Leah
Sem conseguir pegar no sono, peguei meu computador, pensando em terminar um trabalho de literatura, mas logo me distrai com um barulho que vinha da janela.
Me levantei, assustada, e a fechei, me certificando de que estava trancada. Droga, eu estava ficando paranóica. Marcus estava em outra cidade, à centenas de quilômetros de mim. Ele não ia me encontrar, e eu precisava garantir a mim mesma, antes que tivesse uma crise de nervos. Eu precisava tentar ficar calma.
Entrei no site para os alunos da escola, tentando me distrair, e vi um evento para o qual fora convidada pelo garoto das arquibancadas.
Era um dos shows da Andrômeda, a banda daqueles garotos. De Mick. Eu não sabia exatamente que tipo de música eles tocavam, mas suspeitava que fosse algo como metal. Ou música alternativa. Com certeza não seria pop chiclete.
Porque Tray - descobri ser esse o nome do garoto com o cabelo parcialmente raspado e colorido, clicando no link - havia me enviado aquilo?
Me lembrei de seu comentário nas arquibancadas. Na verdade, eu não me importava com a opinião dele - de nenhum deles, mas havia ficado um pouco irritada com o que Mick dissera. Qual era o problema daquele garoto? E porque eu estava novamente pensando naquilo?
Talvez, pensei, tivesse algo a ver com a noite anterior. Eu nunca havia ficado bêbada, e aquela fora uma experiência estranha. Eu me lembrava de tudo o que havia acontecido - de estar no bar, conversar e dançar com Mick, beber até cair várias vezes no chão sujo, esperar o táxi em seu carro. Mas algumas coisas pareciam nubladas. Como eu havia chegado até a pista de dança, por exemplo? Nós realmente havíamos bebido tudo aquilo que ele comprara? A julgar por minha cabeça, que não parava de latejar, e pela tontura que eu sentira pela manhã, sim.
Antes que eu mudasse de ideia, vesti uma jaqueta por cima da regata, e coloquei um jeans. Eu precisava me distrair, e iria àquele show. Tentei, enquanto arrumava o que restara de meu cabelo, me convencer de que poderia até ser divertido - eu não ia a um show há muito tempo, e não tinha boas lembranças do último. Talvez a música fosse boa, e eu nem precisava falar com ele de qualquer forma - nós nem nos conhecíamos.
Pensei em chamar Rebeca, mas eu sabia que aquele não era seu tipo de programa favorito - não pela parte da música, mas pela localização - e que ela provavelmente faria perguntas.
Escovei os dentes e tentei passar um pouco de delineador sem borrar todo o meu rosto, o que se mostrou uma tarefa um pouco difícil, porque percebi que minhas mãos ainda estavam tremendo.
Peguei então as chaves do carro de Rebeca, descendo as escadas em silêncio, para não acordá-la. Depois do que havia acontecido no dia anterior, era possível que ela não me deixasse sair sozinha. E ela provavelmente estava certa.
Digitei o nome do lugar no GPS, lembrando-me vagamente de ficar em frente à uma praça pública.
Cheguei em cerca de dez minutos, e precisei procurar um lugar para estacionar na rua de trás, porque tudo ali estava um pouco cheio. Havia vários bares na região, assim como boates e lanchonetes, e me perguntei porque eu nunca fora me nenhum daqueles lugares. É claro, eu não tinha companhia. E aqueles não estavam sendo o meu tipo de lugar nos últimos tempos.
O cara que ficava na porta não se deu ao trabalho de pedir meu RG. Apenas perguntou meu nome, o anotando numa comanda rapidamente, e me deixou entrar.
Observei a decoração, que fazia referência àqueles antigos bares viking, e procurei por uma mesa vazia no fundo pub, que estava cheio. O show já havia começado, notei, ao ouvir um cover de 1975 ecoando pelo ambiente.
A banda tocava num palco improvisado, e muitas pessoas gritavam, animadas. Algumas até dançavam na parte de cima do pub, que até se parecia com uma pista de dança improvisada.
Notei Mick do lado esquerdo do palco, fazendo um solo de guitarra com um garoto loiro que eu não conhecia. Ele parecia concentrado, mexendo na argola que tinha nos lábios e, eu odiava admitir, tocava muito bem.
Pedi ao barman um daqueles drinks de fruta com nomes estranhos. Aquele seria o único, prometi a mim mesma, me lembrando da ressaca horrível daquela manhã e do fato de que eu não queria repetí-la.
Andrômeda começou, então, a tocar um cover de Imagine Dragons, e apesar de o garoto de óculos cantar o refrão perfeitamente, Mick tinha uma voz rouca que combinava perfeitamente com a musica - notei nos trechos que ele cantara.
Eles fizeram mais alguns covers, de bandas de rock antigas, e algumas músicas contemporâneas, e no fim, algumas originais, que também eram muito boas. Eram o tipo de música que eu ouviria, dependendo do meu humor.
Terminei meu segundo drink - tudo bem, aquilo estava muito bom - e os observei conversar com algumas pessoas que assistiam ao show.
Me levantei, pegando o dinheiro em minha bolsa, pronta para ir embora, quando o notei me encarando.
Droga, o garoto ia achar que eu era alguma espécie de perseguidora - e bêbada. Ou talvez ele achasse que era uma espécie de coincidência nos encontrarmos novamente. Tudo bem, na verdade eu não me importava.
Tentei passar pelo grupo de pessoas que estava perto do caixa, grata pelo fato de não haver fila ali, quando senti alguém segurar meu braço.
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Perto do limite
RomanceEu passei muito tempo tentando entender o que essa história representa - para os leitores e para mim, mas acho que, no fim, é uma história sobre se apaixonar. Sobre como o amor pode trazer de volta cores para uma parte da sua vida que estava em somb...