Capítulo 21

56 6 0
                                    

Mick

Eu tomava meu segundo drink quando os amigos de Zach chegaram. O pub estava cheio - mais do que o normal, o que de certa forma me deixava um pouco nervoso. Eu precisava relaxar.
Pensei em tomar um dos comprimidos de Tray. Não, eu não faria isso. Não de novo.
Leah ainda não havia me respondido, e eu queria que ela estivesse aqui.
Cara, o que aquela garota estava fazendo comigo?
Talvez uma bebida pudesse me acalmar - pensei, pegando mais um drink antes de subirmos ao palco.
Como eu havia sugerido, depois de algumas das músicas originais que Luke compunha, tocamos Closer to the Edge, e alguns outros covers.
Não era a bebida - eu percebi - que me fazia relaxar. Era aquilo. Aquela sensação estranha de algo parecido com liberdade. Na verdade, algo mais foda que isso. Era assim que eu me sentia quando nos apresentávamos. Como se nada importasse. Como se eu pudesse ser só um cara com sua guitarra. Como se tudo se resumisse ao momento.

- Acho que nós mandamos ver - Tray nos reuniu numa espécie de abraço em grupo desajeitado, e pude notar pelo modo como ele enrolava as palavras que estava bêbado, ou quase isso. Com Tray, nunca dava pra saber.
- Pois é - eu disse, e fizemos um brinde idiota com aqueles drinks especiais que o bar servia. Já era meu terceiro, embora eu não quisesse ficar bêbado. Se eu planejava voltar dirigindo para casa, deveria parar.
Não que eu nunca tivesse dirigido bêbado antes - já havia tomado uma multa bem alta por isso - mas Miranda ainda estava um pouco brava comigo, e eu duvidava que ficasse feliz com o fato de eu estar enchendo a cara, e eu não me orgulhava disso.
Já passava das onze quando Zach se levantou, despedindo-se de seus amigos da faculdade - que também pareciam um pouco bêbados - e resolvi ir pra casa também.
Notei que algumas garotas haviam gravado nossa apresentação, e pensei em pedir à elas para enviarem depois.
Tray resmungou algo sobre todos estarem indo embora, e parecia prestes a vomitar.
- Consegue dirigir? Ou ao menos andar em linha reta? - Zach me perguntou, depois de arrumar uma carona sóbria para Tray e garantir que Luke fosse embora com alguém.
Ele era meio que o responsável entre nós, pensei, com uma certa inveja e orgulho. Apesar das minhas porcarias, ele ainda era uma espécie de melhor amigo.
- Não estou bêbado - falei, e era verdade. Eu já havia bebido bem mais do que aquilo, pensei, me lembrando de nossa primeira apresentação.
- É, pelo menos dessa vez você não vomitou no palco - Zach disse, meio que tirando uma com a minha cara. É, ele também se lembrava. - Tome cuidado.
Eu estava prestes a fazer alguma piada sobre a primeira e única vez em que Zach havia ficado realmente bêbado - em um acampamento quando tínhamos em torno de 15 anos - e vomitado em uma garota de quem era afim, quando a vi.
- Acho que a noite vai ser boa - Zach disse, em um tom de voz malicioso, e o ignorei, não conseguindo tirar os olhos dela.
A garota parecia me perdida, o que me deu um pouco mais de tempo para encará-la - e eu podia jurar nunca tê-la visto daquele jeito antes.
Ela vestia uma saia, preta, que se ajustava perfeitamente às suas curvas - e, caralho, Tray tinha razão. Que pernas. E eu também podia dizer que estava usando maquiagem. Seus olhos - eu notei quando ela veio em minha direção - pareciam maiores e mais brilhantes, e cara, aquela boca. Eu não sabia que um batom ou sei lá o que podia deixar alguém tão sexy.
- Hey - ela disse, parecendo um pouco desconcertada, e então percebi que eu deveria a estar encarando feito um idiota. Foda-se, ela estava tipo...nossa.
- Você está atrasada, linda - eu disse, brincando. Na verdade eu não me importava. Ela estava ali. E eu não conseguia parar de encará-la.
- Estava num jantar com meus pais - ela disse, parecendo se desculpar, e sorriu - E como foi o show?
- Nós tocamos aquela banda que você gosta - eu disse, e ela pareceu desapontada - Eu podia fazer algo particular, mas isso exigiria algum tipo de pagamento...
Baixei o tom de voz, diminuindo a distância entre nós, e ela olhou para os próprios pés, parecendo distraída. Ou envergonhada.
- Isso é uma espécie de convite? - ela perguntou, alguns instantes depois, repetindo o que eu havia dito na noite anterior, e não pude deixar de pensar se era.
Eu não costumava levar garotas para casa - na verdade nunca quisera levá-las, mas não sabia muito bem em que categoria Leah se encaixava. Ou se havia uma que a definisse.
A verdade é que eu não sabia como defini-la, e isso meio que me agradava.
- Se você quiser que seja - eu afastei uma mecha de seu cabelo que grudava no rosto, e ela me encarou por um tempo que me pareceu grande pra caralho até concordar.

Perto do limiteOnde histórias criam vida. Descubra agora