Capítulo 37

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Mick

- Eu posso ficar em casa hoje - garanti a Miranda, não porque em quisesse cabular aula, mas porque a coisa estava realmente feia. Eu a havia ouvido falar com Greg, que estava passando mais tempo em casa nos últimos dias, na noite anterior.
- Está tudo bem, querido - ela disse, e eu soube que era mentira, porque Miranda nunca usava esse tom condescendente, não comigo. Nós sempre conversávamos como...quase amigos ou algo do tipo. Tirando seus dias de TPM.
- Não minta. Eu ouvi vocês dois ontem a noite. Sei que os órgãos dele estão...parando - eu tive certa dificuldade para falar aquilo, porque eu, caralho, eu não podia lidar com o fato de que meu pai estava morrendo. Não, eu não podia. Eu queria mais tempo.
- Você não vai parar sua vida porque seu pai está doente, Mick - eu podia ver que ela estava ficando irritada, mas não ia deixá-la vencer tão facilmente. Que saco. Porque ela não podia simplesmente me deixar vê-lo? Não fora ela que basicamente me obrigara a fazer isso quando eu não queria?
- Você sabe que ele não está apenas doente - eu disse, e instantaneamente me arrependi, porque ela pareceu prestes a chorar. Cacete - Desculpe. Miranda. Foi mal.
- Vá pra escola, ok? - ela me encarou, e vendo que eu não me moveria, começou a procurar pelas chaves do carro - Eu estou falando sério, Mick. Não piore as coisas...
-Piorar as coisas? - peguei minha jaqueta, bufando - Eu não posso simplesmente vê-lo? O que há de errado nisso? É meu pai.
Vendo que ela não respondia, fingindo estar ocupada em lavar, pela terceira ou quarta vez, uma xícara de café, me aproximei - Eu só....quero vê-lo antes que, caralho. Eu não posso ver meu próprio pai antes que ele morra?
Ela se virou, e tinha lágrimas nos olhos, mas eu não podia parar. Miranda não podia me tirar aquilo.
- Não é um bom momento para visitas - ela respondeu, calma, num tom que não permitia discussões, e se virou, limpando a maquiagem borrada com um lenço de papel, como se nada tivesse acontecido.
Cacete.
Eu sabia que estava ficando nervoso, e não queria descontar minha raiva nela, por isso peguei minhas chaves, antes que acabasse dizendo algo que não queria.
Dirigi com pressa, quase torcendo pra ser parado, e parei no caminho, procurando por um bar freneticamente. Eu precisava de um cigarro.
Geralmente eu não fumava no carro - geralmente eu não fumava, mas dadas as circunstâncias, era melhor que beber.
Eu tinha treino de natação naquele dia, e não queria ferrar tudo. Na verdade eu estava pouco me fodendo para aquilo naquele momento, mas era a única coisa que eu tinha, e eu não queria perder. O campeonato estadual estava chegando, e qualquer deslize, a treinadora podia decidir me tirar da equipe.

- Você fumou o que? Uma fábrica de Malboros? - Luiza riu, ajeitando a alça do maiô revelador.
- Algo assim - eu dei de ombros - pegando minha toalha, e me perguntando porque ninguém dizia nada sobre o fato de ela estar no vestiário masculino. É claro, era Luíza. E todos deviam estar supondo que ela estava comigo.
Sai do vestiário, avistando Tray e Jared fumando escondido - enquanto a técnica não chegava - perto das arquibancadas, e Luíza me seguiu. Eu não disse nada porque Luiza podia ser uma boa companhia quando queria - e eu precisava de alguma distração naquele momento.
Eu quase não a notei. Ela estava sentada - na verdade meio encolhida - num canto não muito visível um pouco abaixo dos garotos, e tinha um livro pesado no colo. A garota usava um coque frouxo, meio bagunçado - como se tivesse acabado de acordar e o prendido de qualquer jeito - e tinha algumas olheiras escuras, eu percebi ao meu aproximar. Ela vestia um moletom puído por cima do maiô, e algo em seu olhar fez com que eu quisesse me aproximar e certificar-me de que estava tudo bem. Então, me lembrei do que ela tinha dito. Havia sido só uma noite, eu disse a mim mesmo, irritado.
- Sabe, você está bonita - eu disse à Luiza, virando-me em sua direção, o que era verdade, mas eu só estava sendo um babaca. Eu só queria que Leah escutasse, e me perguntava se ela ficaria com ciúmes, mas a garota não levantou os olhos de seu livro.
- Obrigada! - luiza ajeitou o cabelo loiro, que, eu percebi, estava mais liso - Fiz cauterização na noite anterior.
Assenti, mas não pude deixar de me perguntar que diabos era cauterização.
- Ei, parem de papo furado - a técnica fez soar seu apito, e me lançou uma piscadela, depois de fazer uma careta para a vestimenta de Luiza - Formem duplas. Vamos fazer uma pequena competiçãozinha. E senhorita Leah, nos dê o prazer de sua companhia dessa vez. Não pode fugir de minha aula o semestre todo.
Alguns alunos riram, e observei Leah fazer uma careta, guardando seu livro na mochila, enquanto tirava o moletom azul escuro, e tentei não prestar atenção em como ela ficava bem naquele maiô.
Jordan, a garota que fazia parte do clube de luta, e também era uma espécie de colecionadora de medalhas de torneios de natação, pediu para ser minha dupla, e aceitei. Aquela garota era bastante competitiva.
- Vamos, você não vai fugir dessa vez, mocinha - a técnica disse, impaciente, para Leah, mas num tom de brincadeira, o que me fez suspeitar que ela até que gostava da garota.
- Eu faço dupla com ela - Luíza disse, em seu tom que eu reconhecia como de falsa simpatia, e me perguntei, novamente, o que ela tinha contra a garota. Tudo aquilo era apenas ciúmes por eu dar atenção à Leah? Porque eu não conseguia acreditar que Luíza conseguia ser simpática com alguém só por ser. Tudo bem, eu estava sendo um babaca.
Me lembrei de que Leah realmente nadava bem, e se ela fizesse o mínimo de esforço, acabaria com Luíza em alguns instantes. Mas porque eu estava torcendo por ela, afinal? A garota havia me dado o fora.
Tentei me concentrar, mas toda a coisa com meu pai, a discussão com Miranda, e a presença de Leah - que não saia de minha cabeça - estavam me deixando louco.
Jordan ganhou - por pouco, mas na verdade isso não importava. O que estava acontecendo comigo?
- Você foi bem - ela tocou no meu ombro, me lançando um sorriso simpático, e na verdade pareceu sincera. Dei de ombros, como se fizesse parte.
- Mais atenção, Young - a treinadora me lançou um olhar de advertência, e assenti, me afastando.
Peguei minha toalha, me sentando nas arquibancadas ao lado de Jordan e alguns garotos da equipe.
- Fica frio, cara - ela disse, enquanto partia uma barra de chocolate ao meio - Você vai arrebentar no campeonato. Só deixe uns troféus para mim. Quer?
- Você é boa, Jor - eu disse, e era verdade. Tanto quanto Leah, eu pensei, mas me lembrei que ninguém ali além de mim a havia visto nadar, possivelmente. Dei uma mordida na barra que Jordan me ofereceu, distraído, observando a técnica brigar com alguns garotos que tentavam afogar uns aos outros. Isso sempre acontecia.
Tentei não pensar na garota enquanto a observava se aproximar da piscina, parecendo relutante, em contraste com a óbvia confiança de Luíza, mas eu não conseguia tirar os olhos dela, e estava torcendo, secretamente, para que ela ganhasse. Eu podia notar que Leah estava nervosa, mesmo estando a alguns metros de distância. Ela parecia tremer, e mexia nas mãos freneticamente. Tive que me segurar para não ir até lá e abraçá-la. Caralho.
Então ela olhou em minha direção, e antes que eu pudesse me controlar, sorri para ela, e a garota pareceu relaxar. O que estava acontecendo comigo? E porque eu estava sorrindo pra ela depois de a garota ter deixado claro que não queria falar comigo? E porque eu me importava?
Tentei lembrar a mim mesmo que Leah era só mais uma garota - divertida, mas nada que valesse a pena ocupar minha cabeça, e prestar atenção no que Jordan falava sobre sua namorada da Califórnia, Kelsey, e seu relacionamento à distância, mas eu não conseguia manter os olhos longe da piscina por mais de alguns segundos.
- Uau - ela disse, chamando minha atenção - A garota é...nossa. Ela é boa!
- É - concordei, distraído, observando-a sair, envergonhada, da piscina.
- Você a conhece? Espero que ela não queria entrar pro time. Eu estaria perdida.
- Não, não conheço - eu disse, dando de ombros e disse que precisava ir.
Avistei Luíza vindo em minha direção, e dei a volta pelo outro lado, entrando pela parte de trás do vestiário. Não me importei em tentar chegar rapidamente na próxima aula - eu sabia que me atrasaria, e tomei um banho demorado enquanto tentava esfriar minha cabeça. Esperei o centro esportivo se esvaziar para ir fumar atrás das arquibancadas, e estava saindo do vestiário, quando esbarrei nela. Cacete. Porque isso sempre acontecia?
- Hum, desculpe - eu disse, esperando sua expressão mudar para a mesma daquela noite, algo que refletia irritação e raiva quando ela notasse que era eu, mas não aconteceu. Ela só parecia...triste, e deu de ombros, como se estivesse tudo bem. Na verdade, ela parecia péssima, e não pude deixar de me perguntar se isso tinha alguma relação com o fato de ela ter nadado.
Eu sabia que Leah tinha medo de se afogar, ou algo do tipo, mas não entendia bem porque. Ela sabia nadar. Realmente sabia, e possivelmente, era até melhor do que eu.
- Você é ótima, Leah - eu disse, antes que pudesse dissociar minha fala do pensamento, e me arrependi. Ela havia deixado claro que não queria nada comigo, e embora eu estivesse com o orgulho ferido, não era do tipo que ficava insistindo, porra. Eu precisava deixar a garota em paz. Então porque aquilo estava se mostrando mais difícil do que parecia?
- Você é - ela disse, depois de alguns segundos, num tom de voz doce, quase triste, e pareceu sincera - Eu preciso ir.
- A gente se vê - eu disse, embora ambos soubéssemos que isso provavelmente não iria acontecer.

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