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– Robyn...

Primeiro sai como um murmúrio quase inexistente e não tenho certeza se de fato é o meu nome sendo dito por Axel ou apenas o assobio do vento brincando com minha imaginação.

– Robyn.

Dessa vez é mais que um murmúrio e me volto para a única pessoa que poderia ter me chamado.

Axel suspira exalando exasperação por cada poro do corpo, passa brevemente as mãos pelos cabelos negros os deixando arrepiados e quase timidamente me estende a chave da moto.

– Tudo bem, Robyn.

Não ficaria admirada se essa for a primeira vez que Axel verdadeiramente se encontra assustado e encurralado. Com sua perna machucada, não há como ligar a moto e muito menos se manter sobre ela a pilotando por essa cidade em ruínas ou pelo deserto de solo uniforme.

Pego a chave da moto e tento não lhe dar um sorriso de deboche, como os vários que tive de aturar ele me dando hoje.

– Trouxe gasolina? – pergunto, pois não quero correr o risco de ficar na estrada, ainda mais com Axel no estado em que se encontra. Antes de saber que ele é a razão de mim não estar mais nas mãos de Alden eu o teria abandonado sem hesitar, mas agora...

Ele assente e tira novamente a mochila das costas.

– Aqui está.

Ele me estende um pequeno galão de combustível e ando até a moto na intenção de encher seu tanque.

Quando já coloquei quase toda a gasolina no tanque da moto, Axel finalmente consegue se aproximar, parece que está tentando manter sua postura de sempre, mas seu estado ferido não o ajuda muito.

– Para onde vai me levar? – pergunta tentando não dar tanta importância a isso, entretanto sei que não estar no comando o deixa perturbado.

– Ao único lugar que eu conheço por aqui.

– Não vão me aceitar lá. Eve vai fazer questão disso.

– Vão quando eu disser que você me ajudou.

Axel faz uma expressão de desagrado e sei que ele está prestes a reclamar.

– Não quero que comente isso com ninguém – diz por fim, e parece realmente incômodo.

– Por quê? Só para manter sua fama de vilão da história?

Me levanto e dou dois passos em sua direção, coisa que eu jamais faria há algumas horas atrás, no entanto esse dia foi realmente longo e só me deixou com mais dúvidas em relação a personalidade de Axel, a única coisa que tenho a impressão de saber é que ele não vai me ferir, não enquanto precisa de mim.

– Gosta que as pessoas o vejam como alguém ruim? Ou insano?

O silêncio de Axel se prolonga e não posso deixar de pensar que talvez seja exatamente isso, que ele goste de ser visto com maus olhos para que ninguém se aproxime.

– Não é da sua conta – alerta em um tom calmo demais para ser verdadeiro e novamente o silêncio reina.

Subo na moto e a ligo. Espero que Axel se junte à mim, mas ele não faz isso.

– O que foi? – pergunto de mau humor.

Ele não responde, parece que seu humor consegue ser pior e mais inconstante que o meu.

Axel acaba se aproximando e sobe na moto, coloca as mochilas com os mantimentos em seu colo e hesitante põe as mãos em minha cintura.

Assim que tudo está pronto, acelero a moto e logo estamos próximos a saída da cidade em ruínas.

Ao longe, do meu lado esquerdo, avisto uma imponente estátua caída. Parece uma mulher com vestes antigas, segurando uma tocha e usando o que se parece com uma coroa pontiaguda na cabeça. Poderia ter sido um símbolo de grandeza em alguma época, mas agora é apenas ruína, assim como tudo por aqui.

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Duas horas depois, quando estamos próximos da floresta onde os Rhewn, Roman e Eve estão, Axel se mostra apreensivo, suas mãos estão acumulando uma pequena quantidade de suor e molhando minha blusa.

– Do que têm medo? – questiono tentando me fazer ouvir através da ventania que a velocidade excessiva da moto causa.

– Eu não tenho medo de nada! – grita ultrajado, e imagino que seja para ser ouvido e também temido.

– Ah, é claro! – Dessa vez sou eu quem está brincando com o sarcasmo. – Até porque, você é o espécime do homem perfeito, aquele que nunca erra, nunca teme nada e nem é afetado pelas coisas ou pelas pessoas ao seu redor.

Tenho uma desagradável surpresa quando, de repente, ele belisca minha cintura.

– Você fala demais, garota. E se for isso? Por que você acha que deve se intrometer nos meus assuntos? Só porque eu te salvei mais vezes do que você pode contar?

De fato, Axel tem razão.

Antes de sair porta afora com meu irmão e Eve, eu tinha a política de não me importar ou me intrometer em nada do que não me diz respeito. Várias coisas aconteceram desde então e agora, questionar as atitudes dos outros está se tornando cada vez mais natural para mim, coisa que eu sempre abominei.

Devo estar perdendo minha essência.

Permaneço calada e sinto que Axel adorou me deixar sem palavras.

Andamos por mais alguns poucos minutos e então avistamos a floresta com todas as suas árvores em pé, mas claramente sem vida há muito tempo.

Diminuo a velocidade da moto e entro com ela pela floresta sem hesitar, esperando que nenhum acidente desagradável aconteça.

Já posso imaginar a atitude de Eve ao ver Axel, ou a atitude de Roman, se é que ele sabe algo relevante da vida de Eve antes de mim encontrá-la.

Vejo o acampamento e com surpresa constato que Brakko e Keun estão em pé, nos esperando com armas em punho. Duvido que eles não saibam usá-las.

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ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora