Keun e eu examinamos o mapa de Axel e marcamos todos os possíveis locais pelos quais já passamos e os que – provavelmente – iremos passar se continuarmos seguindo para o norte.Olhando no mapa, parece que desde que eu saí de casa, não me distanciei quase nada de lá. É como se em uma curta caminhada eu pudesse voltar para lá e conseguisse deter certas coisas que estão acontecendo, que vão acontecer.
Como o fato de Roman estar em um estado muito pior do que ontem. Agora, além de não poder falar, ele mal consegue se mover. É como se seu corpo fosse pesado demais nessa gravidade.
Ele não expressa, mas sei que se sente tão desconfortável quanto nosso pai quando precisava ser carregado até algum lugar.
O que é que nós fizemos de errado? Porque de repente eu sinto o peso de todo o erro cometido pelos seres humanos durante anos em meus ombros, e olhar para Roman só comprova que o mundo não nos quer mais aqui.
Não sei quanto tempo falta até que ele não resista mais, mas a julgar pela sua aparência, faltam apenas dias; eu estou tentando me preparar, queria tanto mantê-lo perto de mim, entretanto toda vez que me aproximo, alguém surge para me afastar dele.
Eu sei que também vou morrer, estamos todos fadados a isso, mas não consigo me sentir triste ao saber que um dia deixarei de existir. Sinto-me triste por Roman. Sinto como se ele fosse meu próprio mundo sendo devastado irremediavelmente.
.
A caminhonete está pesada demais com todas as dez pessoas sobre ela, nossas bagagens, os mantimentos incluindo galões de água e a moto de Axel, que ele diz ter consertado.
Estamos nos movendo em uma velocidade extremamente lenta, parece que eu posso acompanhar o veículo apenas caminhando ao seu lado.
Creio que eu não seja a única a perceber isso. Todos se encontram calados e sérios além do normal. Dessa vez Keun resolveu vir para trás afim de dar mais espaço e conforto ao meu irmão.
Brakko para de dirigir e ouvimos sons estranhos vindos da cabine da caminhonete. Não preciso de muito para descobrir de quem se trata.
Pulo da traseira do carro antes que alguém tente me impedir novamente de me aproximar do Roman e abro a porta de trás, onde ele se encontra deitado no colo de Georgia e de Eve.
Olho para Roman em choque. Ele está tendo uma convulsão e sangue sai do seu nariz e da sua boca, além de um outro líquido que eu não consigo distinguir. A única coisa que percebo é o forte cheiro que ele exala e instantaneamente meus olhos lacrimejam e meu estômago embrulha.
Quero me aproximar e também me afastar. Não sei direito o que fazer além de olhar.
Georgia, Mariz e Eve, assim como eu, tentam segurar as lágrimas, já Louise, chora sem parar nos braços da mãe. Brakko mantém seu olhar voltado para outra direção.
Os soluços barulhentos de Louise me fazem querer soluçar ainda mais alto.
Uma eternidade depois, Roman para de se contorcer e parece ficar inconsciente. Eve limpa todo o sangue dele com um velho pano e algumas lágrimas lhe escapam.
Suspiro aliviada e sabendo que quando finalmente acontecer será ainda pior.
Louise para de chorar aos poucos e Mariz conversa com ela em voz baixa, mas ainda consigo ouvi-las.
– Ele não vai voltar.
– Nunca mais? – pergunta a menina.
– Não. Não é como uma viajem. Um dia partimos para longe e não voltamos mais.
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Imperfeitos
Science FictionEm um futuro pós-apocalíptico, onde as jovens são forçadas a se casar e a terem inúmeros filhos com o intuito de "salvar o mundo", Robyn Leatherwood de 17 anos não aceita seu destino e quando fica noiva de Alden, decide que é hora de mudar seu futur...