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Eu nunca pensei sobre o que a morte de alguém significa, não até a morte do meu irmão. Agora percebo que ele significou para mim, muito mais do que eu imaginava.

Quando Roman estava vivo eu só me preocupava com a dor do luto e que o resto provavelmente não teria mais importância para mim, mas depois de ler e reler a carta de Roman, escrita pelo Axel, percebi coisas que eu estava deixando passar por estar magoada com todos ao meu redor. Como o fato de que na minha infância reclamava por não ter uma família de verdade e quando finalmente ganhei uma, mandei todos embora cegada pela minha dor, e se há algo que uma família pode ensinar é que o erro está presente em tudo, mesmo nas pessoas que amamos e que nos amam.

Ainda que um longo caminho para perdoá-los se estenda à minha frente, sei que me importo com eles de uma forma que não pode ser passada despercebida; e tomei uma decisão, talvez uma das mais importantes da minha vida.

No momento em que Axel volta para a cabana, já terminei de arrumar minhas coisas. Ele me olha surpreso, mas ainda ostenta um expressão estranha.

– Estamos de saída? – pergunta, mas não faz menção de arrumar as próprias malas.

– Sim, e precisamos ser rápidos.

– Rápidos para quê?

Pondero se devo ou não lhe dizer a verdade. Embora minha vontade de alcançar os Rhewn seja grande, sei que nossas chances são bem pequenas, uma vez que eu estou à pé e eles não.

– Onde está sua moto? – Pergunto, pois não a vejo já faz algum tempo.

– Por que o interesse?

– Não temos tempo, Axel. Preciso que se apresse.

De repente sua expressão muda completamente, adquirindo traços soturnos e só posso imaginar que sua bipolaridade tenha voltado, pois não me lembro de tê-lo irritado em um passado próximo.

– Então agora você me quer por perto? – indaga e seu tom é uma confirmação da sua irritação repentina.

Franzo o cenho enquanto pondero sobre o que diabos está acontecendo com Axel.

– Por que você está agindo dessa forma? – Quebro o incômodo silêncio.

– De quê forma? – questiona e abre um sorriso que não parece realmente expressar felicidade. – Eu estou apenas sendo eu mesmo.

– Não. Você está agindo como o Axel louco que eu conheci.

Ele se aproxima e sua forma lenta de andar é um tanto assustadora.

– Não. Eu estou agindo como o louco que sempre fui. O louco que nunca deixarei de ser. Você sabe. Então, antes de me iludir ainda mais, e Deus sabe como isso é insuportável, eu quero que você decida.

Minha cabeça começa a dar voltas e não consigo encontrar nenhum motivo realmente aceitável para o comportamento estranho e inesperado de Axel.

– Decidir sobre o quê?

Embora um lado de mim esteja afogado em surpresa e confusão, no fundo tenho a ligeira impressão de que sei exatamente do que tudo isso se trata.

– Decida sobre mim. Decida sobre nós.

Quando foi que houve algum nós nessa história toda?, eu me pergunto.

Eu poderia jurar que esse momento não passa de algum sonho sinistro e constrangedor. Afinal, o que ele quer que eu faça? Que eu diga?

– O mundo é muito maior e complicado do que nossos próprios sentimentos.

Axel me olha desdenhoso, mas ainda não parece contente com minha resposta.

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