93. I do not need you for anything else

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Só pra avisar, nessa fic a Camila faz aniversário no final do ano, ok?

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30 de dezembro...

Acordei com os raios de sol batendo em meu rosto, levantei-me com dificuldade e caminhei lentamente em direção ao banheiro. Assim que me olhei no espelho meus olhos se arregalaram. Eu estou pior do que eu imaginava, minhas olheiras estão em quase todo o meu rosto, em um tom quase preto, faz uns dois dias que eu não saio de casa. Meu cabelo está bagunçado, e minha pele mais branca do que o normal.

Olho para minha roupa, um pijama de mangas compridas e calça larga. Por que eu estou usando isso em pleno verão? Simples, marcas que eu não posso mostrar a ninguém.

Lauren fala comigo pelo skype quase todos os dias, ela disse que eu não estou mais com aquele sorriso que ela tanto ama, e eu sempre tento falar com ela quando as luzes estão todas apagadas, para ela não ver meu estado.

Minha vida está um completo inferno, como eu ainda não sou maior de idade meu pai não me deixa sair com ninguém que não seja de sua extrema confiança, ou seja, minha mãe ou minha irmã. Nenhum deles apoia meu namoro com Lauren, todos eles dizem que eu estou ''estragada''. Minha tia já tentou me levar para a casa dela, mas eu mesma recusei. Amanhã será meu aniversário de 18 anos, e depois disso eu vou me despedir de meus pais e espero nunca mais ter que olhar na cara deles.

- CAMILA, ACORDA! VOCÊ TEM QUE SAIR COM A SUA MÃE! - escutei o grito do meu pai e duas batidas fortes na porta.

- JÁ VOU, SÓ PRECISO TOMAR UM BANHO RÁPIDO - gritei e comecei a me despir, olhei-me no espelho novamente, eu estava cheia de marcas, roxas, vermelhas e poucas já estavam cicatrizando. Havia sangue seco pelas minhas pernas e braços. Eu nunca estive em um estado tão deplorável antes.

Entrei debaixo do chuveiro e deixei que a água gelada entrasse em contato com minha pele, me causando arrepios de frio e de dor.

Saí do chuveiro e fui me vestir, coloquei uma calça jeans e uma blusa de manga comprida que ficava meio caída no ombro esquerdo. passei um pouco de maquiagem para disfarçar as olheiras e a palidez e saí. Encontrei minha mãe sentada no sofá, conversando com a minha irmã e meu pai.

- Vamos? - perguntei terminando de descer as escadas e eles se viraram para mim.

Meu pai olhou do mesmo jeito que ele me olha todos os dias, com nojo. Sofi me olhava de um jeito indecifrável, e minha mãe parecia ter pena de mim, como se eu tivesse alguma doença terminal ou algo do gênero.

- Vocês já almoçaram? - perguntei enquanto saíamos pela porta da frente.

- Já, como você não acordou nós fomos a um restaurante - ela falou e eu senti uma pontada de dor em meu peito, a que ponto minha familia chegou? Como as pessoas podem chegar a esse nivel de crueldade? Eu sou a filha deles. Ou pelo menos, era.

Entrei no carro e fiquei em silêncio, apenas olhando as ruas passando como borrões. O palco para a festa de ano novo já estava terminado, agora eles faziam os últimos ajustes para festa de amanhã.

- Você vai passar o ano novo conosco amanhã? - minha mãe perguntou quebrando o silêncio.

- Não, eu vou sair com meus amigos, e no dia primeiro eu já volto para os Estados Unidos - falei seca.

- Você realmente  vai querer voltar para aquela garota? Saiba que se você fizer isso eu e seu pai não vamos mais te dar um centavo - ela falou e eu ri.

- Não se preocupe com isso, eu vou devolver cada centavo que vocês gastaram comigo, me desculpem por não conseguir pagar os presentes e a comida, mas saiba que eu vou te pagar todo o dinheiro que vocês investiram na minha escola, no meu carro, e no meu apartamento. Eu não quero mais nada de vocês, já basta ter o mesmo sangue, quero que vocês saibam que eu não preciso mais de vocês, para nada - falei e ela me olhou com uma expressão que eu nunca vou conseguir me esquecer. Eu nunca vi tanta dor em seu rosto, seus olhos estavam cheios de lágrimas e eu sei que não vai demorar muito para ela começar a chorar, me senti mal por ter falado tudo isso, por ter a machucado. Mas não é isso o que eles estão fazendo comigo? Eles tiram uma parte de mim todos os dias, eu nunca mais dei um sorriso que fosse verdadeiro, e a culpa disso tudo é deles.

Encostei minha cabeça no vidro e fechei meus olhos com força. Eu não vou chorar, eu não posso chorar. Tentei afastar todos os pensamentos ruins que vinham em minha mente e me focar apenas na Lauren, em nossa vida. Tudo vai melhorar daqui para frente, ninguém mais nos atrapalhará, ninguém mais vai se meter em nossa vida. Eu não preciso do apoio dos meus pais, eu tenho muitas pessoas ao meu redor, pessoas que me apoiam, pessoas que estavam ao meu lado quando eu mais precisei delas, e eu tenho certeza absoluta de que elas estarão aqui quando eu precisar novamente.

Senti o carro parar e voltei a abrir meus olhos, nós estávamos paradas em frente ao mercado, abri a porta do carro e desci, sem esperar por minha mãe.

Entrei pela grande porta da entrada e senti o ar condicionado refrescar todo o meu corpo, eu estava quase fritando dentro dessa roupa. Esperei até que minha mãe chegasse ao meu encontro e peguei um carrinho, percebi que ela estava muito mais calada do que antes, e ela não havia tirado seus óculos escuros, provavelmente seus olhos estavam vermelhos, amaldiçoei-me mentalmente por fazê-la chorar. Ela não tem culpa se essa foi a educação que seus pais lhe deram, eu entendo por um lado, eles não estão preparados para viver em nossa sociedade liberal de hoje em dia, mas mesmo assim. Eu sou filha deles, eles estão me tratando de um jeito que não se trata nem o pior criminoso do mundo. Toda essa frieza, essa falta de amor, de carinho, tudo isso está me matando. Não sei por quanto tempo mais eu aguentaria se amanhã não fosse o último dia, na verdadem eu já não aguento mais, tanto que eu voltei com meus maiores problemas, e eu sei que enquanto isso tudo não acabar eu estou me matando. Não tão aos poucos quanto eu penso.




Can You Be My Nightingale - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora