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No início, nosso grupo consistia em dez pessoas. Eve, Roman, Axel e eu, vínhamos de famílias distintas e nenhum de nós conhecia de fato o amor fraternal. Não sabíamos o que era ser protegido por alguém, ser cuidado. Felizmente encontramos os Rhewn e eles se tornaram nossa família.

Algum tempo depois, tivemos que nos despedir de certas pessoas e nossa família se reduziu. Agora somos sete, e estamos mais que determinados a encontrar um lar. Não queremos perder mais ninguém nessa entrada.

Depois da morte de Georgia, nós seguimos em frente, até o lugar que Brakko tanto queria encontrar. Levamos conosco o corpo de Georgia envolto em um cobertor e o enterramos pela manhã entre as árvores de uma floresta que ainda resistem bravamente ao calor.

Brakko não diz nada desde o ocorrido e todos sabemos que internamente ele está se culpando pela morte da irmã, porque ele quis continuar dirigindo até encontrar um lugar adequado para acamparmos e infelizmente estávamos no lugar errado, na hora errada.

Keun chorou em silêncio e sozinho. Como eu imagino que ele esteja acostumado, ele não gosta de fazer com que as pessoas saibam que ele está sofrendo. Sua irmã já é o oposto. Chelsea chorou tão alto durante o sepultamento de Georgia que isso deixou até sua mãe irritada, e ela fez questão de buscar conforto físico, mas não nos braços dos pais.

Todos se dissiparam após o enterro de Georgia. Mariz e Brakko não saíram de sua barraca desde então, Keun fica dentro da caminhonete, Eve está cochilando na barraca dos irmãos Rhewn e Chelsea está desaparecida juntamente com Axel. Eu não os vi sair, mas suponho que estivessem à procura de privacidade.

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Termino de acender uma fogueira no centro do acampamento quando Mariz sai da barraca, sozinha. Ela nunca me pareceu tão exausta ou arruinada como agora.

Ela se aproxima e seu abatimento é tão presente nela, no modo como olha ao redor, como anda; por um breve instante eu consigo associá-la à imagem de como minha mãe deveria ter sido.

Seus olhos carregam uma nuvem escura de sofrimento e quase que instantaneamente tenho vontade de confortá-la de algum modo.

Coloco mais alguns gravetos na fogueira e me levanto enquanto ela se aproxima.

– Como o Brakko está? – pergunto quando ela para ao meu lado.

Mariz sorri, mas seu sorriso é tão frágil que parece que pode se partir a qualquer momento.

– Ele está pensativo. Como se pudesse dar um jeito em tudo isso sozinho. Como se ainda houvesse algo para concertar.

Não sei ao certo o que lhe dizer. Cada um de nós tem que lidar com seus próprios demônios, e muitas vezes, sozinhos.

– Posso fazer algo para ajudar?

– Não, eu acho que não. A única coisa que podemos fazer é esperar que isso passe.

Concordo com um leve aceno de cabeça e Mariz caminha até nossos suprimentos dentro da caminhonete. Ela volta alguns instantes depois com algumas sopas enlatadas e começa a preparar o que deveria ser o almoço.

Ajudo-a abrindo as latas com um canivete enquanto ela despeja o conteúdo das latas em um pequeno caldeirão.

– Robyn?

– Sim – respondo enquanto termino de abrir a última lata.

– Você por acaso sabe onde a Chelsea está?

– Talvez ela esteja no rio. Hoje eu ainda não a vi no acampamento.

Mariz leva o pequeno caldeirão até a fogueira.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora