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Ainda estou acordada quando a alvorada se aproxima. Embora meu corpo e minha mente estivessem em completa exaustão não consegui adormecer. A preocupação de estar em um território perigoso me deixou mais cautelosa.

Suponho que Axel também não dormiu, ele não me parece um sujeito descuidado e o vi levantar várias vezes durante a madrugada.

Em um momento da noite, experimentei uma preocupação real sobre Axel querer me deixar e fiquei surpresa em descobrir que não mais desejo isso como antes.

Me levanto minutos antes do sol nascer e constato que estou com muita fome. Preparo um lanche com os suprimentos que os Rhewn deixaram para mim e em seguida faço o mesmo para Axel, espero que seja meu instinto de sobrevivência falando mais alto.

Axel se levanta um pouco depois e faz questão de não me olhar e nem mesmo falar comigo. Ele pode achar que eu estou agindo de uma forma irritante, às vezes até mesmo eu acho isso, mas ainda estou passando pelo luto e não sei se de fato isso passará completamente.

Sei que somos pessoas difíceis de lidar, eu e ele, talvez não tenha sido à toa que terminamos juntos e sozinhos no final.

Respiro fundo antes de me aproximar do Axel e no instante em que o faço, me arrependo.

Lhe estendo o lanche que preparei para ele enquanto Axel me olha com curiosidade e desconfiança mal contidas, como se eu pudesse ter envenenado sua comida.

– O que há? – Ele se recusa a pegar a comida.

Dou de ombros, tentando soar espontânea ou pelo menos descontraída.

– Só achei que você pudesse estar com fome.

Axel sorri sem realmente achar graça e começa a remexer dentro da sua mochila.

– Você não pode me enganar, Robyn. É como uma regra: um mentiroso não consegue enganar o outro.

– Eu não estou tentando te enganar – tento explicar e arrisco me aproximar mais. – Sei que você é uma pessoa naturalmente desconfiada, mas não se preocupe, eu não coloquei veneno.

Quem sabe em outra época eu o teria envenenado se tivesse essa oportunidade.

– Eu sei disso. Estamos em um território potencialmente perigoso e ficar sozinha aqui não seria muito inteligente da sua parte. Mas, estou curioso sobre o fato de que hoje você não estar agindo como uma criança insuportável.

Faço questão de ignorá-lo. Pego sua mão e coloco o lanche nela.

– Ser gentil é a minha qualidade mais louvável.

Axel ri com vontade e sei que essa é sua forma de mostrar o quanto não acredita em minha afirmação, não posso culpá-lo por isso.

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Algum tempo depois, uma chuva nos impede de prosseguir viagem e temos de arrumar nossas coisas no mesmo local, pois parte do telhado da cabana está destruído.

Estou me sentindo sonolenta, mas luto para não adormecer, quero aproveitar esse tempo para pensar sobre o que farei daqui em diante.

Não sei se devo continuar seguindo para o norte ou se mudo de direção, a única coisa que tenho quase certeza é que os Rhewn passaram por aqui e talvez ainda não saibam que esse território pertence aos canibais.

Por mais que eu não goste, estou preocupada com eles. Ainda lembro muito bem o que me fizeram e ainda sinto um enorme desagrado ao pensar nisso, mas imaginá-los sendo devorados por canibais não me faz sentir melhor.

Cochilo por alguns minutos e acordo com uma leve batida no ombro.

– O que foi? – pergunto ainda sonolenta para Axel.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora