Leah
Nós estávamos em silêncio no carro, mas não era desagradável. Primeiro, porque ele havia ligado o rádio numa das estações que eu mais gostava - aquela que sempre tocava músicas de bandas antigas de rock que todos já haviam esquecido, e o peguei cantarolando o refrão de uma música do Scorpions, e evitei encará-lo. Eu não queria que ele parasse.
E a terceira coisa boa de estarmos em silêncio era que assim eu não acabaria falando alguma besteira - sobre como eu gostava do cheiro de sabonete em sua pele, ou sobre como era bom beijá-lo, e como ele parecia bonito com o cabelo bagunçado, ou sobre como eu achava o piercing legal e sexy. Não, meu Deus, eu precisava me controlar.
Eu havia aceitado sair com Mick, e estava fazendo uma lista mental dos prós e contras. Eu sabia que não podia deixar a coisa ir longe demais - o que significava que deveria ser algo de uma noite, talvez, como ele havia indiretamente sugerido, e eu sabia que as coisas funcionavam assim com Mick. Ele não era do tipo que saia com uma garota por muito tempo - e antes, aquilo teria me irritado, mas na verdade me acalmava, o que fez com que eu me perguntasse que tipo de pessoa eu estava me tornando.
O tipo que não se machuca - resmunguei para mim mesma.
Tentei não deixar que o fato de ele ter dito que eu era bonita mexesse comigo, porque eu realmente não sabia o que Mick pensava sobre mim, e na verdade não importava. Mas eu não conseguia ignorar o episódio na arquibancada, com ele, Tray e aquele outro garoto cujo nome eu não sabia.
E eu também não podia ignorar o modo como ele me olhava, às vezes.
Tudo isso, somado ao fato de eu ter dito à Rebeca que não demoraria, me fizeram hesitar quando ele me chamara para ir a algum lugar. Eu sabia que algum lugar, para Mick, queria dizer dar uns amassos na sua casa ou ir a algum pub da cidade, e ambos me pareciam opções perigosas. Porque sempre acabávamos próximos depois.
Então ele estacionou numa rua conhecida, e me lembrei daquele bar. A primeira noite - em que eu havia fugido do final de semana com meus pais, e parado no primeiro lugar que encontrara. E havíamos bebido. E dançado.
Era estranho como desde aquele dia vínhamos nos encontrando com certa freqüência. Eu sabia que uma hora precisaria parar. Antes que chegasse perto demais. E eu decidi que seria aquela noite.
Eu iria beber, e talvez, até, beijá-lo. Me divertir um pouco mais antes de deixá-lo partir pra próxima, e continuar com minha rotina.
Eu não podia deixar de me perguntar como seriam as coisas depois que aquilo parasse. Mick e eu nos cumprimentaríamos nos corredores, conversaríamos entre as aulas, ou nos ignoraríamos, como antes?
Tentei não pensar naquilo enquanto entrávamos no pub - Slayers, notei pela primeira vez, era o nome.
Mick cumprimentou um cara que parecia consertar algo naquelas máquinas de música - e ficou me encarando por um tempo.
Achamos um lugar no fundo do bar, e não pude deixar de notar a garota ruiva de blusa decotada e batom vermelho, que nos lançava uns olhares não muito simpáticos. Talvez ela fosse alguma ex de Mick, pensei, a ignorando, e ele fez o mesmo, ou não a notou.
O garoto asiático do outro lado do balcão nos perguntou o que queríamos, e pedi a bebida com run e sorvete de chocolate, que na verdade era muito boa, enquanto Mick pediu algo que não consegui identificar.
- Não vai querer um pouco da minha dessa vez? - perguntei, oferecendo a ele o copo já pela metade, e ele me lançou um sorriso malicioso.
- Você pode me deixar experimentar de outro jeito - seu olhar desceu pra minha boca, e fingi não estar constrangida, perguntando se ele estava dando em cima de mim, e acrescentei uma risada ao final.
Ele ignorou minha pergunta, me lançando um daqueles olhares que fariam qualquer garota corar - e o cretino metido provavelmente sabia disso - enquanto trocávamos as bebidas.
Experimentei a sua, que me pareceu um pouco forte, e tentei disfarçar o fato de aquilo estar queimando minha garganta e fazendo meus olhos lacrimejarem. Talvez eu realmente não estivesse acostumada a beber.
Ele me provocou, dizendo algo sobre eu precisar de algo mais fraco, e virei o restante de sua bebida em alguns segundos, lhe lançando um sorriso convencido.
Pedi ao bar man mais uma daquela bebida que eu não sabia o nome, e estendi a ele, que recusou.
- Alguém tem que dirigir - ele disse, me lançando um olhar de falsa reprovação, e revirei os olhos. Como se ele já não tivesse dirigido bêbado.
Minha mãe surtaria - pensei - se soubesse como eu voltava pra casa depois dos encontros acidentais com Mick. Ela já não gostava quando meu pai bebia, que dirá Rebeca e eu.
- Não vou beber isso sozinha - eu passei o copo a ele, depois de dar apenas alguns goles. Eu estava começando a ficar enjoada, e minha cabeça, um pouco pesada. Talvez eu fosse fraca pra bebidas, então.
Ele então virou o copo em alguns goles rápidos, pedindo ao bar man - que eu descobri se chamar Park - mais duas bebidas diferentes, que pareciam uma mistura de tudo o que tinha no bar, e as dividimos. Na verdade, deixei que ele bebesse a maior parte, já que eu não queria ir para a escola com mais uma daquelas dores de cabeça infernais resultantes de ressaca.
Pedi uma porção de batatas fritas, que veio ainda quente, e a enchi com mostarda e pimenta, como Rebeca e eu fazíamos - meio nojento, eu sei.
- Não vai me chamar pra dançar hoje? - ele perguntou, depois de terminar sua bebida, e lhe lancei uma careta. Porque ele precisava lembrar daquilo?
- Não. Eu precisaria estar bem bêbada pra isso - eu disse, não tirando os olhos de minhas batatas, e ele tirou uma de minha mão, nossos dedos se tocando.
Céus, porque eu tinha que ficar tão animada toda vez que ele chegava perto?
- Gosto de sua versão bêbada - ele disse, se inclinando em minha direção, e fingi parecer ofendida, mas a verdade é que eu também gostava. Em parte.
Ele me deu o restante de sua bebida, e me puxou, se levantando, fazendo com que nós dois quase caíssemos.
- O que tá fazendo? - me segurei em seu braço, tentando me equilibrar, e ele murmurou algo sobre gostar daquela música, o que não fazia sentido nenhum, porque não era nada sua cara. Na verdade, era algo pop, que eu tinha quase certeza já ter ouvido nas rádios recentemente.
- Odeio essa música - falei, o que era parcialmente verdade. Algumas músicas têm tendência a ficar em nossa cabeça, pensei, irritada.
Mas, de repente, o ritmo me pareceu quase...bom. Para dançar. Tirando o fato de eu ser péssima nisso.
- Eu não sei dançar - puxei-o pela mão em direção ao centro do bar, onde ninguém mais dançava, e fingi não notar os olhares que vinham em nossa direção. A garota ruiva.
- Eu também não - ele me puxou para perto, colocando a mão em minha cintura, e tentei me concentrar em não perder o equilíbrio, o que já estava difícil sem...aquilo.
Coloquei meus braços em volta de seu pescoço, e depois tirei, percebendo o quanto aquilo era ridículo. Eu nem sabia o que estava fazendo.
Então ele também riu, e meio que me abraçou - meio porque estávamos próximos demais pra aquilo ser um abraço normal.
- Essa não é uma música lenta - eu disse, e embora ainda estivéssemos parados, parecia que tudo estava girando, e eu não sabia quanto daquilo era efeito das bebidas e quanto era do fato de Mick estar tão perto.
- Odeio músicas lentas - ele disse, enquanto eu o encarava, provavelmente parecendo maluca. Mas tudo estava... Brilhante.
Talvez fossem as luzes do bar, ou o fato de estarmos exatamente embaixo delas. Talvez fosse o álcool fazendo efeito, mas eu não conseguia tirar os olhos dele. Mick parecia...algo como todas as cores.
- O que foi? - ele me perguntou, tirando-me de meu quase transe, e balancei a cabeça, tentando pensar em algo pra dizer.
- Só quero beijar um garoto bonito por uma noite - eu disse, preenchendo o espaço que faltava entre nossos rostos, e o beijando.
É. Eu estava beijando Mick Young. E aquilo era bom.
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Perto do limite
Storie d'amoreEu passei muito tempo tentando entender o que essa história representa - para os leitores e para mim, mas acho que, no fim, é uma história sobre se apaixonar. Sobre como o amor pode trazer de volta cores para uma parte da sua vida que estava em somb...