Capítulo 7

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Mick

- Olhe só quem apareceu por aqui - Tray sorriu maliciosamente, encarando algo de forma fixa, o que me fez olhar naquela direção, achando se tratar de alguma de suas "fãs" malucas que sempre apareciam nos shows, e com quem ele costumava sair.
- O que ela está fazendo aqui? - perguntei, identificando a garota da noite anterior, sozinha numa das mesas no fundo do bar, e ouvi Tray resmungar algo sobre tê-la convidado. Me virei para ele, que murmurou um "o que foi?" debochado.
Porque ele se interessaria por ela, afinal? A garota parecia alheia a todos, na maior parte do tempo, o que eu achava arrogante pra caralho. E também me deixava curioso a seu respeito, me fazendo perguntar porque ela tentava tanto se esconder.
Eu não podia julgá-la, entretanto, quando, muitas vezes, sentia a mesma vontade incessante de ficar longe.
Mas porque Tray a convidara para o show? É claro, sua necessidade de dar em cima de todas as garotas que apareciam na sua frente. Eu não sabia porque Natasha ainda não havia lhe dado um pé na bunda.
Tentei afastar a multidão que se aglomerava perto da porta, e ignorei algumas garotas que tentavam chamar minha atenção - eu falaria com elas depois.
- Ei - eu a avistei saindo do bar, e segurei seu braço. Ela se virou, assustada, e ao me ver, sua expressão imediatamente se suavizou.
Soltei seu braço, a encarando. Alguma coisa nela estava diferente. A observei atentamente, procurando por algo novo. Ela usada maquiagem preta nos olhos...mas não era aquilo.
Claro, seu cabelo, notei alguns segundos depois. Ela o havia cortado na altura do queixo, um pouco torto - ou repicado, sei lá que palavra as garotas costumam usar para aquilo - e um pouco maior do lado direito.
Por que ela havia feito aquilo?
- Não sabia que você viria - falei, quebrando o silêncio, porque eu sabia que a estava encarando há algum tempo, e ela parecia um pouco sem graça.
- Foi de última hora - ela respondeu, e me perguntei se ela sabia que tocaríamos aquela noite. Por algum motivo, eu queria pensar que sim.
- Você quer beber algo? - perguntei, pensando na noite anterior. Apesar de eu não me lembrar precisamente de muita coisa, ela era uma boa companhia pra encher a cara. E eu não queria que ela fosse embora, não quando já estava ali.
- Não quero cair no asfalto novamente - ela riu, e parecia um pouco envergonhada.
- Já te vi bêbada... Nada que fizer vai me impressionar - eu disse, sabendo que não era verdade. Se ela dançasse daquele jeito de novo, com certeza me impressionaria.
Droga, o que eu estava pensando?
- Tudo bem - ela deu de ombros, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha, e percebi que eu estava quase torcendo para que a garota concordasse. A perspectiva de passar o restante da noite com ela me parecia melhor do que as outras alternativas.
- Vamos lá pra cima - falei, me referindo ao outro andar do pub, que costumava ficar mais vazio quando os shows terminavam, e a guiei em direção a escada.
Notei que ela usava uma calça preta justa, que parecia imitar couro e Tray estava certo. Ela estava gostosa.
Nos sentamos num daqueles pequenos sofás perto das mesas, e fui pegar algumas bebidas no frigobar da banda.
Eu não poderia exagerar, entretanto. Já fazia dois dias, e eu precisava voltar pra casa. E não podia fazê-lo bêbado, embora achasse que seria mais fácil.
Peguei alguns energéticos, pra o caso de ela não querer beber - o que eu duvidava -, e uma garrafa de Big Apple.
- Uma garrafa inteira? - ela perguntou, rindo, e lhe passei um copo.
Embora no começo ela relutasse, bebendo apenas os energéticos, eu podia ver que estava morrendo de vontade.
- Beba logo - falei, a incentivando - Eu levo você pra casa depois.
- Duvido que você consiga sequer se levantar - ela revirou os olhos, mas colocou uma boa dose em seu copo, e a bebeu rapidamente.
Depois de quase acabarmos com aquela garrafa, me levantei para buscar alguns drinks fracos de fruta, quando ela me segurou.
- Está tentando me embebedar? - perguntou, levantando as sobrancelhas, e notei que suas bochechas estavam bastante coradas, como na última noite. E aquela maquiagem a deixava... diferente. Mais perigosa. Talvez, até, sexy. Sim, ela estava.
- Você já está bêbada - fingi uma careta de reprovação, a segurando quando se desequilibrou, e a garota deu uma risada.
- Não estou - ela resmungou, me encarando - E a culpa é toda sua. Hmm, eu preciso ir ao banheiro.
Ela se colocou de pé novamente, e a observei caminhar em direção ao corredor, quando um cara mais velho, que a encarava desde que havíamos nos sentado, se levantou, indo na mesma direção que ela.
- Ei - me levantei, a seguindo, e coloquei meu braço ao redor de sua cintura. Ela me encarou, confusa. - Estou te esperando na escada.
O idiota foi embora, e quando a garota voltou, fomos até o balcão, e ela riu quando ambos nos desequilibramos.
Eu disse à ela para pegar uma daquelas bebidas de menininha, com chocolate e enjoativamente doces, e ela deu de ombros, não se incomodando com a provocação.
Pedi uma caipirinha, a observando tentar pegar a bola de sorvete de chocolate com o canudinho.
- Isso está muito bom - ela já havia bebido metade do copo, e o estendia para mim.
Dei um gole, e embora doce demais, não era tão ruim. Na verdade, estava melhor que a minha caipirinha.
Devolvi o copo à ela, que sorriu. A garota tinha um sorriso bonito, com aquelas marquinhas do lado da bochecha, e ela me encarou de volta, com aqueles olhos grandes e escuros, e por um momento, eu pensei em beijá-la. Ela pareceu prever isso, porque me encarou maliciosamente quando a encostei contra o balcão.
Ela segurou minha camisa, e parecia indecisa entre me empurrar, ou me puxar mais para perto, e caralho, eu torcia pela segunda opção.
Então a beijei, e ela me encarou, por alguns instantes, antes de fechar os olhos, e então me puxar, sorrindo.
Seus lábios tinham gosto daquela bebida, que naquele momento, me parecia ótima.
Então a soltei, alguns instantes depois, porque, droga, eu estava bêbado demais. Ela me encarou, confusa, e me segurei no balcão, um pouco tonto.
Ouvi alguns copos caindo no chão, e só então percebi que eu estava caindo também.

Perto do limiteOnde histórias criam vida. Descubra agora