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O acampamento fica próximo de algumas poucas árvores e um riacho que em mais alguns meses estará seco completamente. Não é espaçoso e parece menos seguro do que o outro que ficava na clareira de uma floresta, no entanto para uma noite ou duas no máximo deve servir.

Assim que chegamos, está tudo silencioso e todos parecem estar ocupados demais. Não vejo ninguém e isso me intriga profundamente.

A barraca maior, dos adultos, já está montada, já a menor está parcialmente montada, como se tivessem parado de montar as pressas e tivessem ido para outro lugar.

Desço da moto e sigo para a barraca maior, a meio caminho de chegar lá, Georgia sai da barraca e quando me vê corre até mim.

– Onde está o Axel? – pergunta aflita sem me cumprimentar.

Aponto para trás de mim.

– Está vindo.

No momento em que Axel se aproxima o suficiente de nós, Georgia diz de modo desesperado:

– Você chegou muito cedo.

Olho para Axel, mas aparentemente eu sou a única que não está à par dessa situação.

– O que está...

Antes que eu termine minha pergunta, um som horrível chega aos meus ouvidos e eu o reconheço como sei que estou viva. Roman.

Axel me segura antes que eu corra até a barraca. Sei exatamente o que eu vou encontrar lá e meu coração que eu julgava estar partido há muito tempo, se parte ainda mais. Roman está morrendo nesse exato momento há alguns poucos metros de mim, e eu não posso fazer nada.

– Me solta! – grito para Axel que mantém os braços ao redor de mim.

Movo meus pés para a frente, tentando escapar. Eu o belisco e no auge do meu desespero tento mordê-lo. Faço o possível para machucá-lo e fazer com que me deixe ir, mas sua determinação parece quase tão grande quanto a minha.

– Por favor... – suplico sem fôlego e me deixando cair no chão. Permito que ele me abrace, pois não sei se consigo negar qualquer compaixão por mim nesse momento.

Georgia nos observa chorando e isso só me faz ter certeza que esse é o fim. Depois que isso acabar, Roman não estará mais aqui. Nunca mais vou vê-lo. Nunca mais poderei lhe dizer o quanto o amo.

– Por que você está fazendo isso comigo? – sussurro e aperto o braço de Axel em busca de algum conforto, mas sei que qualquer coisa que possa me acalmar é apenas uma dolorosa ilusão.

Todas as lembranças de Roman passam pela minha cabeça de repente. Quando éramos crianças e o perigo parecia estar há milhas de distância de nós. Quando fugimos pela primeira vez. Quando retornamos para casa e naquele instante não havia nada melhor que o nosso lar. Durante muito tempo parecia que não podíamos ser tocados, mas é claro que a vida tinha que se intrometer entre nós.

Por que eu não posso tê-lo comigo para sempre?

– Não quero te ver sofrer – responde Axel uma eternidade depois e sinto sua mão deslizando pelos meus cabelos, enquanto eu mantenho minha cabeça deitada em seu ombro. – Não quero que você chore.

– É tarde demais. Para ambas as coisas – digo ao notar a camisa de Axel molhada com minhas lágrimas.

Algo dentro de mim deixa de existir. Eu percebo o exato momento em que alguma coisa se rompe em meu ser. É como caminhar no escuro e perder algo, a bagagem fica mais leve, mas a falta é dolorosa.

Parece que nem todo o oxigênio do mundo poderia me fazer respirar normalmente. Nem toda a água poderia tirar ou amenizar a dor na minha garganta. Em algum momento encontro meu corpo e meus pensamentos entorpecidos.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora