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Acordo com um vento leve tocando meu rosto como uma carícia quase fantasmagórica.

Tudo ao meu redor não passa de um borrão, até as vozes parecem completamente irreais.

Estou com sede.

– Água...

Peço, mas ninguém parece me ouvir, talvez eu tenha falado muito baixo.

– Água.

Ouço uma comoção e alguém segura minha cabeça enquanto me dão de beber.

Tomo o máximo de água possível, até engasgar com a mesma. Tusso.

– Ei, acalme-se. Tem bastante água para você. Não se preocupe.

Não conheço essa voz, assim que constato isso, meu instinto exige que eu reaja com violência, mas no instante em que tento me levantar sinto minha costela machucada protestando e volto a me deitar.

– Quem é você? – pergunto e logo minha visão começa a se acostumar com o vento e a luz do dia.

Uma garota está comigo. Foi ela quem me deu de beber, sem dúvida ainda está na faixa dos 10 anos e parece realmente inofensiva.

– Sou Louise Rhewn.

– Meu nome é...

– Eu sei quem é você! – Louise me interrompe, entusiasmada. – É a Robyn, irmã do Roman.

– Como você...

– Roman está aqui – ela me interrompe novamente. – Nós encontramos ele e a namorada e resolvemos ajudá-los. No início ele não queria aceitar porque tinha que esperar por você, então decidimos ajudar ele indo atrás de você, assim seria mais rápido. E ele estava muito desesperado.

Tento novamente me levantar ao ouvir o nome de Roman, e falho miseravelmente, de novo.

– Onde ele está? Eles estão bem?

Louise não me responde, se vira para o lado e abre o que se parece com uma pequena janela, só então percebo que estou num lugar desconhecido. Nunca vi nada igual, é feito de metal e anda sobre rodas, mais rápido que um ser humano.

– Ela acordou – Louise anuncia colocando a cabeça para dentro da janela.

– O que é isso? – pergunto assim que ela tira a cabeça da pequena janela.

– Se chama carro, veículo, caso você seja mais requintada e caminhonete caso você não tenha requinte algum. Serve para transporte.

– Nunca vi nada assim.

Ela ri.

– Realmente, é muito raro alguém possuir um veículo – diz com o peito estufado, se mostrando requintada, eu imagino e se gabando também. – Eles funcionam com gasolina e é difícil conseguir esse combustível.

– Parece muito útil.

– E é. Também é bastante veloz, por isso é bom para o transporte.

O carro começa a diminuir de velocidade e por fim para. Ouço o que se parece com uma porta sendo aberta e de repente vejo Roman e logo atrás, Eve.

Ele abre a parte de trás, onde eu e Louise estamos e sobe.

– Lou, seus pais pediram para você ir lá dentro agora – Eve diz parecendo uma irmã mais velha falando com a mais nova.

Louise faz um muxoxo de descontentamento.

– Mas eu gosto de ficar aqui atrás.

– Não há espaço para todos nós aqui e queremos ficar com a Robyn um pouco – explica Eve.

Ainda descontente, Louise pula da traseira da caminhonete e vai para dentro da cabine onde Roman e Eve estavam.

Roman e Eve sobem e se sentam próximos à mim, um tempo depois o veículo volta a se mover.

Meu irmão se aproxima ainda mais e me abraça da melhor forma que pode, pois ainda me encontro deitada.

– Ah, meu Deus, Robyn, como é bom ver você acordada – ele diz e então se afasta para avaliar meu rosto. – Nossa, você está horrível.

Eu sorrio.

– Você sabe exatamente o que dizer à uma garota, Romy.

Roman sorri também e por um momento seus olhos se enchem de lágrimas.

– É ainda melhor ouvir sua voz.

– Chega – eu digo. – Esse momento está ficando muito meloso.

Olho para Eve do meu outro lado, ela também está segurando as lágrimas e parece querer me abraçar.

– Oi, Eve.

Ela não se segura e de repente está me abraçando e chorando.

– Ei, calma aí, garota – digo e passo a mão sobre seus cabelos. – Eu estou bem agora.

– Eu não acredito que estava brigando com o Roman por estar tão preocupado com você e agora estou aqui, te sufocando com um abraço.

Eve se afasta limpando suas últimas lágrimas e sorri fraco.

– Obrigada – ela diz e a olho confusa. – Eu nunca te agradeci por ter me tirado da casa dos Westland, então, muito obrigada.

– Acho que, inconscientemente, eu fiz isso pensando no Roman.

Eles se entreolham e trocam um sorriso cheio de afeto.

– Então – começa Roman e sinto que terei de responder algumas perguntas –, o que houve com você?

Penso sobre a verdade, não é tão horrível na minha percepção, mas talvez para eles seja, além disso quero poupar Eve de saber que Axel está próximo.

– Eu caí.

Eles me observam incrédulos.

– E os canibais?

– Despistei eles e quando eu estava voltando me perdi por causa da chuva e caí de um pequeno desfiladeiro.

– E foi assim que machucou todo o seu corpo? – Pergunta Roman e tenho certeza que ele não acredita em mim.

– Foi.

Ele continua me olhando desconfiado e mal acredito quando Eve vêm em meu socorro.

– Aquela chuva foi realmente horrível.

Concordo com a cabeça.

– E por que estava coberta de sangue? – Meu irmão insiste.

– Bem, como eu disse, caí de um desfiladeiro, quase fraturei uma costela, machuquei meu corpo inteiro e depois comi um coelho cru ou morreria de fome.

Não digo à eles que se não fosse pela chuva eu teria ainda mais sangue em mim.

– Vocês ficaram bem sem mim? – Pergunto porque quero realmente saber e é um bom modo de desviar a atenção de Roman de mim.

Eles concordam com a cabeça e Eve toma a dianteira me explicando o que aconteceu.

– Mas não encontramos nenhuma ruína pelo caminho. Nos escondemos embaixo de algumas árvores e pela manhã o Brakko e a família nos encontraram. São boas pessoas, eles nos ajudaram a te encontrar. Disseram que podemos ficar com eles se não quisermos mais seguir sozinhos. Eles tem meios de se proteger.

– E o que decidiram?

– Nada, por enquanto. Estávamos esperando você acordar para tomarmos uma decisão.

– Você tem que se recuperar – diz Roman. – Então devemos ficar com eles até você ficar bem, e também vamos aproveitar para conhecê-los melhor, mas tenho certeza que são pessoas amigáveis.

– Isso parece bom – digo. – E em maior número é mais fácil de nos defendermos.

Passamos o resto da tarde conversando sobre coisas banais e descubro que dormi durante quase um dia inteiro, depois disso, Louise aparece na janela e avisa que vamos parar em trinta minutos para encontramos um lugar bom para passar a noite.

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ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora