Capítulo 9

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Mick

- Em que porra você estava pensando? - eu tinha a impressão que Zach berrava. Ele parecia furioso, mas eu não conseguia escutá-lo.
Minha cabeça doía pra caralho, e eu tinha a impressão de que as coisas não paravam de girar.
Porque aquele imbecil jogara água na minha cara? E pra onde a garota fora? Droga, eu havia desmaiado. E ela me acharia um idiota. Na verdade, eu provavelmente estava parecendo um.
- Pare de gritar, porra - resmunguei, tentando ignorar as pontadas constantes em minha cabeça, que pareciam se concentrar bem na frente de meus olhos - Onde ela está?
- Você não precisa agir como um idiota, cara. - Zach parecia chateado, e achei que ele faria um discurso sobre drogas ou beber demais. Não que ele fosse todo certinho (esse era Luke), mas talvez fosse o mais responsável de nós. Na verdade, sabíamos que ele era. Sempre que algo dava errado, ou um de nós se metia em encrenca, ou quando as coisas saíam dos limites, era Zach quem assumia o controle da situação, e nós o respeitávamos por isso, embora naquele momento eu provavelmente não fosse admitir aquilo.
- Sei que as coisas estão difíceis - ele continuou, quando eu não disse nada - mas sou seu amigo, porra. Eu to aqui...
- Eu sei - bebi todo café que Bob trouxera. Eu odiava ouvir sermões, principalmente de Zach, mas ele estava certo.
A verdade é que eu precisava de uma distração. Algo para, sei lá, simplesmente não pensar. E então eu ouvira os recados de Miranda mais cedo, e eu não queria pensar em toda aquela porcaria. Na verdade, eu não queria pensar em nada, mas não podia ficar bêbado antes de um show, então me lembrei dos comprimidos que eu havia pegado de Tray, e os engoli antes que mudasse de ideia. O efeito não foi rápido como eu achei que seria, mas naquele momento eu estava me sentindo um merda, e em parte se devia pela quantidade de bebida que ingerira. Eu não conseguiria ir pra casa daquele jeito, o que não era ruim, porque eu não queria ir pra casa. Eu queria... Esquecer de tudo por algum tempo. Ir pra algum lugar sozinho. Eu só não sabia onde, mas sabia que drogas não eram a melhor saída. Eu não era tão idiota.
- Posso ficar aqui até amanhã? - perguntei, então já sabendo a resposta. Apesar das minhas merdas, Zach era um bom amigo. E tenho certeza de ter havido uma época em que ele podia dizer o mesmo sobre mim.
- Claro. - ele deu de ombros, mas eu sabia que viria um "mas" - Você sabe que precisa voltar pra casa uma hora, não é?
- Eu vou - falei, sem muita convicção. Zach era o único garoto da banda que sabia sobre meu pai. Não que eu tivesse contado, mas nossas mães eram amigas. Ele também nunca havia me perguntado sobre aquilo diretamente, mas o assunto sempre acabava aparecendo, como naquele momento. E eu o evitava. Ele sabia, e por isso não perguntava.
Os pais de Zach haviam se separado há uns 9 anos, e ele vivia com o pai desde então, enquanto Lily, a irmã mais nova, vivia com a mãe do outro lado da cidade.
- E aquela garota? - ele perguntou, curioso, e com certo tom de malícia na voz. Aquele idiota sempre ficava curioso quando me via com uma garota, dizendo que eu precisava "sossegar". Ambos sabíamos que aquilo seria difícil depois de Alison. O furação Alison, como costumávamos chamá-la.
- Ela é bonita - ele comentou, não me esperando responder - Leah, certo?
Então esse era o nome dela? Eu, idiota, havia me esquecido de perguntar. Leah. A garota que eu havia beijado, e deixado sozinha num bar depois de cair bêbado. Previsível.
- É uma amiga - falei, não sabendo como definí-la. De certo, aquilo seria esquecido na manhã seguinte. E porque esse fato me deixava...incomodado? Eu mal a havia beijado.
- Ela é diferente - ele disse, como se aquilo fosse algo bom, e eu sabia que, para Zach, era. Me perguntei se ele queria dizer diferente das outras garotas com quem eu normalmente saía, e pensei que sim, porque de certa forma ela era. E eu não podia dizer que nós havíamos saído. Então, sim, ela era diferente. Leah era o algo a mais daquele final de semana de merda.
- Porque ela não se parece com Luiza? - perguntei, e ele riu, concordando.
- Ela parece perigosa. E inteligente. Com certeza vai te dispensar hoje mesmo.
- Não temos nada - resmunguei, sabendo que ele tinha razão. Ela... Leah, não parecia o tipo de garota com quem eu ficava. Ela parecia esperta. E eu não sabia o que achar disso.
Zach disse que eu podia ficar no sofá, e seu pai, depois de fazer algumas piadas sobre eu não vomitar em sua casa, também foi dormir.
Chequei meu celular, apagando todas as novas chamadas perdidas de minha mãe e de Greg, mas não pude ignorar a última mensagem.
"Seu pai quer ver você", e então eu sabia que precisava ir. Ela não me mandaria a não ser que fosse urgente.

Perto do limiteOnde histórias criam vida. Descubra agora