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Quanto mais forte uma pessoa é por fora, mais fraca ela é por dentro.

Há anos venho contendo cada sentimento de tristeza e cada lágrima que ameaçou cair, no entanto isso só fez a dor ficar entranhada dentro de mim, em cada célula, e finalmente, eu cheguei ao meu limite. Não consigo mais segurar nenhum sentimento, nem uma lágrima a mais.

Desde muito cedo eu tive que viver sabendo que um dia não teria mais Roman por perto, para tentar evitar isso, quando éramos crianças nossa mãe sempre tentou nos manter afastados para não nos apegarmos, mas era inevitável.

Roman é como meu centro de gravidade, e eu jamais consegui me manter longe por tempo o suficiente dele. Sem ele eu, realmente, estarei perdida.

Não consigo nem contabilizar quantos pesadelos eu tive em que ele estava sofrendo ou morrendo e eu nada podia fazer além de observar tudo, enquanto clamava internamente por um milagre divino que o salvasse. Porém nada do que eu prometia adiantava, ele sempre acabava em uma cova, morto e esquecido, como tudo sempre termina.

Eu gostaria de explicar isso à Eve, algum dia, sem que eu começasse a gritar ou chorar, no entanto, não importa quantas palavras eu use, quantas lágrimas eu derrame; pois enquanto Eve perde seu namorado, eu perco algo muito mais profundo, muito mais doloroso, muito mais íntimo. Perco uma parte de mim, porque é isso que é perder um irmão. Ele é mais do que o sangue que compartilhamos ou do que a fraternidade, é algo imenso e inexplicável, sem um valor calculável e com certeza, sem uma data de validade.

Mas, ainda sim, sei que ela não me compreenderia.

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Minhas costas estão apoiadas no tronco de uma árvore. Estou curvada sobre meus joelhos enquanto uso meus braços para cobrir meu rosto, tenho certeza de que estou com uma aparência perturbadora. É estanho como chorar é de, algum modo, libertador, mas deixar que alguém veja essas lágrimas parece constrangedor.

Pequenos espasmos chacoalham meu corpo enquanto soluços e suspiros incontáveis continuam saindo de mim. Desisti de tentar fazer tudo isso cessar.

No entanto, o pior de tudo são as lágrimas, que continuam caindo como se tivessem sido acumuladas por ano à fio, e de fato foram. Já não me lembrava do gosto salgado que elas possuem.

Em algum momento em meio a minha choradeira, alguém se aproximou, e não tive coragem de levantar a cabeça para ver quem era.

Sinto uma inveja avassaladora quando percebo que não pode ser meu irmão quem se aproximou, pois aposto que Eve correu direto para os seus braços.

Ouço um pigarro de alguém que parece tão desconfortável quanto eu.

– É estranho presenciar um momento seu de queda, quando você sempre é tão sólida e forte.

A última pessoa que eu esperava aparecer por aqui. Axel Westland.

Talvez ele tenha vindo para se divertir um pouco com a estranha e frágil Robyn que está diante dele.

– Eu quero ficar sozinha – digo, para o caso dele não ter percebido algo tão óbvio, no entanto sai como uma súplica quase desesperada.

De repente sinto seu corpo próximo ao meu e percebo que ele se sentou do meu lado.

– Você sempre está sozinha, Robyn.

– As pessoas me atrasam. Me ferem e o contrário também.

Sinto seu corpo se mover e acho que ele sorriu, mas como não vi, não sei que tipo de sorriso é.

– Vou me arriscar a ser ferido, então.

Levanto a cabeça e o encaro. Já não me importo se ele vai ver minhas lágrimas e se alegrar com isso.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora