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Calor.

Muito calor é tudo o que sinto.

Fumaça.

Toda vez que inspiro uma fumaça forte entra em meus pulmões através do meu nariz. O que está acontecendo?

Grito.

Não, gritos. Muitos gritos. Chegam a ferir meus ouvidos. Só quero permanecer de olhos fechados.

Silêncio e depois mais gritos.

O quê? Mais que inferno!

Tento erguer minhas mãos para tapar meu ouvidos, mas logo percebo que elas estão amarradas. Abro os olhos surpresa.

Assim que minha visão se acostuma com o clarão da fogueira à minha frente, as lembranças de outrora voltam como um turbilhão sobre mim. Fui pega.

Meu corpo está caído para a frente com os braços presos atrás de uma árvore fina e um pouco seca. Cada parte do meu corpo se encontra dormente ou dolorida. Mal tenho forças para tentar me levantar.

Os gritos voltam a soar e olho para a direção de onde eles vêm.

Ao lado da fogueira, dois homens seguram um rapaz completamente nu, que aparente 15 anos ou menos. Um terceiro homem corta alguns pedaços do rapaz ainda vivo e os coloca em um espeto enferrujado. Toda vez que o rapaz é cortado ele solta um grito angustiante.

É isso que vai acontecer comigo?

Com algum esforço consigo me pôr em pé. Tento não olhar para o meu corpo a procura de partes que estejam faltando.

O terceiro homem volta a cortar o garoto, dessa vez tira um pedaço do seu braço e o come ainda cru.

Desvio os olhos, enojada.

– Interessante, não é? – A voz familiar de Axel fala próxima ao meu ouvido. – Os canibais gostam de devorar suas presas ainda vivas.

Olho para Axel ao meu lado.

– Você não está aqui. É só fruto da minha imaginação.

O vestígio de um sorriso convencido surge no canto esquerdo da sua boca.

– Então é em mim que você pensa nos seus últimos momentos de vida?

Fecho meus olhos e os aperto com força. Quero que Axel suma. Prefiro a completa solidão do que a companhia dele.

– Ora, vamos! Sou a imaginação mais bonita que alguém já teve.

– Vá embora. – É tudo o que digo quando volto a abrir meus olhos para encará-lo.

Ele sopra meu rosto e por incrível que pareça consigo sentir seu hálito.

– Eu estou bem aqui.

O observo totalmente desconfiada da minha sanidade.

Sua mão direita sobe para meu pescoço e o aperta de leve.

– Esse toque lhe é familiar?

Tento me afastar da sua mão, mas não posso ir muito longe estando amarrada, aqui meu espaço é bem limitado.

Fico feliz ao constatar que ainda continuo sã, mesmo que seja o Axel a me provar isso.

– O que está fazendo aqui?

– Só me divertindo com esses tolos – ele ri dos canibais com desdém. – Eles acham que sou como eles, mas como bons idiotas, nunca perceberam que eu jamais comi junto à eles.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora