Capítulo 3

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Mick


A primeira coisa que pensei ao acordar foi que eu nunca havia bebido tanto em uma noite só. Eu tinha, é claro, uma série de experiências com bebida - Tray, Zach e eu ficávamos de porre quase toda semana, mais do que deveríamos, mas acho que na noite anterior eu havia batido meu recorde. Minha cabeça latejava, e até minha camisa fedia à vodka.
Procurei pelo celular em meu bolso. Mais ligações perdidas de Greg e da minha mãe. Eu já estava prevendo o que me diriam quando chegasse em casa - com certeza um discurso motivador sobre a importância da família nas horas ruins. Sobre como devemos valorizar as pessoas enquanto não é tarde demais.

Eu não queria ouvir aquilo. Eu sequer podia pensar naquilo sem que me destruísse. E eu não pensaria.
Por isso coisas como a noite anterior.
Tentei me lembrar de que droga eu fizera, mas tudo parecia meio nebuloso.
Eu precisava de uma xícara de café, antes que aquela ressaca do caralho me matasse. Minha cabeça ia explodir.
Procurei pelas chaves do carro, encontrando-as no banco de carona.
Achei, no chão do carro, uma pulseira preta desgastada que não estivera ali antes. Lembrei-me, vagamente, de vê-la no braço da garota.
Como era mesmo o nome dela?
Droga, o que eu havia feito?
Tentei me lembrar dos detalhes, mas tudo parecia meio embaçado.
Havia rolado algo.
Lembrei-me, então, da música, e da forma como havíamos dançado. Quando fora a última vez que eu dançara? Fazia muito tempo.
E eu a havia agarrado na escada? Qual era o meu problema?
Não que ela fosse feia, mas certamente não fazia meu tipo. E ela estava bêbada. Eu podia ser um idiota, mas nunca forçara uma garota a nada.
Dirigi até a Starbucks mais próxima, e pedi um café bem forte, sem açúcar.
Depois de bebê-lo rapidamente, mandei uma mensagem à Tray, perguntando se Natasha estava trabalhando.
Eles tinham uma espécie de relacionamento - que não era muito sério (pelo menos não para Tray) há uns quatro anos, mas dividiam um pequeno apartamento desde o começo daquele ano, no qual eu planejava dormir aquele dia, já que não podia ir pra casa.
Ele era um idiota, mas eu não tinha outro lugar pra ir - e na verdade não ligava pra Luiza. E eu também não conseguiria dormir na casa de Luke com aqueles pestinhas dos seus irmãos gritando pra lá e pra cá.
Ele me respondeu rapidamente, dizendo que eu podia ir para lá, então dirigi.
Esperava que Natasha não estivesse por lá. Ela não largava do meu pé. Tudo bem, que era bastante gostosa - e um pouco óbvia - mas Tray era meio possessivo em relação a ela, então eu fingia não notar o modo como ela, às vezes, parecia estar me paquerando. Hipócrita, eu sei.
Bati em seu apartamento algumas vezes, até que Natasha apareceu, vestindo somente uma camisa larga de nossa banda, que ela parecia ter personalizado, cortando a gola e as mangas.
Ela prendeu o cabelo meio verde num rabo de cavalo bagunçado, e estava com cara de estrela do rock.
Natasha era o tipo de garota que ficava bonita até quando estava desleixada - o que era a maior parte do tempo, e aquele dia não era uma excessão.
- Alguém não dormiu muito bem - me ofereceu um sorriso, colocando seus braços ao meu redor.
- E aí, cara? - Tray estava deitado no sofá, com uma lata de cerveja nas mãos. - Onde você se meteu?
- Tô com uma ressaca horrível. - Não dei detalhes da noite anterior, até porque eu não me lembrava de todos eles, e eu não estava com pique para conversar naquele momento.
- Foi beber sozinho? - ele perguntou, curioso, e fiz uma careta.
- Eu teria companhia se você não tivesse pegado a Luiza.
Ele riu, não parecendo nem um pouco arrependido.
- Você nem gostava dela, cara. E a garota é um saco. Ótima na cama, mas um saco.
- Vá se foder - eu quase ri, até porque era verdade. Eu não ligava pra Luiza. E ela tão pouco para mim, e era por isso que as coisas pareciam dar certo entre nós. Até Tray estragar tudo.
- Já que agora dividimos as coisas... - eu puxei Natasha para perto de mim, dando um beijo em sua bochecha, e ela revirou os olhos para nós, mas se virou, sorrindo.
Tray, por sua vez, ficou vermelho, me encarando com um olhar irritado.
- Vá se foder - ele devolveu, trazendo-a para perto de si, e Natasha resmungou para ele parar de ser possessivo.
- Não me acorde. - eu sai, piscando para a garota apenas para irritá-lo, e abri a porta do pequeno quarto de hóspedes, me jogando na cama. Fechei as janelas, porque toda aquela luz estava me incomodando, e minha cabeça estava estourando. Eu não devia ter bebido como um louco.
Então dormi rapidamente, ignorando o som alto de guitar hero lá fora, e tentei não pensar na noite anterior, ou na garota cujo nome eu me esquecera de perguntar.

Perto do limiteOnde histórias criam vida. Descubra agora