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Um dia se passa e embora a cidade seja grande, muitos edifícios estão completamente destruídos e é difícil entrar e sair ilesa deles.

Encontro o que aparentemente era um parque no centro da cidade, o terreno está árido e completamente sem vegetação. Continuo seguindo pelos prédios abandonados e tento imaginar como seria viver aqui na época antes da guerra.

Talvez minha família fosse mais unida ou não. Talvez muitas das pessoas que encontramos aqui não encontraríamos aqui em um tempo sem caos.

É estranho pensar que tudo seria completamente diferente, já que tudo o que conhecemos não é agradável ou feliz. Quem sabe Roman teria se apaixonado por qualquer outra garota e Alden e Axel jamais teriam cruzado nossos caminhos.

Talvez eu nem fosse eu mesma ou tivesse Roman como irmão.

Então, antes que eu me afaste do antigo parque, agora convertido em deserto, me volto novamente para ele e de repente sou transportada através dos meus pensamentos para uma realidade paralela à minha.

Primeiro vejo Roman. Ele está jovial e não parece cansado. Tem o corpo mais musculoso e suas costas não são curvas. Seus cabelos reluzentes estão um pouco longos e ele se encontra sentado na grama de um lindo parque.

Roman lê um livro, cujo título não consigo ver, mas parece ser divertido, pois ele sorri em vários momentos, às vezes olha ao redor, preocupado em ser visto rindo sozinho e novamente se volta para o livro.

Caminhando decidida pela rua, uma Eve extremamente charmosa chega ao parque e se senta na frente de Roman, quando ele percebe sua presença, deixa seu livro de lado e os dois começam uma conversa animada, soltam risadas escandalosas e se olham apaixonados.

Eve usa um vestido florido e sandálias confortáveis. Ela está com os cabelos loiros na altura dos ombros e percebo a aliança de noivado em sua mão esquerda.

Balanço a cabeça e ofego enquanto as imagens se dissipam em minha mente. Não quero pensar no que não posso ter, e de todas as coisas inacessíveis na minha vida, essa é, sem sombra de dúvida, a maior.

Abandono o parque sem olhar para trás e sigo até um grande prédio, possivelmente um dos maiores dessa cidade.

Adentro o prédio e percebo que por dentro ele permanece em bom estado, embora todos os móveis estejam em pedaços ou queimados. Subo pela escada na intenção de explorar seus andares superiores, talvez eu possa passar a noite por aqui.

Não consigo contabilizar quantos andares o prédio tem, mas sei que são muitos, pois quanto mais subo as escadas, tentando alcançar o último andar, mais parece que estou distante.

Finalmente, cansada demais para prosseguir, paro de subir as escadas e fico entre o trigésimo ou quadragésimo andar, não sei distinguir exatamente onde estou.

Muitas dos quartos desse andar estão com as portas escancaradas – pelo menos os que ainda possuem portas –, como se todos os moradores daqui tivessem que ter saído as pressas e consigo imaginar o porquê.

Deixo minha mochila em um dos quartos mais próximos e exploro o resto do andar antes de me permitir baixar a guarda.

É o segundo dia que estou nessa cidade em ruínas e não encontrei nada de útil para levar até o acampamento. Não quero ter que voltar de mãos vazias e ter de encarar à todos.

O céu começa a escurecer e um vento forte vindo do sul, trás consigo grossas nuvens de chuva. Não demora muito para que tudo se encontre afogado na mais profunda escuridão.

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A preocupação de não encontrar mantimentos não me permite dormir bem durante a noite e acordo muito antes do dia clarear, com o corpo dolorido.

Deixo tudo pronto para o caso de mim ter de voltar para o acampamento mais cedo e após comer algumas nozes e tâmaras, saio do quarto e começo a subir ainda mais os andares.

Alcanço, finalmente, o último andar, mas assim como todos os outros, nesse também não há nada de especial. À exceção de um amontoado de cinzas e madeira queimada no canto de um dos quartos.

Passo a mão acima das cinzas e percebo que ainda está quente e com algumas brasas resistindo bravamente, prova de que alguém esteve ou ainda está por aqui.

Tenho o estranho pressentimento de que não estou em perigo, mas mesmo assim procuro por algum tipo de arma para me defender. Encontro um pedaço de ferro e o levo comigo enquanto exploro o resto do último andar.

Passo por um pequeno saguão que outrora foi branco, com enormes pilares antigos se agigantando em meu caminho.

Atrás de mim, um barulho chama minha atenção e caminho até estar na frente de um pilar próximo à parede. Seja quem ou o quê fez aquele barulho, está atrás desse pilar, e aparentemente, assim como eu, está sozinho.

E já percebeu minha presença.

Sem que eu consiga processar, um sujeito extremamente alto, com o rosto coberto por um capuz, sai de trás do pilar e me encara.

Não consigo ver seu rosto, mas tenho certeza de que se fosse alguém perigoso já teria me matado. Ergo a barra de ferro, na intenção de ameaçá-lo e ele sorri, uma risada familiar, irônica e um tanto gélida.

O sujeito baixa o capuz e a pouca luz da madrugada ilumina suas feições. Rosto pálido, cabelos negros como uma noite de céu encoberto e olhos prateados, que agora se encontram escurecidos pela pouca claridade.

– Procurando por mim?

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ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora