Mick
Acordei no fim da tarde com o som alto da bateria de Tray. Aquele idiota não deixava ninguém dormir.
Tudo bem, aquele era o apartamento dele, e eu precisava mesmo dar o fora dali em algum momento.
Me levantei, ignorando a dor de cabeça que não passava, e joguei um pouco de água no rosto, procurando nas gavetas da pia por algum remédio para dor, mas Tray não tinha nada ali que eu me atreveria a tomar depois de ter exagerado na noite anterior. Droga de ressaca.
Ele tocava bateria no meio da sala, enquanto Luke cantarolava uma música que eu desconhecia, e Natasha os assistia, parecendo empolgada.
- Achei que você tivesse morrido naquele quarto - ela foi a primeira a notar minha presença, sorrindo, e me ofereceu a tigela que tinha em suas mãos. Enfiei um dos morangos na boca, e Tray fez uma careta em nossa direção. Ele realmente estava com ciúmes? Natasha era apenas uma amiga.
- Aposto que se esqueceu do ensaio - Luke me olhou com uma cara feia. Ele levava aquela coisa de ensaiar muito a sério, enquanto eu e Tray na verdade não nos importávamos muito, desde que pudéssemos fazer nossa música.
- Não esqueci - resmunguei, me lembrando que na verdade, havia deixado minha guitarra em casa, mas omiti aquela parte. - Onde está Zach?
- Enrolado com a faculdade. Ele vai nos encontrar no Taverna.
Aquele era o pub do pai de Zach - o integrante mais velho da Andrômeda, e também seu criador. Ele era, de certa forma, meu melhor amigo, embora nenhum de nós falasse muito sobre isso. Por ser domingo, o lugar não estaria muito cheio, o que era bom, pois mal havíamos ensaiado, e não teríamos muito tempo.
- Tem alguma guitarra sobrando? - perguntei, não querendo voltar pra casa naquele momento, porque eu sabia que, se voltasse, não conseguiria sair de lá tão cedo. Não sem antes ter a conversa com Miranda, ou talvez até Greg - o caralho do meu irmão mais velho, que provavelmente se prolongaria por um bom tempo. E eu não estava com cabeça pra aquilo.
- Use a de Natasha. Ela não vai tocar hoje - Tray sugeriu.
Natasha tocava com a gente de vez em quando, mas não era oficialmente integrante da banda, pois seu trabalho e a faculdade não lhe davam muito tempo livre.
- Valeu, linda - eu pisquei para ela, irritando Tray, que veio pra cima de mim com uma expressão mal-humorada.
- Parem com isso - Natasha riu, sentando-se no sofá para nos ouvir tocar, e Luke revirou os olhos.
- Sou o único que acha que devemos ensaiar? - ele perguntou, bufando, e me lançou um olhar irritado.
- Você precisa relaxar, caralho. Tenho algo pra você - Tray se afastou, e ouvi-o derrubar algo no banheiro. Olhei na direção de Natasha, e ela tentava esconder uma careta, mas eu sabia o que estava pensando. Ela não se importava com o fato de Tray encher a cara de vez em quando - ela o botava pra fora de seu apartamento quando ele exagerava, mas ela não aprovava o lance das drogas. Ou qualquer coisa que as envolvesse. Seu irmão mais novo já havia tido um problema com isso, Zach me dissera, mas nenhum de nós costumava falar sobre isso.
Ele voltou alguns segundos depois com uns comprimidos esquisitos na mão, e o rosto de Natasha se fechou em uma carranca, mas ela não disse nada.
- Cara... - Luke começou, provavelmente pensando num discurso qualquer antidrogas, e Tray pareceu querer dizer algo, mas eu o interrompi, pegando os comprimidos de sua mão.
- Me dá isso - guardei-os no bolso, e eu sabia que todos eles estavam se perguntando se eu os usaria ou jogaria fora. Eu sabia que, no caso da última opção, Tray ficaria meio puto.
- Mick... - Luke franziu o cenho em desaprovação, e eu o ignorei.
- Vai ser uma noite longa. O que vamos tocar?
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Perto do limite
RomanceEu passei muito tempo tentando entender o que essa história representa - para os leitores e para mim, mas acho que, no fim, é uma história sobre se apaixonar. Sobre como o amor pode trazer de volta cores para uma parte da sua vida que estava em somb...