Mick
Eu nunca me dera muito bem com meu pai. Sempre havia achado que ele preferia Greg.
Eu não era lá o exemplo de filho perfeito. Enquanto meu irmão mais velho ia cursar medicina, e estava noivo de uma garota inteligente, educada, e realmente bonita; tudo o que eu queria era ser uma estrela do rock, e não tinha namoradas fixas.
Eu sei, meio previsível. Mas o que eu podia fazer? Garotos de 16 anos não querem pensar no futuro, e no que estarão fazendo aos 40 anos. Eu não queria pensar.
Até Alison.
Eu nunca pensei que fosse me apaixonar, e ela nem fazia meu tipo - se é que eu sequer tinha um. Geralmente, qualquer garota bonita servia, e sei o quão horrível isso soa. Mas aquele era eu, o idiota.
Não tanto. Eu ainda tirava boas notas, embora não tivesse a "genialidade de Greg" - era o que meu pai dizia.
E houve uma época em que eu me importara. Mas aos 16 anos de idade, isso não fazia lá muita diferença.
Se me perguntassem o que eu queria ser, eu diria famoso.
Eu fazia parte de uma banda - essas de garagem, que todos acham que não vai a lugar nenhum. E pra falar a verdade, na maior parte do tempo eu achava que eles estavam certos. Nós nem sequer tínhamos músicas originais. Mas eu gostava daquilo. Gostava de quem eu era com a guitarra. Gostava de me imaginar num estádio lotado com pessoas gritando meu nome. Garotas gritando meu nome. Meio narcisista, eu sei.
E então ela apareceu.
Conheci Alison num evento chato da faculdade em que Greg estudaria. Ela parecia tão entediada quanto eu, enrolando uma mecha do cabelo dourado nos dedos, e cantarolando baixinho uma música que só ela ouvia.
Nós não tínhamos nada a ver. Ela parecia uma daquelas garotas riquinhas e mimadas sem cérebro, e elas geralmente não faziam meu tipo.
Mas por algum motivo, Alison brilhava. Céus, ela parecia o centro daquele salão. E ninguém se importava por ela não estar prestando atenção naquela palestra chata sobre pesquisas que não entendíamos. As pessoas sorriam pra ela.
Ela era linda, de um jeito bem óbvio.
Eu a encarava fixamente, esperando que ela retribuísse. Mas nenhuma vez a garota olhou na minha direção. Ela tinha aquele ar presunçoso, como se não tivesse prestando atenção em ninguém além de si mesma.
Então me levantei, fazendo questão de encará-la significativamente ao passar por sua cadeira, e ela sorriu. Com aquelas covinhas e tudo.
Fiquei esperando lá fora pelo que me pareceu uma hora, até a garota aparecer.
Ela usava um vestido, daqueles de verão, com umas estampas ridículas que poucas pessoas se arriscariam a vestir. Mas estava linda. Bronzeada, e com aquele rosto em forma de coração.
- Você demorou - eu disse, e ela demorou mais uma eternidade para responder.
- Queria ver quanto você me esperaria - ela disse, mostrando aquele sorriso de covinhas novamente, e então eu a beijei. Simples assim. E seus lábios tinham gosto de cereja.Depois disso, pedi seu telefone, e nós começamos a sair.
Descobri que o pai dela era o tal palestrante, um cirurgião famoso, e ela estava na cidade por algumas semanas.
Quando Alison foi embora, achei que tudo bem. Ela era só uma garota. Uma garota bonita, mas só mais uma.
Mas eu estava enganado. Céus, eu não conseguia tirá-la da minha cabeça.
E ela não atendia o telefone. Quem diria que eu é que seria dispensado por ela?
Mas não deixei pra lá. Num fim de semana, peguei um ônibus, e fiquei procurando por ela igual louco naquela cidade enorme, com um endereço da lista telefônica que provavelmente estava errado.
Eu a encontrei.
Eu não o que me atraia nela. Claro, ela era linda. E espirituosa. Tinha personalidade. E eu estava louco por ela.
Começamos a namorar. Ela vinha pra Blush City nos finais de semana, ou eu ia até Nova York. E meus pais a adoraram. Todos a adoravam. Ela parecia meio...magnética.
Eu estava apaixonado, mas tinha a impressão de nunca ter o bastante de Alison. Ela sumia - às vezes, ficava irradia facilmente, e era muito mimada. Ela era um saco às vezes, mas o que eu podia fazer? Estava apaixonado, e eu também não era lá grande coisa.
Ficamos juntos por alguns meses, até meu pai ficar doente.
Acho que me afastei. Tenho tendência de fazer isso quando coisas ruins acontecem, e sei que não era justo com ela.
Achei que ela ficaria do meu lado, mas acho que simplesmente mudei, e Alison já não gostava do que eu era. Quieto, mal-humorado, até um pouco desagradável. Triste, talvez.
Então ela terminou. E nem teve coragem de me dizer. Simplesmente não apareceu num final de semana, não retornou minha ligações. Eu corri atrás, por muitos dias. Então uma semana depois ela me mandou uma mensagem, dizendo para eu deixá-la em paz.
Uma droga de uma mensagem. Eu continuei tentando, como o idiota que era, mas ela não mudou de ideia.
E aquilo acabou comigo. Uma garota acabou comigo.
Me apaixonar por Alison acabou comigo, e eu prometi a mim mesmo que nunca deixaria alguém me destruir de novo.

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Perto do limite
RomanceEu passei muito tempo tentando entender o que essa história representa - para os leitores e para mim, mas acho que, no fim, é uma história sobre se apaixonar. Sobre como o amor pode trazer de volta cores para uma parte da sua vida que estava em somb...