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Roman perdeu a voz. Quando fomos dormir ontem ele ainda falava, estava rouco e extremamente cansado, ainda sim, suas palavras eram distinguíveis. Agora tudo o que ele consegue emitir são ruídos incompreensíveis que parecem de pura agonia.

Assim que ele percebeu que perdeu a voz, ficou desesperado. Quis gritar, berrar, mas tudo o que conseguiu foi chorar de soluçar, enquanto murmurava sons que jamais pareceriam humanos, nem mesmo animalescos, pareciam algo de outro mundo.

Ele não deixa ninguém se aproximar, além da Eve. Sei que Roman está se sentindo completamente impotente, entretanto nada disso é culpa dele, na verdade não é culpa de nenhum de nós. Ele sabe que todos estão com pena dele, e meu irmão sempre odiou isso.

– Acha que a voz dele vai voltar? – questiona Louise, que têm me mantido ocupada desde ontem.

– Não – respondo com convicção. – Roman nunca mais voltará a falar.

Louise franze a testa em dúvida.

– Você não tem esperança?

– Não há mais esperança nesse mundo.

– Mas meus pais...

– Louise – interrompo-a –, uma coisa é o que você e seus pais acreditam, outra coisa bem diferente é a realidade em que vivemos. A esperança entrou em extinção, assim como a raça humana.

Chelsea se aproxima de nós e percebe o semblante perturbado da irmã mais nova.

– Aconteceu alguma coisa?

– Não – responde Louise como se estivesse levando em consideração minhas palavras de outrora. – Não aconteceu nada, Chel.

– Ah, certo. Então... vocês por acaso viram o Axel?

Chelsea diz para então desviar o rosto envergonhado e com um sorriso que ela luta para conter.

– Por que está tão preocupada com ele? – Louise abre um sorriso travesso. – Você gosta dele?

– Lou – Chelsea diz com uma ternura forçada na voz e se abaixa para ficar da mesma altura que a irmã –, isso não é da sua conta.

Ao invés de ficar ofendida, Louise alarga ainda mais o sorriso e retruca com a voz estridente:

– Você não negou!

Chelsea tapa a boca de Louise enquanto ela ri como uma criança idiota e me olha como se quisesse que eu participasse da brincadeira de provocação.

– Não é nada disso – tenta replicar Chelsea, mas está óbvio que ela não consegue mentir sob pressão. – Acontece que ele está ferido e talvez esteja precisando de ajuda para fazer alguma coisa...

– Com licença – digo, chamando a atenção de ambas sobre mim –, por mais interessante que a conversa esteja vou falar com Roman.

Me afasto sob os olhares curiosos de Chelsea e Louise.

Caminho até Roman e Eve, eles estão sentados perto da porta de saída do prédio, não muito longe de onde eu estava.

Assim que chego perto o suficiente, Eve se levanta e para na minha frente, bloqueando meu caminho até meu irmão.

– Ele não quer que ninguém se aproxime – fala e cruza os braços para enfatizar que não vai me deixar passar.

– Como você pode saber? – indago. – Roman não fala mais e há coisas que eu preciso dizer à ele.

– Eu sinto muito, mas não posso permitir.

Nunca tive tanta vontade de bater em alguém antes, Eve parece ter a incrível capacidade de ser completamente idiota nos momentos mais inoportunos.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora