Mick
Eu não a estava procurando, porque não queria vê-la. Eu ainda estava me sentindo um merda pela noite passada, mas não podia lidar com aquilo naquele momento. Ou com qualquer outra coisa.
Tudo o que eu queria encher a cara novamente. Mas não podia, porque Miranda havia me visto chegar, durante a madrugada, e o olhar em seu rosto me dissera o que eu já sabia: eu era um idiota. E minha cabeça ainda parecia prestes a explodir - coisa que nem alguns comprimidos de Adivil conseguiu melhorar.
Eu não podia beber, então precisava encontrar outras formas de me distrair. Fumar não ajudava, mas me dava algo para fazer, já que eu havia esquecido meu I pod em algum lugar na bagunça de meu quarto. E eu precisava de algo pra fazer, porque não sabia até quando eu aguentaria as pessoas me dizendo que sentiam muito - e Luiza sendo mais grudenta do que o habitual. Tudo bem, eu estava sendo um babaca. Na verdade, ela até estava sendo legal, o que me surpreendeu, mas ela não era Leah - lembrei a mim mesmo, e embora aquilo não fizesse porra de sentido nenhum, a garota era a única companhia que eu desejava, naquele momento; embora eu não quisesse falar com ela, ou vê-la, porque eu sabia que havia feito merda. E eu ainda estava com raiva.
E talvez fosse melhor assim. A garota parecia não saber o que queria, e eu não tinha muita paciência - e na verdade nem sabia lidar com aquilo - aquela coisa de quente e frio.
Então me decidi por não falar com ela, afinal, a garota vinha me ignorando desde a última noite em que havíamos saído, e aquilo seria, portanto, fácil.
Na verdade eu estava enganado. Eu não a tinha visto, a princípio, mas então notei Luíza bufando, e me virei em sua direção. Então passei meu braço ao redor da cintura de Luiza, que sorriu para mim, e esperei que Leah se afastasse, entendendo o recado.
Você não precisa se preocupar, Leah. Estou em outra - eu queria dizer, embora aquela fosse uma mentira do caralho.
- O que aquela garota está olhando? - Luíza perguntou, revirando os olhos, e percebi que Leah ainda nos encarava. Então ela se afastou, e tentei não ouvir os comentários de alguns garotos sobre ela.
- Já volto - me afastei, alguns minutos depois, não dando tempo para que Luíza protestasse, e a comecei a procurá-la.
Vi que ela havia seguido na direção da quadra, então fui para lá. Eu não sabia o que ia fazer - ou o que diria.
Encontrei-a sentada atrás da quadra de basquete, com seus fones de ouvido, e a garota me encarou, não escondendo sua irritação, ao ver que eu me aproximava.
Me sentei a alguns centímetros dela, que resolveu me ignorar, e procurei pelo maço, que eu havia comprado mais cedo, no bolso. Eu precisava de um cigarro, e sabia que aquilo a irritaria, então talvez ela decidisse falar comigo. Ela precisava falar primeiro, porque eu não sabia o que dizer - ou como dizer.
Então ela guardou suas coisas na mochila, e se levantou, suspirando, e eu soube que precisava dizer algo.
- Não precisa ir embora.
Minha intenção não era ser grosso, ou irônico, mas pelo modo como ela crispou os lábios, eu podia ver que havia soado dessa maneira.
- O que você quer, Mick? - ela perguntou, depois de parecer indecisa se dizia algo ou não, e eu simplesmente não sabia como responder.
- Falar com você - eu disse, o que era apenas uma parte da verdade. Eu havia ido até ali porque queria ficar com ela - pelo menos por um tempo. Ou ver se ela ainda conseguia ficar perto de mim - se a garota me odiava. A verdade era que Leah me acalmava, e eu precisava de calma naquele momento. Mas eu sabia que as coisas estavam fodidas entre a gente, porque ela havia me chutado, e eu havia sido um idiota na última noite.
Mas então ela se sentou ao meu lado, me olhando atentamente - de um jeito que me incomodou um pouco - como se ela realmente quisesse me entender, e eu soube que, independente de como as coisas estavam entre nós, eu precisava me desculpar. Porque ela realmente parecia...chateada. E eu não queria pensar que eu a havia magoado - que eu podia fazer isso.
- Leah - eu a encarei, e pude ver, por alguns instantes, um pouco de raiva em seu olhar, então ela se levantou, e eu sabia que eu estava certo: eu a havia magoado.
- Não - ela se afastou quando segurei seu braço, e eu pensei que ela realmente ia embora.
- Você nem sabe o que vou dizer - repliquei, o que era irônico, porque nem eu mesmo sabia.
- Eu não quero ouvir - ela disse, encarando as próprias mãos, e eu me senti um idiota, porque ela realmente parecia chateada. Que porra.
Então aproximei minha mão da sua, desejando que a garota não se afastasse, porque ela parecia tão nervosa - eu podia dizer isso pelo modo como ela apertava as próprias mãos - e a segurei. Ela não me encarou, mas continuou ali, e eu sabia que precisava me desculpar.
- Você pode me perdoar? - perguntei, a encarando, embora eu não quisesse fazer isso. Porque se ela se afastasse - como das outras vezes - eu sabia que ia me sentir como um merda. Droga, eu...gostava da garota. E não a queria longe - independente do que isso pudesse significar. Na verdade, ela era a única pessoa que eu queria por perto nos últimos dias, embora aquilo fosse loucura, porque nós mal nos conhecíamos.
- Você não precisa me afastar - ela disse, e me perguntei no que diabos a garota estava pensando. Era ela quem me empurrava quando eu tentava me aproximar. Que se dane, pensei. Eu a queria por perto. Mais do que qualquer coisa, naquele momento, e se eu tivesse que me desculpar por aquelas merdas da última noite, tudo bem.
- Então não se afaste, Leah.
Simples. Eu havia dito - tudo o que ocupara minha mente na semana anterior.
Afastei uma mecha de seu cabelo que caia em seu rosto, e tive vontade de puxá-la para perto, porque eu gostava de seu cabelo.
- Estou aqui, não estou? - ela se virou para mim, segurando minha mão, e então começou a chover, mas ela não pareceu se importar.
A puxei para perto, até ficarmos encostados na parede e a chuva só molhar nossos pés, e ela me perguntou como eu estava. Eu sabia a que ela estava se referindo, mas eu não queria falar sobre aquilo. Ou pensar. Em alguns momentos, eu quase conseguia fingir que não havia acontecido, mas a realidade sempre me superava.
- Estou bem - dei de ombros, e ela levantou as sobrancelhas, identificando a mentira facilmente, e esperei que ela deixasse aquilo pra lá. Eu não podia voltar para a escuridão novamente.
- Eu sinto muito - ela disse, e não pude esconder minha irritação, porque eu já havia perdido a conta de quantas vezes havia ouvido aquela frase naquela semana, e do quanto ela não me parecia servir para nada.
Mas então me virei para Leah, e ela parecia sincera. Talvez, até, um pouco triste, então tentei lembrar a mim mesmo que não era sua culpa.
- Vamos sair daqui - eu disse, ajudando-a a se levantar, e então corremos até o estacionamento, e ela me perguntou o que eu planejava.
- Dirigir até o bar mais próximo - eu disse, e ela fez uma careta, como se fosse uma ideia ruim. Onde estava a garota que me ajudara a acabar com uma garrafa de Vodka?
- Isso é sério? Você quer ficar bêbado às... - observei, sorrindo, ela parar seu provável discurso sobre os malefícios da bebida para procurar o celular - 9 da manhã? Porra, Mick...
Leah parecia irritada, mas eu podia ver, pelo vestígio de sorriso em seu rosto, que ela estava achando graça. Com excessão de Tray, Leah era a melhor companhia que eu podia pensar para beber. Ela tornava as coisas um pouco mais divertidas.
- Não seja uma estraga prazeres - eu disse, para provocá-la, e pareceu funcionar, porque depois que eu sugeri que podia encontrar outra companhia, ela cruzou os braços, fazendo uma careta, e eu sabia que ela estava brincando, mas podia jurar que a garota parecia quase que com ciúmes. Então eu disse à ela que estava brincando, e que aquilo era óbvio, e Leah ficou em silêncio. Eu esperava que ela entendesse minhas entrelinhas. Mas ela não disse nada, e pareceu até um pouco chateada, o que fez com que eu me perguntasse se tinha relação com a garota da última noite, mas não disse nada.
Então me dirigi até o bar mais próximo dali - e o único aberto naquele horário, e ela me lançou um olhar engraçado, como se não pudesse acreditar no que eu estava pensando.
- Eu só quero me distrair.
- Enchendo a cara? - assenti, e ela balançou a cabeça, rindo - Você é inacreditável.
Estacionei em frente a um bar pequeno, e notavelmente vazio, e embora fosse um lugar fodido para levar uma garota, teria de servir. Nós não estávamos num encontro, lembrei a mim mesmo, e eles serviam boas bebidas ali.
- É o único lugar que vamos encontrar aberto - falei, notando seu olhar, e ela não pareceu muito segura, mas me seguiu, parando por alguns segundos para conferir seu reflexo no vidro do carro, o que me fez sorrir.
- Vamos. Você está ótima - ambos sabíamos que eu só estava dizendo aquilo para apressá-la, porque eu realmente precisava de uma bebida, mas ela estava. Mesmo com o cabelo bagunçado, e as roupas molhadas por causa da chuva, eu não podia negar. Havia algo interessante na garota.
Ela resmungou algo sobre eu estar mal-humorado, e ela estava certa. Eu não estava no melhor dos meus dias. Nada que algumas bebidas não pudessem resolver, me perguntando quantas doses seriam o suficiente para tudo ficar bem.
Eu sabia que devia parar, se quisesse dirigir - ou, ao menos, conseguir chegar até em casa, mas sempre havia a possibilidade de arrumarmos uma carona, ou pegarmos um táxi. Leah também poderia dirigir, já que ela mal havia tocado nas bebidas, e parecia relutante a experimentar qualquer coisa que eu lhe oferecia, o que me deixou um pouco irritado, porque ela não estava sendo nem um pouco divertida. Eu a provoquei sobre isso, e ela disse termos definições diferentes de diversão, mas acabou aceitando a bebida.
Talvez ela estivesse com medo do que faria sob o efeito de alguns drinks, pensei, porque eu também estava. Pra ser mais exato, do que eu diria, já que Leah havia deixado bem clara sua posição em relação a mim. Era "algo de uma noite", me lembrei, fazendo uma careta, e tentei não ficar com raiva, porque eu não queria que ela fosse embora.
Então me levantei para pegar uma cerveja, porque aqueles drinks estavam me deixando tonto pra caralho, e eu mal podia ficar em pé.
- Acho que está na hora de ir pra casa - ela se levantou, me seguindo, e a ignorei, pedindo ao garçom duas garrafas de minha cerveja favorita, e lhe ofereci uma, que ela recusou.
Fiz uma piada idiota sobre sobrar mais para mim, e ela puxou a garrafa de minha mão, quase derrubando a cerveja, e a virou em alguns goles, o que me fez rir.
- Agora vamos embora? - ela perguntou, e eu podia ver que estava irritada, mas eu não queria sair dali, então ela disse que iria sozinha, e me deu as costas, bufando. Pedi mais uma cerveja ao garçom, achando que ela fosse voltar, mas a garota caminhou até a saída, firme, e não se virou, então a segui, porque apesar de ela estar agindo como uma estraga prazeres, não havia graça nenhuma em encher a cara sozinho, e eu precisava de uma carona. Porque ela precisava ser tão nada divertida logo naquele dia?
- Eu já disse que você é uma péssima companhia para encher a cara, Parker? - provoquei-a, e ela me mostrou a língua, dizendo algo sobre eu ser um pé no saco quando estava bêbado.
A garota se aproximou, e eu estava prestes a perguntar o que ela estava fazendo, quando colocou a mão no bolso da minha jaqueta, tirando as chaves do carro. Suspirei, entrando no banco de caronas, porque eu sabia que não podia dirigir daquele jeito, e teria que confiar em suas habilidades no volante. Liguei o rádio numa música do AC/DC que eu não ouvia há muito tempo, e ela me olhou como se eu fosse maluco, mas não reclamou em relação ao volume. Pelo modo como ela batia os pés e controlava um sorriso, eu podia dizer que ela também gostava da música. Comecei a cantar, não me importando com o fato de ela estar me encarando de um jeito meio esquisito - como se estivesse gostando do que ouvia. Então cantamos bem alto, e não me importei com o fato de as pessoas estarem olhando, porque ela estava sorrindo, e a garota ficava bem bonita quando sorria.
Eu estava bastante distraído, e não havia ouvido sua pergunta no início, mas depois de alguns segundos percebi que ela me encarava, esperando uma resposta, e murmurei um "é claro", porque sua pergunta era bastante óbvia. Eu já havia perdido a conta de quantas vezes Leah havia me perguntado se eu estava bem - tudo bem, eu estava exagerando, mas eu podia ver que ela estava preocupada, e aquilo me deixava confuso.
Fechei a porta do carro, mas pude ver que ela me seguia, e eu sabia que aquilo estava indo longe demais. Nós nos conhecíamos há apenas...caralho, eu já havia perdido a noção do tempo. Mas ela era só uma garota. Uma garota com pena, e eu não precisava de mais uma delas.
- Leah - me virei para ela, tentando não parecer irritado, porque eu sabia que, apesar de tudo, suas intenções deviam ser boas. Ela me parecia uma garota legal. Na verdade, eu sabia que ela era.
- Não quero que se preocupe - continuei, a encarando, e ela abriu a boca, parecendo querer dizer algo, mas esperou que eu terminasse - Eu estou bem.
Ela se sentou ao meu lado, suspirando, e me deu um daqueles seus olhares, que eu ignorei.
- Eu gosto de ficar com você, Mick - ela disse, e eu quis acreditar, mas, com Leah, sempre haveria um mas. Eu sabia que ela podia mudar de ideia sobre isso no dia seguinte, mas a garota pareceu tão sincera que resolvi não dizer nada. Ou talvez eu apenas quisesse acreditar. Na verdade, eu queria, então sorri para ela, e a garota encostou a cabeça em meu ombro por alguns instantes, parecendo se esquecer sobre tudo o que havia acontecido nos últimos dias, e eu resolvi esquecer também, então a provoquei em relação ao que ela havia dito - sobre eu ser um pé no saco quando bebia, e me levantei, porque eu sabia que com certeza havia algumas garrafas de vinho na geladeira. Na verdade, eu estava torcendo para que Miranda não tivesse acabado com elas.
- Eu não vou limpar vomito de ninguém - ela disse, ao me ver com a garrafa de vinho na mão, o que não exatamente era a reação que eu esperava, e soltei uma gargalhada, porque era preciso bem mais do que aquilo pra me deixar de porre.
Apesar de eu ter acabado com boa parte da garrafa sozinho, a garota se convenceu, alguns instantes depois, a dar alguns goles, e murmurou algo sobre aquele vinho estar bom, o que era verdade, mas eu já não conseguia notar a diferença - minha cabeça estava girando, e eu tinha certeza de que vomitaria qualquer coisa que bebesse. Leah estava certa.
Passei a garrafa quase vazia para a garota, subindo as escadas devagar, porque eu não queria levar um tombo, e eu duvidava de que pudesse me levantar.
Vomitei pelo o que me pareceu tempo pra caralho, e comecei a me perguntar quanto eu realmente havia bebido - porque eu não fazia ideia de que estava assim tão mal - quando ouvi-a gritar algo sobre eu estar ficando fraco para bebidas, e pensei em responder com alguma piadinha irônica, como nossas brincadeiras, mas eu estava sem fôlego. E tudo estava girando.
Tentei me levantar, tomando o cuidado de não derrubar nada, e joguei uma porrada de água no rosto, tentando tirar aquela sensação de minha cabeça de que tudo estava girando, e procurei por minha escova de dentes, quando ouvi alguns passos no quarto, e a garota bateu na porta.
- Não se pode vomitar em paz? - perguntei, irritado, quando ela a abriu apesar de eu ter dito para ir embora, e a garota ignorou meu mau-humor, perguntando me se eu estava bem, depois de me encarar por alguns instantes, como se estivesse examinando um paciente. Meu Deus, Leah, eu quis dizer, mas ela realmente parecia preocupada, o que me fez sorrir. Então a garota me empurrou contra a parede, e antes que eu pudesse me perguntar o que ela estava fazendo - e tentar não cair - ela colocou suas mãos em meu pescoço, e então senti um jato de água fria em minha cabeça. Porra.
- Isso não foi legal, Leah - a puxei em minha direção, impedindo que ela se movesse, e ela soltou um grito quando a água fria caiu em seu rosto, o que me fez rir.
Ela me empurrou, brava, pegando uma das toalhas penduradas nos cabides, e comecei a tirar a camisa, porque eu sabia que iria provocá-la, o que pareceu funcionar, porque ela me lançou um olhar demorado, e pareceu momentaneamente desconcertada.
- Você não quer ficar? - perguntei, com um sorriso irônico, e ela me mostrou o dedo do meio, mas pude ver que quase sorria.
Tomei um banho um pouco demorado, quase me arrependendo de toda aquela quantidade de bebida que havia tomado, porque eu não conseguia me concentrar, e as coisas ainda pareciam girar em câmera lenta. E eu sabia que teria que aguentar uma dor de cabeça dos infernos no dia seguinte. Na verdade, era daquilo que eu precisava. Uma boa noite de sono. Mas eu sabia que não conseguiria - eu mal conseguia manter meus olhos fechados por algumas horas.
Procurei por alguns daqueles comprimidos para enxaqueca que Miranda tomava, e engoli dois deles. Abri a porta, e Leah, que fazia algo no cabelo, em frente ao espelho, me lançou um olhar mal-humorado, provavelmente ainda irritada pelo banho de água fria, que na verdade fora culpa dela. Peguei algumas roupas na gaveta, e quando me virei, a garota ainda estava me encarando, e pareceu envergonhada. Pensei em fazer algum comentário irônico, mas eu não sabia como ela responderia, então fingi não notar aquilo. Ela se levantou, e então me lembrei de que suas roupas também estavam molhadas, e de que estava frio pra cacete, e procurei por alguma camisa limpa. Eu sabia que iria ficar grande - Leah era pequena, e magra, mas ela pareceu não se importar, e voltou alguns segundos depois, com as mangas dobradas, enquanto eu procurava por alguma música boa em meu I pod, e lhe estendi um fone.
Ela se deitou ao meu lado, e precisei lembrar a mim mesma do que ela havia dito a algumas semanas atrás para convencer-me de que colocar os braços ao seu redor, ou até mesmo acariciar seu cabelo, seria errado. Fechei os olhos, tentando não tomar consciência de sua presença, que não podia ser ignorada, ao meu lado, e me concentrei no som de Asleep.
Aquele remédio estava me deixando sonolento, mas eu não conseguia dormir, mesmo estando absurdamente cansado. Leah, entretanto, pegou no sono rapidamente, encostando a cabeça em meu peito, e tentei não pensar muito sobre isso. Nem sobre o fato de que ela ficava bonita dormindo - como se, sei lá, parecesse calma ou algo assim. Na verdade, ela era bonita, e parecia haver uma distância do caralho entre a época em que eu não notara isso e...agora. Ela era. Leah tinha olhos bonitos, e mesmo fechados, eu me lembrava de como eles eram. Grandes e escuros. Brilhantes. E ela tinha umas pintinhas pequenas e escuras perto do nariz, que se pareciam com sardas, e um belo sorriso. E aquela boca. Eu adoraria beijá-la naquele momento.
Afastei uma mecha de seu cabelo, úmido, que grudara em seu rosto, e fechei os olhos, não tentando tirar seu rosto de minha mente. Porque, dane-se, eu podia pensar nela o quanto eu quisesse.Já havia escurecido quando acordei, e Leah não estava na cama. Procurei por meu celular, vendo que já passava das nove, e me surpreendi com o fato de eu ter dormido tanto, sem interrupções. Era a primeira vez nos últimos dias.
Procurei, no banheiro, por mais algum daqueles remédios para dor de cabeça que Miranda tomava, porque estava voltando, e novamente me repreendi por ter bebido tanto.
Desci as escadas, encontrando Greg no sofá, assistindo um canal de esportes, e me perguntei se ele já estava aqui quando Leah havia acordado, e como ela fora embora. A garota não morava tão longe, mas eu ainda esperava que ela tivesse me acordado - não queria que ela tivesse ido embora sozinha, e queria ter ficado um pouco mais com ela. Sua presença causava uma sensação que eu, de certa forma, gostava.
Peguei um copo d'água, porque meu estômago ainda estava meio fodido, e eu sabia que não conseguiria comer, quando ele se virou em minha direção.
- Ela acabou de ir - Greg disse, se referindo a Leah, e agradeci mentalmente ao fato de ele não ter usado o tom de desprezo daquela noite, porque eu não estava com cabeça para brigar.
- O que você disse à ela? - perguntei, curioso, não sabendo o que seria pior. Ele tratá-la mal, ou ignorar sua presença.
Porque a garota não havia me acordado?
- Nós conversamos. Ela parece uma...garota legal - não pude evitar estreitar os olhos, porque desde quando diabos Greg conversava com alguma das garotas que eu trazia? Ele mal falava comigo. E eu ainda me lembrava do modo como ele havia se referido a ela na primeira noite em que eu a havia trago, e aquilo ainda me deixava meio puto.
Mas eu também me lembrava que algo acontecera naquela noite, antes de irmos ao hospital, e ele não parecia com raiva. Nós havíamos conversado depois de...caralho, eu já até havia perdido a conta.
- Vocês conversaram? - repeti, não escondendo meu tom de incredulidade, e ele assentiu, revirando os olhos - O que você disse à ela?
- Caramba, Mick. Só conversamos. Perguntei se ela gostaria de ficar para o jantar. Ela perguntou sobre você. Eu fui legal - ele suspirou, como se eu o estivesse irritando, e caminhei até ele.
- Vocês jantaram? - eu perguntei, apesar de minha curiosidade estar na parte de ela ter perguntado sobre mim. O que ele havia dito? E que diabos ela queria saber?
- Sim - fiz uma careta, e ele recuou - Você é impossível.
Subi as escadas, o ignorando, embora eu quisesse lhe perguntar milhões de outras coisas. Sobre o que eles haviam conversado? E porque Leah havia falado com ele? E porque raios eu estava com ciúmes? Não, não era ciúmes. Eu estava com medo. Do que Greg podia ter dito.
Vi sua mensagem alguns segundos depois, e ela dizia "Eu precisava vir pra casa..."
Pensei em perguntar sobre Greg, mas eu sabia que, se falasse sobre aquilo naquele momento, iria acabar sendo um idiota, e não tinha nada a ver com ela.
"Queria que você estivesse aqui" respondi, ao invés, porque era verdade, e ela me perguntou se eu estava bem. Meu deus, Leah - não pude evitar uma risada, mesmo não tendo graça. A garota estava irritando com aquilo.
Tudo bem, eu só estava mal-humorado, e precisei lembrar a mim mesmo que eu não devia descontar nela.
"Já disse pra não se preocupar..." respondi, e quase pude visualizá-la fazendo uma careta, como quando eu a irritava "Eu estou bem ;)"
"Tudo bem", ela respondeu, e eu soube que estava certo. Minha resposta não a satisfazera. Então, depois de alguns minutos, liguei para a garota, perguntando se nos veríamos no dia seguinte, porque eu queria ouvir sua voz.
"Sim, mas sem bebidas por favor. Acho que vou vomitar..."
"Elas são a melhor parte!" respondi, e era uma verdade parcial. Elas me distraiam. Mas não eram uma parte boa, nem de longe.
"Ugh. Adeus fígado."
"Leah..." não pude evitar rir. O que ela estava dizendo? "Você é a garota mais maluca que conheço."
"E você é péssimo com elogios..." pude ouvi-la bocejar "acho que preciso dormir. Boa noite, Mick."
"Boa noite, Lee" desliguei, ouvindo sua respiração do outro lado do telefone, e me perguntei se ela ainda vestia a minha blusa. A possiblidade me fez sorrir.
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Perto do limite
RomansEu passei muito tempo tentando entender o que essa história representa - para os leitores e para mim, mas acho que, no fim, é uma história sobre se apaixonar. Sobre como o amor pode trazer de volta cores para uma parte da sua vida que estava em somb...