiga verdadeira não ficaria de braços cruzados.
Estava perdida nesses pensamentos quando ouviu a voz familiar.
— Se você aparecer na escola com essa cara, vai assustar todo mundo — Tyler zombou, encostado na porta com aquele sorriso irritante.
— Idiota — ela revirou os olhos e, sem pensar, arremessou a escova de cabelo na direção dele, que se esquivou com facilidade.
— Estou aqui para avisar que sou sua carona hoje, então vê se não demora. — Ele riu, abaixando-se para pegar a escova.
— Querido, para ficar incrível, preciso de tempo. Olha essas olheiras e esse cabelo! Não posso sair assim. E se eu encontrar o amor da minha vida hoje? — ela provocou, pegando a escova da mão dele.
— Primeiro, eu fico apenas com "bonita", contanto que isso não me atrase. Segundo, você não vai encontrar o amor da sua vida numa escola de ensino médio na cidade mais chata do planeta. — Tyler arqueou a sobrancelha, os braços cruzados com aquele ar de superioridade.
— Você é que é chato. Agora sai daqui! Te encontro lá embaixo.
— Às vezes, nem acredito que somos gêmeos — ele provocou, bagunçando o cabelo dela antes de escapar da escova que ela arremessou novamente.
— Devia ter te deixado na Flórida! — ela gritou, rindo, enquanto ele desaparecia no corredor. Em seguida, ela foi até a porta, trancou-a e voltou-se ao espelho.

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Lua de Sangue
Fiksi PenggemarAmélia Lockwood sempre viveu uma vida normal em Mystic Falls ao lado de seu irmão gêmeo, Tyler. Inteligente e de língua afiada, ela nunca se envolveu com o que não podia explicar, até começar a ter sonhos sombrios e perturbadores: um homem de terno...