Capítulo 59

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* leia esse capítulo ao som de Say You won't let go - James Arthur (https://open.spotify.com/track/5uCax9HTNlzGybIStD3vDh ou https://youtu.be/0yW7w8F2TVA) *

Mick
Eu sabia que nós não teríamos qualquer espécie de conversa sobre o que havia acontecido noite passada. No máximo, um de nós faria alguma piadinha sobre aquilo, e então fingiríamos que não havia acontecido - na melhor das possibilidades. Na pior delas, Leah se afastaria novamente, e voltaríamos àquela coisa de quente e frio; mas algo sobre aquela noite me fazia pensar que aquela não era uma opção. Alguma coisa sobre a noite passada confirmava o que eu já não podia ficar negando: que eu estava afim de garota. Eu realmente estava afim dela.
Eu sabia que Leah não queria um relacionamento, e depois do modo como ela ficara no fim de semana com seus pais, eu tinha certeza que era por causa do tal ex namorado. O cara provavelmente havia sido um cuzão com ela, e Leah ainda parecia estar bastante magoada - o que eu entendia, então não podia forçar a barra. Tudo o que eu podia fazer era esperar que a garota não se afastasse novamente, porque, cara, ela era uma ótima companhia. E tinha alguma coisa sobre ela...algo que fazia eu me sentir daquela maneira.
Quando eu acordei Leah ainda dormia, sua cabeça encostada em meu peito e uma expressão calma em seu rosto que me fez desejar ficar encarando-a tempo pra cacete. Tentei não fazer barulho para não acordá-la, e tomei um banho rápido antes de passar café. Eu precisava de uma boa xícara de café forte.
Percebi que Miranda não estava em casa, o que era bom, porque eu não sabia como ela reagiria sobre Leah ter dormido ali - nós nunca havíamos tido aquela conversa sobre levar garotas para casa - e eu não queria que ela fosse grossa com Leah. Depois de eu ter rejeitado aquele jantar com seu namorado, entretanto, eu não podia garantir que ela seria simpática com a garota - Miranda não era do tipo vingativa, mas eu não queria arriscar.
Eu não sabia como Leah reagiria em relação a noite anterior então resolvi que não mencionaria o assunto. Eu queria beijar a garota novamente - havia tantas coisas que eu queria fazer com ela, coisas que me deixavam louco. Eu já sabia que a garota era sexy - tudo nela parecia me atrair - mas, naquela noite, cacete. Havia sido bem difícil pegar no sono com a garota ali, do meu lado, incrivelmente sexy de um jeito que eu não podia descrever ou imaginar.
E então quando ela desceu aquelas escadas, lançando um olhar demorado que me fazia imaginar que a garota também estava pensando sobre a noite passada, tornou tudo aquilo difícil de controlar.
- Ei - ela disse, parecendo com vergonha por ter sido pega me encarando, e nenhum de nós disse nada até que eu peguei um pouco de café para a garota.
- Como você dormiu? - perguntei, notando um vestígio de sorriso no rosto da garota, e ela demorou alguns instantes até responder que havia dormido muito bem, me lançando um olhar demorado que a deixava sexy pra cacete. A garota estava flertando comigo? Algo em seus olhos me dizia que sim.
Ela percebeu deve ter notado o modo como eu a encarava, porque de repente pareceu desconcertada, quando disse que precisava ir.
- Rebeca vai me matar, você sabe... - Obrigada. Pela noite passada - Leah deu uma risada nervosa, percebendo então como aquilo havia soado, e balançou a cabeça, como se risse dela mesma - E pelo café.
Eu me ofereci para levá-la, e comecei a procurar pelas chaves do carro, antes que a garota inventasse alguma desculpa para ir andando.
- Não precisa - ela disse, mesmo assim - Sério, são só alguns minutos e o dia está ótimo. Eu podia ir caminhando...
- Ou você podia ficar - me virei para ela, nós dois sabendo que aquelas palavras significavam mais do que o que eu havia dito. Leah, não dizendo nada, pareceu respirar fundo, me encarando tão profundamente que era como se a garota quisesse ler algo em meus olhos. Por alguns instantes, tive medo de que ela pudesse ler minha mente, o que era loucura, mas algo no modo como a garota me encarava fazia parecer que ela sabia. Nós dois entendíamos o não-dito e, ainda assim, ninguém disse nada - mas não era preciso.
- Fica - eu disse, como se aquela palavra pudesse representar tudo o que eu queria dizer para a garota. E de certa forma pareceu, porque algo me dizia que a garota entendeu.
Leah demorou a responder e, quando o fez, parecia saber que aquela não era a resposta que eu procurava, porque a garota evitou me olhar, dizendo algo sobre sua irmã ficar irritada se ela não voltasse pra casa. Nós dois sabíamos, entretanto, que aquele não era o motivo de Leah não querer ficar - antes mesmo de eu dizer aquilo em voz alta.
- Não - dessa vez a garota olhou para mim, e pareceu se arrepender de tê-lo feito. E eu disse, mesmo assim. Mesmo sabendo que era idiotisse e poderia foder as coisas, eu disse - Fica comigo.
- Eu realmente preciso ir - ela me beijou, apressada, na bochecha, saindo pela porta antes que eu pudesse oferecer uma carona, o que me deixou confuso. Não pude deixar de me perguntar se Leah se afastaria novamente mas, depois da noite anterior, eu duvidava daquilo - eu sabia que a garota também estava envolvida, mas aquela não era a questão. Nós dois sabíamos aquilo. O que eu precisava saber, entretanto, era se a garota ficaria.
Ela, então, parou alguns instantes me dando um de seus sorrisos, dizendo um rápido "a gente se vê", o que era mais do que eu esperava - mais do que a última vez.
Assim que Leah saiu, subi para ensaiar algumas músicas que tocaríamos mais tarde, num dos shows que Natasha havia conseguido, em um bar perto de sua faculdade, que costumava ficar cheio às sextas-feiras.
- Finalmente encontrei você em casa - Miranda apareceu na porta do meu quarto, trazendo duas xícaras de café, o que significava que ela queira fazer as pazes, ou conversar. Nenhuma das duas alternativas me animava, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde precisaria ouvi-la, e Miranda não havia feito nada de errado - eu era o babaca. Mas eu não queria passar a próxima meia hora ouvindo-a falar sobre seu novo namorado e sobre como nós poderíamos ser a porra de uma família feliz, então me levantei antes que ela começasse.
- Hey. Eu já estou de saida. - ela respirou fundo, parecendo momentaneamente irritada, mas eu não queria brigar. Só queria evitar aquela conversa o máximo que pudesse.
- Você quer que eu traga alguma coisa? - perguntei, pegando minha mochila, mas Miranda bloqueou a porta.
- Quero que você se sente, porque nós precisamos conversar - ela disse em seu tom de voz calmo, o que significa que eu não tinha outra opção. Miranda sabia ser bem insistente, por isso larguei a mochila.
- Eu tenho um show mais tarde, então...
- Isso vai ser rápido - ela se sentou ao meu lado, dando um gole em seu café, e deixou a outra xícara na cabeceira da cama. - Luke é meu namorado e ele é um cara legal, então você precisa superar o fato de que sua mãe está namorando. Você precisa lidar com isso.
Aquilo era exatamente algo que Miranda diria mas, ainda assim, eu não esperava - o que quase me fez rir. Não era o fato de Miranda estar namorando que me incomodava...aquilo não era da minha conta.
- Você está feliz? - Miranda pareceu surpresa com a pergunta, o que me fez pensar que talvez ela estivesse esperando que eu ignorasse seu discurso ou dissesse algo babaca.
- Sim - aquilo foi tudo o que ela me disse, sorrindo, e eu sabia que estava sendo sincera.
- Tudo bem - eu disse, então, me levantando. Leah estava certa - a vida pessoal dela não era da minha conta, e se Miranda estava feliz, foda-se. Mas eu não precisava ser amigo do cara - e esperava que ela não tivesse imaginando aquilo. Eu não brincaria de família feliz.
- Espero que dê certo. De verdade - acrescentei, pegando minhas coisas, e Miranda também se levantou.
- Querido, olhe pra mim. Eu sei que isso tudo é recente e difícil...pra todos nós. Seu pai era um cara incrível mas nós não estávamos dando certo. Não estava dando nada certo, e você sabe disso - ela deu uma risada nervosa - e com Luke...está dando certo. Eu estou feliz. Mas ele não vai substituir seu pai. Isso não vai acontecer. Ok?
Miranda tocou em meu braço - aquela era sua forma de dizer que deveríamos nos abraçar naquele momento, e ela o fez, enquanto repetia que aquilo não iria acontecer.
Ela sempre fazia aquilo - aquela coisa de parecer adivinhar o que eu estava pensando. Quando Alison e eu havíamos terminado, eu demorei quase um mês pra falar sobre aquilo com alguém - o primeiro a saber foi Zach, por causa de algo que eu disse bêbado, e então ele contou pra todo mundo, porque sabia que eu não queria falar sobre aquilo. Mas Miranda, cacete. Ela havia percebido desde o primeiro dia, quando voltei pra casa no meio da madrugada, cheirando a bebida; e na semana seguinte apareceu em meu quarto com suas xícaras de café mágicas, esperando que eu já estivesse pronto pra falar sobre toda aquela merda. E eu estava, porque assim eram as coisas com ela - nós tínhamos aquele tipo de relação em que conversávamos sobre tudo, o que é bem difícil com os pais. Naquele momento, senti um pouco de falta daquilo.

Perto do limiteOnde histórias criam vida. Descubra agora