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– Você o matou! – Eve diz enquanto tento ligar a moto de Alden. Ela não parece estar me julgando como eu achei que estaria.

– É claro que não. Ele só desmaiou.

– Mas deveria tê-lo matado – ela replica com raiva.

Paro por um instante e a olho.

– Se o queria mesmo morto, você mesma deveria tê-lo feito.

Ela engole em seco e percebo que mesmo odiando Axel, ela jamais teria coragem de tirar a vida dele ou de qualquer outra pessoa.

Volto a me concentrar na moto e logo consigo fazê-la funcionar, imitando os gestos que vi Alden fazer quando me trouxe para cá.

Subo na mesma e Eve se senta atrás de mim. Ainda que seja arriscado esse é o melhor jeito de se distanciar rapidamente dos Westland e deixá-los sem um meio de transporte.

Acelero a moto e pego um atalho para o poço onde Roman deve estar nos esperando. Através do espelho retrovisor consigo ver Alden à distância, correndo atrás de nós até finalmente sumir de vista.

Espero nunca mais vê-lo.

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Seguro o freio da moto a fazendo parar um instante depois. Desço da moto e procuro por Roman com os olhos, mas não adianta, ele ainda não chegou. Viemos cedo demais.

– O que houve? – pergunta Eve se aproximando.

– Ele ainda não está aqui.

– Ele quem?

– Meu irmão. Era para nos encontrarmos aqui ao pôr-do-sol, mas chegamos muito cedo.

– Temos que prosseguir – Eve diz e a encaro incrédula. – Se eles nos alcançarem será nosso fim.

– Eu não vou deixar o meu irmão para trás! – Exclamo irritada com sua ousadia. – Não pense que sua opinião vale alguma coisa comigo.

– Olha – começa a dizer um tanto encabulada –, aquilo que o Axel disse...

Ergo a mão, pedindo para que ela não prossiga.

– Por favor, poupe-me dos detalhes.

– Não... Não é o que você está pensando. – Sinto a necessidade que ela tem de se explicar. – Axel nunca encostou um dedo em mim, mas fazia as pessoas acreditarem que sim.

– E mesmo assim você o odeia – digo, não que eu queira defendê-lo, mas não compreendo os sentimentos de Eve, muitas vezes mal compreendo os meus.

Ela sacode a cabeça.

– Ele podia até não me tocar, mas era horrível comigo mesmo assim.

Eve se cala abruptamente, como se apenas lembrar dele fosse ruim o bastante.

Ando até a moto e volto a subir nela, ligando-a logo em seguida.

– Para onde vai? – Eve pergunta aflita.

– Vou buscar meu irmão. Precisamos partir o mais breve possível.

Ela caminha até mim e segura meu braço antes que eu acelere a moto.

– Prometa que não vai me abandonar aqui.

Não olho em seus olhos.

– Eu volto assim que der.

Mas não posso prometer que não vou abandoná-la.

Desvencilho-me dela e acelero a moto com as mãos suando.

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Deixo a moto escondida à alguns metros da minha casa. Tenho que encontrar uma forma de me comunicar com Roman sem que meus pais saibam.

Caminho de um lado para o outro. Meu tempo é curto demais para pensar em um bom plano.

Irritada, corro até os fundos da casa e abro o janela do quarto que divido com Roman. O quarto está vazio.

Sem pensar duas vezes, entro no quarto e começo a juntar algumas coisas essenciais em uma bolsa de pano que levarei comigo. Pela primeira vez dou graças a Deus pelo fato de minha mãe ser quase surda.

Antes de sair do quarto me certifico de que não esqueci de nada e por fim jogo a bolsa pela janela.

A porta se abre de repente e para o meu total alívio é Roman.

– Robyn? O que está fazendo aqui? – Ele pergunta em voz baixa.

Vou para o lado de Roman e fecho a porta.

– Houveram complicações nos nossos planos. Precisamos ir agora.

Caminho até a janela, pronta para pular a mesma.

– Espera. Que tipos de complicações?

– O irmão de Alden sabia exatamente o que eu ia fazer.

Roman segura meu braço quando tento subir no parapeito da janela.

– Quer, por favor, me explicar direito o que diabos aconteceu?

– Roman, eu explico tudo o que você quiser saber mais tarde, mas precisamos ir agora. Antes que eles nos alcancem.

Ainda um pouco atordoado, Roman pega sua sacola de viagem e a joga pela janela, como eu fiz. Depois ambos pulamos a mesma, pegamos nossas coisas e corremos para onde deixei a moto.

Assim que meu irmão vê a moto sua expressão fica ainda mais confusa.

Monto na moto e espero por Roman.

– Como você aprendeu a pilotar essa coisa? – pergunta relutante se juntando a mim.

Dou de ombros.

– É mais fácil do que parece.

No momento em que ligo a moto sinto Roman apertar meu ombro de leve. Um pouco impaciente, me volto para ele.

– O que foi?

Mas ele não está prestando atenção em mim. Está olhando na direção da casa onde crescemos.

Sigo com meu olhar até a varanda.

Afinal de contas, nossa mãe não é tão surda assim. Ela nos observa abraçada ao pilar da varanda. Parece tão desolada. Eu queria poder confortá-la e dizer que tudo esta bem, mas nada nunca estará bem enquanto eu ficar aqui.

Ela não vai contar ao nosso pai o que aconteceu. Não contou da primeira vez e mesmo que isso se repetisse cem vezes mais, ainda assim ela não contaria.

– Roman, você não precisa fazer isso.

Sei o quando meu irmão ama e se preocupa com nossa mãe, e, por Deus, jamais quero fazer Roman sofrer.

Roman volta a olhar para a frente.

– Nossa mãe escolheu o caminho dela, agora nós estamos escolhendo o nosso.

Respiro fundo.

Nosso caminho é tão incerto que tenho medo de estarmos indo diretamente para a morte.

Nossa mãe dá um pequeno aceno de adeus e me volto para a frente sem retribuir seu gesto, não quero tornar esse momento mais doloroso do que já está sendo.

Creio que ambos sabemos que isso definitivamente é um adeus.

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ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora