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Saber que o meu único irmão está morto é horrível. Horrível porque ele não era apenas o meu único irmão, ele era único em tudo, absolutamente tudo e agora ele levou seu tudo e me deixou seu nada.

Não há muita grandeza em seu enterro e eu sei que é assim que ele gostaria que fosse.

Chelsea e Louise colheram algumas flores, estão praticamente secas e nenhuma é bonita ou tem um bom perfume, mas acredito que esse gesto o faria muito feliz se ele ainda estivesse entre nós.

Keun e Axel se revezaram para cavar uma cova, não é tão profunda e por isso colocaremos pedras sobre o túmulo de Roman. Pelo menos assim, de alguma forma, ele não ficará completamente esquecido.

Eve passou o último dia dentro da caminhonete. Durante a noite ela chorou muito, eu consegui ouvir seus gritos e suas palavras sem sentido já que eu mesma não dormi. Fiquei o tempo todo do lado de fora, próxima a fogueira. Felizmente ninguém se aproximou.

Eu sinto como se estivesse na borda do precipício, gritando o nome do Roman, mas tudo o que chega até mim de volta é o meu eco.

Sei muito bem que o Roman não iria querer isso. Ele iria querer que superassemos o mais rápido possível e seguissemos em frente no dia seguinte. Mas sempre é mais fácil desejar do que de fato realizar.

Em sinal de respeito ao Roman, todos trocaram de roupa e se arrumaram da melhor forma possível. Mas justo eu, não consegui fazer nada desde que o Roman se foi.

Assim que eu saí da barraca, me afastei de todos e só voltei de madrugada. Eles ficaram preocupados, mas não ousaram se aproximar de mim, me deram todo o tempo e o espaço que eu precisava e sinto que eu preciso ainda mais.

O corpo de Roman está enrolado em um cobertor, na carroceria da caminhonete, apenas aguardando seu sepultamento.

Há exatos três anos eu estava esperando pela morte de Roman, mas a vida foi adiando isso e meu coração adiou a dor. Agora tudo parece doer muito mais do que se tudo tivesse acontecido naquela época. Talvez seja só uma ilusão, mas o futuro sempre parece mais cruel que o passado, e isso não faz sentido já que todo o passado já foi futuro.

Keun e Louise se aproximam de mim com um pouco de receio, porém no meu estado atual, duvido que eu possa feri-los de alguma forma, a não ser com minhas palavras, sempre fui boa nisso.

– Robyn – Keun me chama, sua voz está irregular, mas é suave como o vento –, quando você estiver pronta, estaremos aguardando.

Me levanto no instante seguinte.

– Nunca vou estar pronta, mas não posso adiar isso, assim como não pude adiar a morte.

Louise me estende sua pequena mão com algumas das flores que colheu com sua irmã.

– Eu sei que elas não são tão bonitas como deveriam ser, nem tão perfumadas, mas... foram as únicas que nós encontramos.

Aceito as flores de Louise e tento lhe agradecer, mas seu gesto tão inocente me faz ficar ainda mais triste.

– São perfeitas, Louise. Roman teria adorado suas flores.

Ela abre um tímido sorriso e corre até sua mãe. Parece que poucas coisas a fazer ficar sem palavras.

Me volto para Keun e ele parece tão culpado quanto todos os outros, sinal de que ele participou de tudo.

– Me desc...

– Eu achei que você fosse meu amigo, Keun – interrompo-o. Minha voz já não transmite mais tanta raiva, isso passou e o que ficou foi a tristeza e a decepção.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora