Enquanto Brakko explica à todos nosso pequeno e significativo achado, não deixo de observar Georgia. Desde que tudo aquilo aconteceu, ela ainda não demonstrou reação nenhuma, como se aquele dia em específico nunca tivesse existido para ela.Sei que Keun acredita que algum dia sua tia voltará ao normal, mas observando-a nesse momento, não tenho certeza de que ela possa melhorar.
Brakko limpa a garganta para chamar a atenção de todos que começaram a sussurrar entre si.
– Sei muito bem que se formos até esse lugar será um destino incerto – prossegue Brakko, com um olhar levemente atormentado –, no entanto, desde que saímos de nossas casas, nosso destino têm sido incerto. Então, antes de prosseguirmos, eu gostaria de saber se vocês estão dispostos a seguir adiante, assim como eu estou.
Embora eu não possa afirmar que compreendi as palavras nas entrelinhas, tenho certeza de que o que Brakko quis dizer é que já está cansado de vagar por aí, sem perspectiva nenhuma, além disso, não se pode descartar sua idade, cinquenta anos nas costas em um mundo como esse, é muito tempo. Muito sofrimento.
Keun se levanta, e percebo pela sua expressão que ele sabe exatamente o que seu pai quis transmitir sem dizer. Ele toca o ombro de Brakko.
– Pai, não importa onde você for, eu sempre estarei com você.
Eles se abraçam brevemente e não é necessário ser dito algo. Todos estão de comum acordo, à exceção de Georgia, que com certeza não ouviu ou viu nada.
Brakko traça rapidamente uma rota para nós, evitando os lugares perigosos e em seguida nos passa uma lista de tudo o que precisamos encontrar antes de partir, incluindo gasolina, caso contrário não seremos capazes nem de sair dessa cidade destruída. Decidimos permanecer aqui por mais alguns dias, até conseguirmos todos os suprimentos necessários e dando à Axel mais uma chance de acordar e se juntar à nós.
Perto das dez da noite, todos se recolhem – menos Eve e Georgia – pois nossos próximos dias serão exaustivos e teremos de vasculhar cada centímetro dessa cidade.
Me levanto de onde estava.
– Boa noite – digo para Eve, já que dificilmente Georgia responderá.
– Espere, Robyn. – Eve se levanta e se aproxima de mim – Preciso conversar com você.
Olho para ela, desconfiada e me preparo, tenho a ligeira sensação de que em breve Eve jogará uma bomba no meu colo.
– Pode falar – peço e meu tom já está mais sombrio do que minutos antes.
Eve abre a boca e então hesita. Seus olhos não conseguem encarar mais os meus.
– Podemos nos sentar?
– Fique a vontade para sentar-se, eu estou bem assim.
Ela concorda com um aceno de cabeça e se senta, passa as mãos sobre os joelhos e depois volta a se levantar, completamente desconfortável.
Eve está tão nervosa que consegue fazer o clima piorar.
– Eu... Eu...
Solto um longo suspiro de impaciência, mas espero em silêncio.
De repente, Eve parece realmente resoluta.
– Eu vou ter um filho. – Fico sem reação. – Estou grávida.
– Meus parabéns?
Logo é Eve quem está sem paciência e quando viro de costas e me afasto, ouço ela dizer, quase num sussurro:
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Imperfeitos
Science FictionEm um futuro pós-apocalíptico, onde as jovens são forçadas a se casar e a terem inúmeros filhos com o intuito de "salvar o mundo", Robyn Leatherwood de 17 anos não aceita seu destino e quando fica noiva de Alden, decide que é hora de mudar seu futur...