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O quarto do Axel fica no quarto andar abaixo do subsolo. Na verdade, a maior parte de Alexandrena fica no subterrâneo, apenas cinco andares ficam acima do solo, e são usados para pesquisas relacionadas à radiação. Os cientistas que vivem lá e precisam sair, sempre tem de usar uma roupa especial e máscara de gás, caso contrário, eles morrem com o nível de radiação, assim como Linden.

Alexandrena tem um gerador solar de energia elétrica e isso possibilita que esse lugar continue a funcionar. Ao redor do edifício há uma cerca elétrica que mantém possíveis invasores longe, e alguns metros antes de chegar à cerca, há armadilhas, foi uma dessas armadilhas que furou os pneus da caminhonete e fez o veículo ser alavancado para o alto. Por isso sofremos aquele acidente.

Quando bato na porta do quarto do Axel – e percebo com certo espanto que não hesitei –, a porta não é aberta e o quarto parece vazio, já que está silencioso demais do lado de dentro.

Mas como a boa garota que sou, ignoro esse pequeno detalhe e testo a maçaneta. A porta não está trancada e me esgueiro para dentro do quarto facilmente antes de pensar se é errado ou não.

O quarto que deram ao Axel é exatamente como o meu. Pequeno, mas aconchegante e já mobiliado com uma cama, um armário, um sofá de dois lugares e um conjunto de cadeiras com uma mesa.

Olho ao redor e percebo que o Axel não deixaria a porta destrancada se saísse, então ele deve estar no banheiro. Me deito no sofá e espero por ele.

Fecho os olhos quando ele começa a demorar.

Não consigo imaginar como Axel está se sentindo com tudo isso. A casa em que ele vivia era enorme e lá ele dispunha de todo o conforto possível, então talvez esse lugar não tenha o impressionado tanto assim.

Na verdade ainda não consigo entender porque ele veio até aqui. Quando Axel aceitou ficar com os Rhewn, era apenas até que seus ferimentos se curassem e imaginei que depois disso ele seguiria seu próprio rumo. Axel sempre me pareceu um lobo solitário, com uma própria rota na cabeça.

Ouço a porta do banheiro se abrindo, no entanto permaneço deitada, apreciando o silêncio e o conforto. De repente, queria que Roman tivesse vivido o bastante para experimentar tudo isso conosco.

Os passos de Axel seguem até onde estou estancam no momento em que – creio eu – ele percebe minha presença no quarto.

– O que faz aqui?

Abro os olhos para observá-lo quando percebo um pouco de desconforto e irritação em sua voz.

Axel está de costas para mim e sua postura me diz que, definitivamente, conforto é o que ele menos sente com minha presença aqui.

– Eu percebi que você não estava no refeitório e vim ver se algo aconteceu.

– Estou bem – ele pausa como se esperasse por uma resposta minha. – Agora você já pode ir embora.

Me levanto do sofá e me aproximo dele, como se temesse minha aproximação, Axel fica com a postura tensa. Consigo ver isso pela forma como os músculos de suas costas se contraem.

– Por que você não olha para mim? – questiono e um certo grau de desolação em minha voz é perceptível.

Ele não responde e por isso toco suas costas. Axel se vira bruscamente, como se eu tivesse acabado de ferí-lo e percebo a linha grossa e vermelha que corta seu rosto de cima abaixo, na verdade, mesmo que eu tentasse não dar atenção à isso, o corte é grande o bastante para ser notado, até mesmo à distância.

O ferimento de Axel começa ao lado do seu olho esquerdo e desse em uma linha curva pela lateral do rosto até terminar abaixo de sua boca, entre os lábios e o queixo.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora