Capítulo 25

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Mick

Eu estava no meu carro, indo embora, e não pude deixar de me perguntar se eu a veria de novo. Não na escola - eu sempre poderia encontrá-la lá, com seus fones de ouvido em algum lugar silencioso ou na biblioteca - mas fora dali, onde só haveria nós dois, e pudéssemos conversar.
Eu nunca havia me perguntado porque Leah não tinha amigos na escola - na verdade, achava que ela era do tipo nariz empinado, e o resto de nós simplesmente não era digno de ter sua amizade. Eu a achava um pouco arrogante, sempre com aquele olhar de desafio e postura rígida, como ninguém pudesse chegar a um metro dela. Ela sempre fora misteriosa, mas uma hora aquilo cansava; por isso a maioria de nós não se importava. Mas agora, eu podia ver que havia mais do que isso, o que fazia com que eu quisesse me aproximar.
Não fui direto pra casa. Parei, no caminho, numa padaria que vendia aqueles donuts recheados de café, pensei que eu poderia levar Leah ali um dia. Aqueles doces eram bons pra caralho.
Nossa, eu já estava fazendo planos.
A verdade é que eu precisava tirar aquela garota da minha cabeça - pensei, enquanto pegava o caminho mais longo para casa. Eu precisava tirar tudo da minha cabeça.
Assim que entrei, Miranda me encarou com aquela sua expressão acusadora, que ela usava quando queria perguntar algo, mas já achava saber a resposta.
- O que foi? - perguntei, bufando, e Greg tirou os olhos de seu laptop para prestar atenção à conversa.
- Quem era aquela garota? - Miranda não disfarçou sua curiosidade, mas eu também podia ver que ela estava um pouco irritada. Só não sabia porque.
- É só uma amiga - eu disse, e ela e Greg trocaram um olhar conspiratório. Então eles estavam falando de mim, percebi, resistindo à vontade de virar os olhos.
- Você não tem amigas, querido - Miranda sorriu, e era verdade. Eu não tinha, com excessão de Natasha, mas ela não era exatamente uma amiga.
Greg bufou, e me virei em sua direção.
- O que foi, irmão? - perguntei, num tom meio irônico que eu sabia que o irritaria. Greg nunca entendera o conceito de ironia.
- Você não deveria ficar trazendo essas...garotas pra cá - eu poderia ignorar o que ele havia dito, afinal, ele sequer morava ali, não fosse sua hesitação em usar a palavra 'garotas'.
- O que quer dizer? - perguntei, tentando fazer com que minha irritação parecesse curiosidade.
- Vamos lá, você sabe. Sei que quer se distrair, mas esse tipo de garota...
- Que tipo de garota? - perguntei, e Miranda deixou seu sorvete de lado, prestando atenção em nós. Ela odiava brigas.
- O tipo que se encontra em qualquer esquina - Greg disse, sem rodeios, e eu parti pra cima dele, que se levantou, com um sorriso de zombaria.
- Cale a merda dessa boca - eu disse, o empurrando contra a mesa de centro, e um dos vasos caiu no chão.
- Parem - Miranda gritou, puxando minha camisa, enquanto lançava um de seus olhares furiosos para Greg- Os dois. Mick!
Ela se colocou entre nós, e larguei aquele idiota, subindo as escadas, enquanto Miranda me chamava, mas a ignorei. Cacete. Eu estava cansado de toda aquela coisa com Greg, e estava cansado de odiá-lo, mas ele não tinha direito de falar sobre ela.
Leah não era assim.
Tomei um banho, tentando me acalmar, e fiquei dedilhando algumas coisas aleatórias na guitarra velha, quando ouvi algumas batidas fracas na porta. Pensei em ignorar, mas Miranda a abriu alguns segundos depois, trazendo duas xícaras de café.
- Ei, podemos conversar? - ela perguntou, se sentando na beirada de minha cama, como fazia quando eu era criança.
Miranda nunca fora como o restante das mães. Na verdade, nós éramos bem próximos, até mesmo em minhas fases ruins.
Nós até conversávamos, e ela tinha um senso de humor ácido invejável.
- Não leve a sério o que seu irmão falou - ela disse, me entregando uma das xícaras, e dei um gole. Café forte e sem açúcar, como eu gostava - Aquela garota... é sua namorada?
- Não. Não temos nada - embora aquilo fosse parcialmente verdade, Miranda percebeu, e levantou as sombrancelhas, daquele jeito que só ela conseguia fazer - Leah é... diferente.
Ela assentiu, e acho que esperou que eu continuasse, mas não havia nada a falar.
Houve um tempo em que eu e Miranda conversávamos sobre tudo, mas sem que eu percebesse, as coisas haviam mudado. Ou talvez eu tivesse mudado, e sabia que aquilo não era bom.
- Greg estava preocupado com você - ela disse, e dei uma risada amarga. É claro. - E eu também estou.
- Porque? - perguntei. Havia uma série de motivos, mas eu queria saber a qual das minhas porcarias ela estava se referindo.
- Você às vezes se envolve com...as pessoas erradas - ela disse, e eu soube que estava falando sobre Alison, e minha fase "obscura".
Depois que havíamos terminado - ou Alison havia terminado, sem me dizer, Miranda havia tentado me animar, mesmo eu estando um pé no saco.
- Você nunca gostou dela, não é? - perguntei, me lembrando que fora Miranda quem inventara o apelido " furacão Alison", em um sentido que não era bom.
- Ela era...não, não gostei - ela admitiu, rindo. No começo, eu achava as duas parecidas. Elas até tinham bastante coisas em comum, e ficavam conversando por horas - Aquela garota, desculpe, mas ela era meio louca.
Sim, ela era, pensei, me lembrando de nossas discussões. Ou suas, porque eram sempre sobre ela. Mas eu também era, e talvez fosse por isso que ficamos juntos.
- Só tome cuidado, OK? - ela deu um gole em seu café, parando para bocejar, e de repente, percebi o quanto parecia cansada.
- Miranda - eu a chamei, quando já estava saindo do quarto - Pode dormir um pouco amanhã. Eu vou visitá-lo.
Ela deu de ombros, mas pude ver um vestígio de sorriso em seu rosto.

Perto do limiteOnde histórias criam vida. Descubra agora