Mick
Leah e eu havíamos matado as últimas aulas para fumar atrás das arquibancadas - e havia sido ideia dela, por mais estranho que aquilo parecesse, já que a garota basicamente odiava cigarros e "o cheiro horrível" deles (ela havia dito).
- Eu não consigo - Leah riu, me passando o cigarro depois de algumas tentativas desastradas, e eu mostrei novamente como se fazia. A garota, então, o colocou entre os dedos, soprando a fumaça vagarosamente, e me perguntou, com a voz grave, se ela estava sexy. Eu pensava numa resposta provocante - porque porra, ela estava - quando Leah começou a tossir, rindo histericamente.
- Meu Deus. Eu desisto - e então pegou a garrafa de uísque, virando um gole.
- Você não odiava cigarros ou algo assim? - perguntei, terminando de fumá-lo eu mesmo, e ela deu de ombros. A garota havia me mandado uma mensagem quando eu estava no meio da aula de educação física, dizendo para eu encontrá-la nas escadas em quinze minutos, e levar "tudo de ilegal que eu possuía". Levei a última parte como uma piada, mas ela pareceu estar falando sério quando, ao me encontrar, perguntou se eu estava afim de encher a cara.
Suspeitei que ela não estivesse bem, inicialmente, porque ainda nem eram nem onze da manhã - não que eu nunca tivesse bebido em horários do tipo - e eu sabia que algo havia acontecido naquele final de semana, ou ela não teria me ligado, dizendo que queria ir embora; mas a garota parecia divertida, desconsiderando seu tom irônico constante - ou o considerando.
Bebi apenas alguns goles, porque eu sabia que não era uma boa ideia nós dois ficarmos bêbados - havia grandes chances de aquilo acabar como das outras vezes, com ela se afastando no dia seguinte; e eu havia bebido no casamento, entao sabia que não poderia exagerar.
- Você quer me contar algo? - perguntei, quando a vi virar quase tudo o que restava da bebida, e ela revirou os olhos, mantendo a garrafa entre as mãos.
- Não, eu tô ok. Você cheira bem - ela disse, aproximando seu rosto do meu pescoço, e então eu sabia que ela já estava bêbada, porque Leah não falava coisas do tipo em circunstâncias normais.
"Você também" eu ia dizer, mas então ela me perguntou se eu tinha maconha, e tirei a garrafa de suas mãos.
- Ok, o que está acontecendo, Leah? - perguntei, e ela revirou os olhos, dizendo que eu estava um porre. - Você disse que odiava essas coisas.
- Céus. Eu só quero me divertir, senhor certinho. - ela disse, num tom irônico - Só isso. Além do mais, porque você está falando como se nunca tivesse usado nada?
- Eu arrumo pra você - disse - Só estou preocupado...
- E eu estou cansada - ela encostou a cabeça nos joelhos - Eu tenho a porra de um ex namorado que não some da minha vida e...
Então era aquilo, a coisa sobre o final de semana. A garota provavelmente encontrara um ex namorado babaca que não a deixava em paz - ou alguém que ela ainda não havia superado. Eu quis perguntar algo em relação àquela história - talvez mais detalhes - mas eu sabia que Leah não gostava de revelar coisas sobre si mesma, e também sabia que ela não estava num bom momento. A garota havia me falado mais sobre ela naquela conversa esquisita do que em todas as vezes em que havíamos nos visto - não que tivéssemos falado muito sobre aquele tipo de assunto.
Ela suspirou, virando o restante da bebida, e então me passou a garrafa.
- Você acabou com tudo - eu disse, e ela também riu.
- Desculpe. Prometo te comprar algumas doses de tequila na próxima - ela disse, ainda rindo, e eu só conseguia prestar atenção na última parte do que a garota falara. Eu sabia que éramos amigos, ou algo próximo daquilo, mas eu ainda pensava que a qualquer momento Leah me afastaria.
- Não tem problema. Eu peguei isso do armário de bebidas do meu pai, e ele não vai sentir falta de qualquer maneira - eu não falara sobre a morte de meu pai com ninguém, com excessão de Leah uma única vez, e fazer uma piada sobre aquilo já era algo. Ou talvez eu ainda estivesse evitando falar sobre o assunto.
- Não faça isso - a garota empurrou meu braço, parecendo irritada, e então sua mão desceu até encontrar a minha - Você quer conversar?
- Não. Você quer?
Ela balançou a cabeça negativamente, e nós ficamos assim por um tempo. Eu pensei que ela tivesse adormecido, porque a garota havia fechado os olhos, mas ela os abriu rapidamente quando outros alunos começaram a aparecer, indicando que as aulas haviam terminado. Ela demorou a soltar minha mão, e pensei que aquele seria um bom momento para um beijo, exceto que a garota estava bêbada. E eu não queria estragar tudo.
- Droga, eu não posso ir pra casa bêbada - ela disse, depois de receber uma mensagem - Acabei de descobrir que minha irmã vai sair mais cedo do trabalho. Como ficar sóbria em algumas horas?
Comentei, então, sobre como Zach sabia preparar uma ótima mistura pra ressaca, que era bastante útil quando um de nós havia bebido mais do que deveria, e então fui buscar algo para comermos. Eu estava na fila quando meu celular começou a vibrar no bolso, e pensei em ignorar, porque não deveria ser nada importante, mas ele não parava.
Identifiquei o número de Miranda na tela, e atendi, me perguntando o que era tão importante - ela só me ligava quando queria saber onde eu estava, o que acontecia quando eu ficava sem dar notícias, e não era o caso. Eu a havia visto pela manhã, e não havíamos trocado muitas palavras - talvez ela ainda estivesse irritada pela discussão sobre aquele cara.
- Miranda?
- Você saiu todo apressado hoje de manhã. Lucas vai vir jantar em casa essa noite - ela disse, e não tive tempo de pensar em uma resposta - Me ouça.
- Tudo bem.
- Quero evitar surpresas desagradáveis como na outra noite, e eu adoraria que vocês se conhecessem melhor. Então...seja legal, ok? Você vai gostar dele.
- Miranda... eu nao quero ser rude, mas não tenho interesse em conhecer seu namorado. E não estarei em casa hoje à noite.
Desliguei antes que ela pudesse me persuadir, e me perguntei de onde ela tirara aquela ideia, pensando que pelo menos ela não usara as palavras "jantar em família". Me perguntei se ela havia convidado Greg, e o que ele pensava sobre tudo aquilo. Provavelmente não ligava, e era o que eu deveria fazer. Então porque aquilo me incomodava tanto?
- É por isso que eu gosto de você - passei as batatas fritas para Leah, que enquanto eu estava na fila parecia ter bebido uma serie de garrafas de água numa tentativa de ficar totalmente sóbria. Perguntei se ela estava falando comigo ou com as batatas, e a garota riu, dizendo que eu não podia competir com batatas fritas.
- O que aconteceu? - ela perguntou, alguns instantes depois, quando eu me distraí no meio de uma de suas brincadeiras, e eu sabia que não precisava responder. Conversar com Leah era fácil - ela não me pressionava para falar sobre assuntos difíceis ou coisas complicadas pra caralho. Eu sabia que podíamos simplesmente mudar de assunto, ou não dizer nada, ou encher a cara. Mas dane-se, pensei. A garota me encarava com seus olhos grandes, preocupados e um pouco cansados, e não pude deixar de pensar que ela era realmente bonita.
- Você estará ocupada hoje à noite? - perguntei, e a garota respondeu negativamente, parecendo surpresa - Quer jantar comigo?
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Perto do limite
RomanceEu passei muito tempo tentando entender o que essa história representa - para os leitores e para mim, mas acho que, no fim, é uma história sobre se apaixonar. Sobre como o amor pode trazer de volta cores para uma parte da sua vida que estava em somb...