Leah
Eu sempre me dera bem com meus pais.
Vivíamos numa cidade pequena, em que tudo era facilmente espalhado. Se você ficasse bêbado numa festa, beijasse alguém, conseguisse uma vaga numa boa faculdade, formasse uma banda, perdesse seus dentes de leite, ou simplesmente mudasse a cor do cabelo, todos estariam sabendo no dia seguinte.Isso fazia com que nenhum de nós quisesse ser pego aprontando, até mesmo porque o xerife - meu pai - não era do tipo que pegava leve.
Eu tinha 16 anos, e era minha primeira festa. Havia demorado uma infinidade pra convencer meus pais, e passado horas ouvindo um discurso enorme sobre drogas, garotos e bebidas.
Então, quando finalmente os convencera, a condição era que deveria estar em casa antes da meia-noite. Como uma cinderela idiota, eu sei.
Apesar de não gostar de dançar, minha melhor amiga, Keana, havia me convencido a ir, pois ela havia convidado seu novo namorado, e queria que eu o conhecesse.
Xavier, o garoto misterioso, que era 3 anos mais velho, havia trago um amigo, que ela prometera me apresentar.
Eu nunca havia beijado alguém - tirando um selinho sem graça em um jogo de verdade ou desafio dois anos antes, e embora aquela não fosse minha maior preocupação, eu estava naquela fase de curiosidade. Eu queria me apaixonar. Ou simplesmente conhecer alguém, e aquela era uma boa oportunidade. Me divertir e esquecer, por uma noite, as chatices da escola.
Eu obviamente estava deslocada naquela festa, e ele também. O amigo de Xavier. Bonito e misterioso, o tipo de garoto que me interessava. O tipo de garoto que não se encontrava naquela cidade, onde todos pareciam saber tudo uns sobre os outros.
Ele estava próximo à mesa de bebidas, e embora eu não bebesse, precisava de uma desculpa para falar com ele.
Keana havia desaparecido, provavelmente estava beijando Xavier em algum canto, então me aproximei, e ele falou algo sobre a minha camiseta - que eu havia comprado alguns meses atrás num show de uma banda de rock não muito conhecida, e a personalisara, então nós começamos a conversar, mas aquilo estava tudo muito barulhento. Peguei uma bebida - que eu acabaria não tomando, e fomos para o jardim. Ele perguntou qual era meu nome, e começou a chover. Uma garoa fraca, mas as pessoas começaram a ir para dentro da casa. Ele me ofereceu sua blusa, e foi o primeiro garoto a olhar pra mim daquela maneira. Como se eu fosse linda.
Quando deu meu horário de ir pra casa - e Keana ainda não havia aparecido - ele me ofereceu uma carona, e nos beijamos no carro. Na porta de casa, ele disse pediu meu telefone.
Depois de trocarmos mensagens por algum tempo, começamos a sair, e apesar das aparências de garoto rebelde, ele era um doce. Atencioso, carinhoso, e meu deus, ele era muito bonito. Céus, eu nunca havia namorado, e quando começamos a realmente ter algo sério, eu... acho que me enganei.
Eu me apaixonei por ele.
Nós passávamos todo o tempo juntos. Nadando, vendo filmes, e ele até me ajudava a estudar pras provas, quando nos encontrávamos depois da escola numa pequena lanchonete do shopping que fazia batatas deliciosas. Meus pais o adoravam. Meu pai o adorava, e ele costumava dizer que todos os garotos daquela cidade eram idiotas.
Mesmo com os ataques de ciúme, e todas as discussões - que ele mesmo provocava, eu gostava dele, e Marcus sempre se desculpava após todas as brigas - sem motivo aparente. Ele dizia que me amava, e eu nunca havia sentido aquilo por alguém.
Então nós tínhamos aquelas conversas - em que você sabe que o relacionamento provavelmente vai terminar. Mas não terminava. Eu sempre acaba com o coração partido, no meu quarto, pensando no que eu estava fazendo errado e se deveria acabar com aquilo de uma vez.
E eu achei que ele mudaria. Achei que eu podia mudá-lo.
Mas só piorou.
Me lembro de ele me ver rindo com Xavier, enquanto esperávamos Keana, e meu Deus, ele era só um amigo - realmente só um amigo - e surtou, novamente me acusando implicitamente de está-lo traindo. Ele foi pra cima do garoto, na frente de um monte de pessoas, e eu o fiz parar, porque sabia que alguém acabaria chamando a polícia.
Então ele me puxou pro carro, dizendo que era melhor irmos embora dali.
Marcus não no disse nada o caminho todo, mas quando chegamos em casa, me joguei no sofá, exausta mais uma vez depois de um dos nossos encontros que acaba mal, e eu disse que precisava ir embora. Ele pareceu não me ouvir, enquanto enchia seu copo de uísque - ele já havia bebido naquela festa, então me empurrou contra um dos móveis, murmurando algo sobre eu causar tudo aquilo, e quando reagi, dizendo para ele se acalmar, me deu um tapa. Eu fiquei surpresa, e foi horrível. Eu sai dali, e disse pra ele nunca mais chegar perto de mim.
Não contei aos meus pais. Eles adoravam Marcus.
Keana me telefonou, perguntando se estava tudo bem, e não tive coragem de contar à ela.
E eu o perdoei, depois de algumas semanas, quando tivemos mais uma de nossas conversas, e ele não havia bebido, então era apenas o Marcus doce de sempre. Acabamos voltando. E aconteceu de novo.
Uma marca roxa no meu braço. Mais acessos de raiva. As brigas sem motivo - que me deixavam exausta.
Eu sempre havia criticado aquele tipo de garota. Que achava que podia mudar alguém, e que o amor muda as pessoas.E então, eu me tornei aquele tipo de garota.
Eu o perdoava. Me apaixonava de novo com suas raras atitudes doces. Achava que podia mudá-lo. E, um certo dia, percebi que eu estava com medo. Do meu namorado.
Então houve a última vez. De longe, a pior. Nós costumávamos nadar na piscina dele, e a casa estava vazia. Seus pais estavam viajando, uma espécie de férias.
Ele começou a me beijar, e eu sabia que aquilo levaria a outras coisas. Ele queria, e ficou me pressionando.
Mas eu não. Não estava pronta, ou simplesmente não podia confiar totalmente nele. E eu sabia que ele havia bebido aquele dia, então eu não teria nada do Marcus doce e gentil, apenas o garoto irradio que me assustava. Eu odiava quando ele bebia.
Mas Marcus não entendeu. Ele surtou, dizendo que eu não o amava. Eu tentei acalmá-lo, porque sabia que ele havia bebido, mas aquilo só piorou as coisas, e ele começou a me dar socos descontroladamente.
Eu estava apavorada, e comecei a correr, tentando chegar até a porta. Ele começou a jogar coisas em mim, e me alçançou, gritando uma série de palavras horríveis, e quando olhei pra ele, eu sabia que precisava sair dali. Então eu simplesmente desliguei, enquanto ele fazia seu estrago, até Keana e Xavier chegarem, e o tirarem de cima de mim.
Eu ainda me lembro da sensação. Isso me persegue diariamente. O pânico. As mãos que não paravam de tremer. As lágrimas. A sensação de estar sendo seguida. E o seu olhar - aquilo ainda me atormentava.
Eu não conseguiria esconder os machucados de meus pais - daquela vez, eles eram visíveis demais. Keana havia demorado um tempo assustadoramente grande pra fazer meu rosto parar de sangrar, enquanto tentava convencer Xavier a não ir atrás de Marcus.
Eles estavam trabalhando.
Fiz Keana e Xavier prometerem que não contariam a ninguém, arrumei minhas coisas, e liguei pra Rebeca. Fingi que estava dormindo, e sai no meio da noite. Comprei uma passagem, e não voltei. Meus pais surtaram, mas eu inventei algumas desculpas. Rebeca me ajudou.
Sempre achei que o primeiro amor nos transformasse. Que se apaixonar mudasse algo nas pessoas. Mas nunca imaginei que de forma tão ruim e definitiva.

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Perto do limite
RomanceEu passei muito tempo tentando entender o que essa história representa - para os leitores e para mim, mas acho que, no fim, é uma história sobre se apaixonar. Sobre como o amor pode trazer de volta cores para uma parte da sua vida que estava em somb...