Capítulo 28

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Leah

Eu não tinha a intenção de nadar. Na verdade, só queria chegar perto e... A quem eu estava enganando? Eu queria nadar. Mas não podia.
Por isso escolhi um dia incomum - afinal, quem iria querer usar a piscina da escola num domingo à noite?
O tempo estava agradável - nem muito calor, nem frio. Uma boa noite pra sair. Ou dar um mergulho.
Em noites como aquela, quando éramos crianças, meu pai levava Rebeca e eu para nadarmos num lago perto de nossa casa. Minha mãe, é claro, não gostava - ela morria de medo de ficarmos gripadas - mas nós adorávamos.
Nem sempre havia sido assim, no entanto. Até os 9 anos de idade, eu não sabia nadar. Morria de medo de entrar na água, e sempre ficava longe da piscina nos churrascos em família.
Mas eu tinha um pouco de ciúmes. Depois que meu pai havia, junto com nossos tios, construído a piscina no enorme quintal de nossa casa, ele e Rebeca passavam todas as manhãs de sábado apostando corridas, enquanto eu me limitava a tomar sol - mantendo uma certa distância da piscina.
Até o dia em que Rebeca decidiu que queria uma festa de aniversário, e ia convidar todas as suas amigas. Ela falava daquilo o tempo todo - de como ela seria a única garota de sua sala a fazer uma festa na piscina.
E eu queria participar. Rebeca e eu sempre fomos bem próximos, apesar de brigarmos a cada dois segundos.
Então, pedi ao meu pai que me ensinasse a nadar, e ele fez.
No ano seguinte, me matriculou na escola de natação da cidade, e desde então não parei. No primeiro ano do ensino médio, a parede do meu quarto já estava coberta por medalhas, e havia uma série de troféus na estante da sala.
Então, no começo daquele ano, eu havia me mudado pra Bluish City, e deixado tudo para trás. Inclusive a natação.
Eu já tentara, desde então, entrar na piscina algumas vezes, mas sempre acabava comigo tendo um ataque de pânico e tossindo um monte de água.
Naquela noite, entretanto, eu poderia tentar. A piscina estaria vazia, e não haveria ninguém pra notar caso eu parecesse uma maluca entrando e saindo da água.
Eu planejava pular a grade - não muito alta - que separava a área da piscina do restante do centro esportivo da escola, mas notei que não estava trancada, o que era estranho, porque eu me lembrava de eles fecharem as sete.
Eu notei que havia alguém quando ouvi o barulho vindo da água, mas não me afastei. Quando ele emergiu, entretanto, pensei em ir embora - céus, como sempre acabávamos nos encontrando?
Ao invés disso, continuei ali, o observando. E ele era bom. Na verdade, bastante rápido percebi, ao observá-lo cruzar a piscina em poucos minutos, e por alguns instantes, o invejei. Por fazer o que eu não mais conseguia.
Depois de mais algumas voltas, ele parou, tomando fôlego, e então olhou em minha direção. Droga. Ele realmente ia achar que eu o estava perseguindo, o que não era o caso.
Talvez fosse uma ironia idiota do destino. Ou nós dois apenas gostávamos dos mesmos lugares.
- Hey - ele disse, parecendo um pouco surpreso, depois de me observar por alguns instantes, e pegou uma toalha.
- O que está fazendo aqui? - perguntei, e então me censurei mentalmente, percebendo o quanto aquela pergunta era meio idiota.
- Nadando, e você? - ele perguntou em tom de zombaria, e fiz uma careta - Calma. To curioso. Você nunca participa das aulas...
Era verdade. Eu fugia, sempre que podia, das aulas de educação física que eram na piscina, ou simplesmente alegava estar gripada ou com cólica. Não sei como a treinadora ainda não havia me reprovado.
- Eu só... - comecei, mas não soube o que dizer. Não dava pra explicar pra alguém que, toda vez que você mergulhava ou entrava numa piscina, sentia como se não pudesse respirar. Como se alguém estivesse te sufocando. Aquilo parecia loucura, até mesmo para mim - Eu não nado.
Achei que ele diria algo sobre aquilo ser óbvio, mas Mick simplesmente concordou.
- Não vai perguntar porque? - perguntei, imitando seu tom irônico, depois de alguns segundos de silêncio.
- Imagino que não saiba nadar - ele deu de ombros, e revirei os olhos.
Esse era o problema. Eu sabia.
- Eu sei nadar - respondi, sentando-me ao seu lado na borda da piscina, e deixei minha bolsa azul de plástico em um canto por ali. Talvez, se eu só molhasse as pernas...
- E então? Você tem medo, Leah? - ele perguntou, num tom provocador, e fiquei tentada a espirrar água nele. Não, aquilo seria meio infantil - Tudo bem se tiver...
Ele sorriu - aquele sorriso torto, meio brincalhão e meio misterioso, e por algum motivo, tive vontade de provar algo a ele.
Tirei minha camiseta velha, tentando não pensar no fato de que eu 1) estava de biquíni perto de um garoto 2) estávamos há apenas alguns centímetros um do outro e 3) ele era atraente pra caramba.
Eu sempre usava roupas de banho nas competições, pensei, tentando não parecer envergonhada, e simplesmente pulei.
Fique calma, eu disse a mim mesma, tentada a voltar à superfície. É chegar ao outro lado, você já fez isso mil vezes; pensei.
Mas então, tudo ficou escuro novamente, e as memórias vieram como uma enxurrada.
Comecei a me debater, sentindo o ar à minha volta se esvair. Se concentre - eu disse à mim mesma, tentando discenir o que era real.
Então, me lembrei. A piscina da escola. Mick.
Abri e fechei os olhos algumas vezes, tentando me certificar de que nada daquilo - nenhuma daquelas imagens - era real, e continuei batendo meus braços.
Não olhei para Mick quando sai da piscina - eu ainda estava assustada, e nervosa, e desconfiava que estivesse tremendo, então dei uma risada. Eu havia conseguido.
Sim, aquele fora meu pior tempo desde...desde sempre, mas eu havia conseguido.
- Então você sabe nadar - ele se aproximou, sorrindo, e me estendeu uma toalha. Algo em minha expressão, entretanto, deve tê-lo alertado, porque ele me encarou, preocupado - Você está bem?
Assenti, e ele me perguntou se eu queria apostar uma corrida.
- Vamos, eu deixo você ganhar uma vez - ele disse, com um sorriso metido, interpretando minha hesitação como medo de perder.
Na verdade, eu não me importava com isso. Sabia que ele ia ganhar. Mas eu estava com medo. E se eu, sei lá, surtasse? Ou me afogasse.
Disse a mim mesma para parar de ser boba - eu sabia nadar - e então concordei.
- Não me deixe ganhar - eu disse, lhe lançando um olhar irritado, quando ele o fez na primeira vez, e ele fingiu não saber do que eu estava falando - Está com medo de perder para uma garota, Mick?
Eu sabia que aquilo iria provocá-lo. Garotos como Mick eram orgulhosos.
E deu certo, porque ele fez uma careta, concordando.
Nadamos por algum tempo sem parar, até ambos estarmos cansados e sem fôlego, e eu não quase podia esconder minha animação. Eu havia conseguido.
- Então você realmente sabe nadar - ele disse, enquanto nos sentávamos na borda da piscina, e parecia surpreso.
- Sim - concordei, esperando que ele não começasse a fazer muitas perguntas, do tipo que eu não poderia responder.
- E porque parou? - ele perguntou, e dei de ombros - Você é a boa.
- É uma longa história - eu disse, depois de ver que ele ainda esperava por minha resposta - Nada interessante. E você não quer ouvir...
- Acho que posso decidir o que quero ouvir - ele disse, num tom sério, e me coloquei de pé.
Porque as pessoas tinham que fazer tantas perguntas?
Tudo bem, eu fora uma dessas pessoas naquela noite, perguntando sobre seu hematoma. E olha no que havia dado...
- Mick, deixa pra lá - eu falei, pegando uma toalha e minha bolsa, e ele também se levantou - Não importa.
Comecei a caminhar em direção ao vestiário, e ele veio atrás de mim. Ah, não. Eu não queria uma reprise da última noite em que havíamos nos visto. Já havia sido bem ruim - com excessão do beijo, é claro, mas eu não podia pensar naquilo. Não com ele ali, tão perto.
- Importa - ele disse, me puxando. Argh. Porque ele tinha aquela mania de querer encarar as pessoas enquanto falava?
- Porque? - perguntei, tentando não pensar em nossa proximidade, e no fato de eu estar de biquíni, e ele estar me encarando com aquele olhar.
- Porque eu quero conhecer você - ele disse, pegando uma mecha do meu cabelo daquele jeito que fazia. Eu quis dizer a ele o quanto aquilo era irritante. Ou pedir que parasse. Mas eu não podia. Porque não era verdade. Não, não era.
Cada vez que ele me tocava, era como se...como aquela metáfora idiota dos fogos de artifício. Tudo ficava quente, borbulhante, e então éramos só nós dois, e nada parecia importar.

Perto do limiteOnde histórias criam vida. Descubra agora