Mick
Eu não esperava encontrá-la ali. Na verdade, não esperava encontrar ninguém ali. Era domingo à noite, e geralmente o lugar estava vazio.
Eu havia conseguido tirar uma cópia da chave da treinadora - não acho que ela se incomodaria - e depois de passar boa parte do dia anterior ajudando Zach num buffet (Tray havia furado com ele), eu precisava relaxar.
Na verdade, queria um tempo só pra mim, e eu precisava treinar, já que havia faltado no treino do dia anterior.
Eu não havia notado sua presença - estava muito ocupado em tentar ser mais rápido - e ela parecia distraída. Na verdade, notei que estava me observando, e não pude deixar de me perguntar o que ela estava fazendo ali.
A julgar pelos shorts e o biquíni, eu diria que ela ia nadar. Mas a garota não nadava. Nunca. Na verdade, ela meio que fugia da maioria das aulas de educação física que envolvia piscina, o que era curioso. Na verdade, muitas coisas a seu respeito eram curiosas.
Leah era uma espécie de livro fechado, e às vezes era meio difícil organizar todas aquelas palavras desordenadas. Como naquela noite em minha casa. Eu achei que finalmente estávamos indo a algum lugar, e então ela se afastou, parecendo distante novamente. Por causa de uma pergunta. Meio idiota de minha parte, mas era só uma pergunta.
E pelo modo como ela reagia toda vez que alguém tentava se aproximar, eu podia dizer que havia muito mais do que isso. A garota era uma espécie de grande mistério, e porra, aquilo me deixava mais curioso em relação à ela.
E ela nadava. Não, ela realmente nadava.
Descobri isso, provocando-a - deduzi que a garota tinha medo de se afogar ou algo do tipo, e ela me encarou com aquele olhar de desafio. Como se fosse pular na água ou algo do tipo. Então ela tirou a camiseta larga, revelando um biquíni preto do tipo tomara que caia, e tentei não olhar pra ela - a garota já parecia um pouco envergonhada - mas aquilo era difícil com ela bem ali do meu lado; e simplesmente pulou na água.
E ela sabia nadar. Eu até poderia dizer que era boa.
Quando saiu da água, pude ver que ela estava bastante animada - seus olhos escuros brilhavam, e ela tinha um vestígio de sorriso no rosto - mas parecia nervosa. Quase com medo, o que me deixou ainda mais curioso em relação à ela.
Se a garota sabia nadar, porque nunca participara de nenhuma competição da escola? E porque parecia tão assustada? Talvez fosse alguma espécie de trauma de infância, pensei, achando melhor não perguntar. Com Leah, qualquer pergunta errada podia fazer com que se afastasse.
Propus à ela, então, uma corrida, e pensei em deixá-la ganhar, mas ela pareceu bastante irritada quando viu o que eu estava fazendo.
- Está com medo de perder para uma garota, Mick? - ela perguntou, com aquele seu olhar de desafio, e então eu concordei. Não iria facilitar pra ela.
E mesmo assim, ela foi bem. Não, a garota foi muito bem, e quase me ultrapassou. Então ela realmente sabia nadar, mas quando lhe perguntei porque havia parado, a garota congelou.
- É uma longa história - ela disse, depois de pensar por um tempo - Nada interessante. E você não quer ouvir...
Mas ela estava errada. Ela definitivamente não era 'nada interessante'.
- Acho que posso decidir o que quero ouvir - falei, a encarando no final, e ela se levantou, parecendo irritada.
Então ela me disse pra deixar pra lá, como se não importasse. Mas eu sabia que importava. Eu sabia que aquilo significava alguma coisa pra ela, e desejei, que pelo menos uma vez, ela deixasse as pessoas entrar.
- Importa - eu disse, indo atrás dela, e ouvi-a bufar.
- Porque? - ela perguntou, e eu não soube responder.
- Porque eu quero conhecer você - eu disse, e então, percebi que talvez eu gostasse um pouco da garota. Em algum sentido que eu não sabia explicar.
- Eu odeio isso - ela disse, alguns segundos depois, se virando para mim, e dessa vez não desviou o amor olhar. Ela parecia irritada, ou, mais do que isso, com raiva - Odeio quando as pessoas fazem perguntas, como se fôssemos obrigados a respondê-las. Você nunca teve segredos, Mick? Coisas que, sei lá, quisesse manter só pra você?
Ela falou cada palavra lentamente, e ouvi sua voz falhar no final.
Sim, eu entendia. Caralho, eu realmente entendia.
E eu odiava quando as pessoas tentavam se aproximar, como se cada parte de minha vida não fosse fodida.
Então talvez fosse por isso que fosse tão fácil pra mim ficar perto da garota. Porque talvez, como eu, ela também tivesse feito coisas de merda, ou um passado que não queria lembrar.
Eu não disse nada, nem ela, mas acho que ambos entendemos.
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Perto do limite
RomanceEu passei muito tempo tentando entender o que essa história representa - para os leitores e para mim, mas acho que, no fim, é uma história sobre se apaixonar. Sobre como o amor pode trazer de volta cores para uma parte da sua vida que estava em somb...