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Em apenas algumas horas alcançaremos o lugar denominado Lar dos Desabrigados. Estamos todos tentando manter as expectativas o mais baixas possíveis, sabemos que há cinquenta porcento de chance de ser uma mentira ou uma ilusão.

Brakko e Mariz não quiseram mais esperar, já que onde fomos atacados não era um território dominado por canibais e mesmo assim fomos pegos. No entanto, embora Brakko esteja mais decidido do que nunca à chegar ao – que nós esperamos ser – nosso destino final, ele ainda não se recuperou completamente de tudo.

Eu o compreendo. Afinal, quando Louise morreu, ele teve que sustentar emocionalmente à todos da família e precisava se mostrar bem para isso, ele não quis se permitir sentir a morte da filha mais nova, porém a morte de Georgia logo em seguida, não poderia ser ignorada. As suas dores se misturaram e transformaram-se em uma só e ele não teve escolha se não sentir tudo isso.

– Eu sinto muito por ter interrompido vocês – Keun comenta, sentado ao meu lado esquerdo no banco de trás da caminhonete. – Parecia um assunto... importante.

– Está tudo bem. Não foi nada, Keun.

Ele balança a cabeça como se não acreditasse em minha resposta.

– Bem, é que minha mãe pediu para que eu fosse atrás de vocês, ela achou que vocês poderiam estar brigando. Não seria a primeira vez, afinal.

– Eu entendo. Axel e eu estávamos apenas conversando. Não se preocupe.

Olho de relance para a pequena janela que dá acesso à carroceria da caminhonete, onde Axel escolheu ficar, já que Chelsea se recusou a dividir o mesmo espaço com ele. Creio, pelo olhar dos Rhewn, que eles sabem o que Axel fez, mas não ficaram irritados com ele, na verdade pareciam bastante aliviados.

Eve está sentada no meu lado direito e discretamente desvio meus olhos para seu ventre, onde uma de suas mãos repousa, como se ela já pudesse sentir seu filho ali. Com seu minúsculo coração batendo. Vivendo.

– Então se vocês não estavam brigando, sobre o que estavam conversando? – Keun questiona e não sei se sua falta de tato me irrita ou me diverte.

Ele sabe muito bem sobre o que nós estávamos conversando, e mesmo que Keun não tenha nos ouvido, era um tanto óbvio o tema da conversa pelo modo como estávamos, um nos braços do outro, praticamente.

– Está realmente curioso? – pergunto e me volto para ele, que não hesita em esconder um sorriso amigável.

– Na verdade, eu meio que tenho algumas teorias em mente.

Nos rimos e isso chama a atenção de Chelsea. Ela me lança um olhar nada agradável pelo espelho retrovisor do carro, como se eu fosse a culpada pelo seu conto de fadas não ter sido realizado.

Agora, pensando sobre isso, percebo que mesmo quando eu abri mão da presença do Axel para ela, eu ainda torcia para que ele a afastasse. Eu estou sempre esperando que ele caminhe para mim enquanto eu não dou um único passo em sua direção, e eu não o quero longe apesar de não me esforçar para fazer com que ele permaneça perto de mim.

Acho que está na hora de mudar as regras, as coisas nunca caíram de graça nas minhas mãos, exceto talvez, o Axel. Eu deveria deixar de ser tão hesitante em relação à ele. Sim, eu deveria fazer isso.

– Minha primeira teoria – prossegue Keun, com um brilho travesso no olhar – é de que vocês estavam falando sobre a natureza exuberante daquele lugar.

– Ah, sim! Por certo falávamos sobre natureza, já que não havia assunto melhor.

Rimos novamente e Mariz nos acompanha. Espero sinceramente que ela não tenha ouvido a conversa toda.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora