Capítulo 41- continuação

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(Mick)

Eu sabia que deveria parar. A ressaca da noite anterior ainda deixava seus rastros, e o uísque daquela tarde já mostrava efeitos. Eu sabia que deveria parar, mas continuei bebendo. Eu continuei virando o conteúdo daquela garrafa garganta abaixo. E fumando como um louco. Eu também sabia que Leah odiava o cheiro daquilo - e uma parte de mim havia comprado o maço para irritá-la, mesmo sabendo que ela, provavelmente, não o veria. Porque não tínhamos nada.
Ignorei sua mensagem alguns minutos atrás, e então ela estava me ligando. E eu estava cansado daquilo. Aquela coisa de quente e frio. Talvez ela só quisesse dar os pêsames pela coisa com meu pai, mas eu não queria a piedade dela. Nem de ninguém. E aquilo era tudo o que as pessoas estavam me dando - pessoas com quem eu nunca falara na escola me mandando mensagens. Até Luke fingira encher a cara, como se aquilo fosse me consolar. Miranda me perguntando se estava tudo bem toda vez que eu aparecia na sua frente.
Eu só queria desaparecer por alguns dias, mas sabia que não podia fazer isso.
A morena bonita tornou a encher meu copo, e lhe ofereci um sorriso, porque ela vinha fazendo isso desde que eu me sentara no chão sujo daquele apartamento - de uma festa para a qual eu não fora convidado - mesmo eu não pedindo isso, e eu sabia que ela estava se oferecendo. E naquele momento, não me importava que ela fosse uma completa desconhecida, ou que eu estivesse tão bêbado que sequer se lembraria de seu rosto no dia seguinte, porque era justamente aquilo o que eu precisava. Esquecer. Tudo.
Ela se sentou ao meu lado, ajeitando o top apertado que a fazia parecer uma daquelas garotas pinap, e acendeu um cigarro, o que normalmente poderia ter me irritado, porque eu não curtia garotas que fumavam; mas naquele momento não me importei. Então percebi que aquilo era, na verdade, maconha, e pedi à ela que me deixasse dar um trago.
Então nós passamos uma boa parte da noite assim - fumando e bebendo, com apenas algumas pausas para beijos, e ela era quente, e depois de um tempo procuramos por algum quarto vazio no fim daquele corredor.
Num certo momento, a garota sentou em meu colo, colocando a mão ao redor de meu pescoço, e mergulhei as mãos por dentro de sua camiseta, tentando tirar a imagem de Leah de minha cabeça. Mas que porra. Abri os olhos, tentando me concentrar em seus olhos cor de mel e nos lábios cheios, entreabertos, que vinham em minha direção, mas tudo parecia desfocado, e as imagens se confundiam facilmente, e acho que disse algo, então ela me encarou com uma expressão confusa.
Sussurrei à ela uma desculpa quase ininteligível sobre eu estar bêbado demais para aquilo, e me levantei, segurando-me na parede. Ela me olhou como se eu fosse um idiota, e eu era, e estava prestes a procurar Tray e dar o fora dali - nós podíamos beber em seu apartamento, porque eu suspeitava que Natasha não estava lá (eles haviam brigado), quando percebi que talvez eu tivesse ido longe demais, porque eu não conseguia me manter em pé, e senti algo quente escorrer de meu nariz, então percebi que era meu próprio sangue.
- O que você tem? - ela me perguntou, e eu não sabia dizer se seu tom se parecia com "você está bem?" ou "o que há de errado com você?", mas eu não parei pra pensar sobre aquilo, porque precisava vomitar. E minha cabeça parecia prestes a explodir em algum ponto bem no centro da porra da minha testa. Cacete.
Procurei por um banheiro vazio, e quando um deles foi desocupado por uma garota que parecia quase tão bêbada quanto eu, apaguei a luz, me jogando num canto escuro do chão, com as mãos na cabeça e me perguntei que merda eu estava fazendo. E porque a porra da minha cabeça doía tanto.
Eu sabia que precisava ir embora dali, mas não conseguiria - eu mal podia ficar em pé, e eu não tinha pra onde ir.
Me levantei, jogando um pouco de água fria no rosto, e abri as gavetas do banheiro, procurando por algum comprimido para dor. Eu sabia que não deveria misturar mais nada com a quantidade de álcool que havia bebido, mas aquela porra estava me matando.
Engoli um adivil, e alguns instantes depois, voltei para o quarto escuro, encontrando a garota bonita fumando na cama, e me ofereceu um cigarro.
- O que aconteceu com você? - ela perguntou, num tom um pouco desinteressado, e dei de ombros, fingindo não ser nada demais, e ela fingiu não ter se importado com o fato de eu tê-la chamado pelo medo de outra garota.

Perto do limiteOnde histórias criam vida. Descubra agora