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Encontramos Eve andando de um lado para o outro de forma impaciente.

– Quem é ela? – Roman pergunta tentando se fazer ouvir através do vento, conforme diminuo a velocidade da moto.

– Bem, ela é metade da razão de tudo isso estar acontecendo.

Descemos da moto e Eve corre para perto de nós.

– Graças aos céus! Já estava começando a pensar que você tinha me abandonado.

– Roman, esta é Eve Woodlee.

Meu irmão e Eve voltam a atenção um para o outro e se observam por tempo demais.

Limpo a garganta tentando terminar com esse momento estranho, mas eles parecem não notar.

– Será que vocês dois podem parar de se olhar? Acaso esqueceram que estamos no meio de uma fuga desenfreada e mal planejada?

Roman, relutante, desvia os olhos de Eve, mas sinto que seus pensamentos agora pertencem à ela.

Eve olha para o chão um tanto corada e não posso evitar revirar os olhos.

– Pelo amor de Deus, Eve! Você era casada há uma hora atrás.

Volto até a moto e começo a retirar nossos pertences da mesma. Logo recebo ajuda de Roman.

– O que vai fazer com a moto? – Ele questiona.

– Não podemos levá-la. Estamos em três, sem contar que seria muito mais fácil para os Westland nos rastrear se a usássemos. Vou tirar o resto da gasolina que sobrou, talvez venha a calhar.

Começo o processo de retirar a gasolina da moto com uma fina mangueira e um pequeno galão, enquanto isso Eve atualiza Roman sobre os últimos acontecimentos.

Assim que termino, tomamos a direção do Norte e começamos a caminhar. Parece que finalmente estamos seguindo o plano original.

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Olho para o horizonte. O sol já se pós há algum tempo, e embora caminhar nesse horário seja menos desgastante, tememos por nossa segurança e procuramos um bom lugar para passar a noite.

Qualquer lugar que julguemos seguro é mera ilusão, de qualquer forma temos que parar ou cairemos de exaustão em algum momento.

Não sei por quanto tempo caminhamos, nem quantos quilômetros percorremos, mas espero que seja o bastante para podermos dormir em paz sem que Alden ou qualquer outra pessoa nos encontre.

Escolhemos um lugar entre algumas árvores para ficarmos protegidos do vento gélido que começa a soprar.

Com receio de chamar atenção, deixamos de acender uma fogueira e comemos alguns pedaços de carne seca. Estamos racionando comida e água.

Roman retira os poucos cobertores que trouxemos de casa, a maioria são finos e mal podem aplacar o frio noturno, outros são cheios de buracos e inúteis da mesma forma.

Nos deitamos próximos uns aos outros e nos cobrimos. Desde que saímos do poço não conversamos, estamos assustados demais para isso.

Estamos com frio. Com fome, mas acima de tudo... Livres.

Fecho meus olhos e assim termina o nosso primeiro dia de viagem sem destino.

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Antes que o sol nasça já estou acordada.

Alguma coisa me acordou durante a madrugada. Levantei várias vezes verificar o perímetro do nosso pequeno acampamento, como não encontrei nada suspeito estou torcendo para que tenha sido apenas um animal.

Me aproximo do meu irmão. De alguma forma, consciente ou inconsciente, Eve e Roman estão dormindo muito mais próximos do que na noite passada.

Bufo e me aproximo mais do casal. Cruzo os braços e chuto Roman de leve no peito. Ele logo abre os olhos sobressaltado.

– Dormiu bem? – Pergunto um tanto sarcástica.

Roman olha para Eve a seu lado e fica um pouco surpreso.

– Eu... O quê? – Pergunta, como se de repente eu que devesse saber o que Eve está fazendo ali.

Dou as costas aos dois e começo a guardar minhas coisas.

Logo Roman se levanta e procura algo para comermos. A Bela Adormecida continua dormindo.

– Roby?

Me volto para Roman.

– O que foi?

Ele se aproxima e me entrega uma garrafa com um líquido verde viscoso.

– Para os seus pulmões – me explica.

– Obrigada – digo levando a garrafa aos lábios.

– Foi nossa mãe quem fez.

Paro com a garrafa a centímetros da minha boca.

– Ela sabia, não é?

Roman ergue os ombros.

– É possível.

Ele sorri de forma melancólica e eu o abraço. Não há mais nada que eu possa fazer.

Depois de nos afastarmos, tomo dois goles do líquido viscoso da garrafa e mesmo com um gosto horrível, aos poucos sinto a ardência que geralmente tenho nos pulmões diminuir de intensidade.

Guardo a garrafa na minha mochila e me sento próxima a Roman. Ele está olhando para Eve.

– Por que você a trouxe?

Olho para Eve. Ela devia estar exausta para ainda estar dormindo.

– Ela me lembrou você.

– Como assim?

– Vocês são bons.

Roman me olha preocupado.

– E você também é.

Nego com a cabeça.

– Se eu não tivesse falado com ela, ela não estaria aqui, mas você a traria mesmo assim.

– Eu a traria sim, e sei que você também.

Encaro Roman. O quanto ele me conhece? Quão certo ou errado pode estar a meu respeito?

– Vou acordar ela – digo algum tempo depois –, porque se depender de você ela vai dormir a viagem toda.

Roman sorri e desvia o olhar envergonhado.

– Espero que sua reação não signifique que você está começando a gostar dela.

Ele permanece em silêncio.

Assim que Eve se levanta, guarda os cobertores e tomamos um café da manhã improvisado e nem um pouco saboroso.

Antes de seguir caminho, tentamos apagar nossos rastros na esperança de confundir os Westland e ganhar mais tempo.

Ao meio-dia o sol está tão forte que sinto a sola do meu sapato quente e úmida, só então percebo que ainda estou com o meu ridículo vestido de noivado. Logo que tiver tempo pretendo tirá-lo, ele não é confortável e só vai me atrasar.

Roman começa a ter problemas com toda a poeira e logo começa a ter crises de tosse. Eve a todo momento o ampara, se mostrando preocupada e eu também. De toda a nossa família, Roman sempre foi o mais doente e com menos tempo de vida estimado.

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ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora