Imperfeitos

23

Paro a moto no centro do nosso acampamento e desço primeiro.

– Quem é aquele? – pergunta Chelsea demonstrando algum interesse mais profundo.

Me volto para Axel, que também já desceu da moto.

– Não abra a boca.

Ele cruza os braços e curva a boca num sorrisinho detestável.

– Vamos ver em quanto tempo você consegue fazer com que me expulsem daqui.

Olho para Brakko e Keun, ambos já baixaram as armas, mas só porque eu estou na frente do Axel.

– Este é Axel...

Não consigo dizer mais nada. Como vou explicar que eu lhe devo um favor – ou mais –  se ele não quer ser taxado como uma boa pessoa?

Nem preciso continuar. De repente Eve está na minha frente e pela primeira vez se encontra furiosa.

– Como ousa trazê-lo aqui?! Você sabe que ele não é confiável! Ele só está aqui por um único motivo.

Ouço uma baixa gargalhada de Axel atrás de mim.

– Ele não veio aqui atrás de você, Eve – tento esclarecer, mas ela está desequilibrada demais e não parece me ouvir.

– Por causa desse desgraçado minha vida foi arruinada nos últimos anos!

Roman se aproxima de Eve, e aparentemente só o conforto dele pode fazê-la calar a boca.

Prossigo falando e minha voz sai com um pouco de sarcasmo aparente.

– Eu sei de toda a sua triste história, Eve, mas é passado. As coisas mudaram e se você não pode perdoá-lo, apenas o ignore.

– Ignorá-lo? Como pode me pedir isso se toda vez que eu olhar para ele vou me lembrar de tudo?

– Acho que ela só está furiosa porque era apaixonada por mim e eu nunca retribuí seu afeto da forma como ela esperava.

O acampamento todo olha com choque e surpresa para Axel e Eve.

Será que ele disse a verdade ou está apenas sendo irritante como sempre?

Observo Eve corar levemente e olhar para o chão, isso já é como uma confissão.

– Então é por isso? – questiono e olho para Roman, ele parece tão surpreso quanto todos, além de um pouco magoado.

– Não! É claro que não! – discorda Eve, no entanto sua voz trêmula a trai. – Ele está mentindo. Sempre foi um mentiroso e sempre será.

– Por que o trouxe aqui? – Roman se pronuncia, e sua voz soa estranhamente triste além de cheia de ódio, algo inédito para mim até então.

– Ele está ferido.

Mariz se aproxima de Axel e de repente o leva para o tronco caído de uma árvore e começa a ajudá-lo com a perna, sem questionar ou julgar, talvez seja seu instinto de mãe agindo.

Chelsea e a tagarela e também curiosa Louise se aproximam da mãe e a ajudam.

Axel se mostra extremamente desconfortável com toda a proximidade de desconhecidos e principalmente pelo fato de Mariz estar tocando nele de uma forma quase carinhosa.

Logo todos começam a voltar a rotina de sempre, apenas Eve, Roman e eu permanecemos no mesmo lugar.

– Eu não quero mais ficar aqui... – sussurra Eve com o olhar perdido entre as árvores secas e fantasmagóricas da floresta, então começa a caminhar na direção do rio.