Cap. 2: O Intruso

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Oi gente!!! Só estou passando aqui para mostrar-lhes a linda capa que a @BiancaAguiari fez para Porcelana (multimídia). Eu amei!!!

Bjsss, boa leitura!!!

P.S.: Apenas um aviso, para reafirmar a mudança no concurso Marcados Pela Porcelana: agora, a data de encerramento é dia 20/09 (para mais informações, consultem meu mural).



Em vez de ficar parada no meio da sala, sozinha e confusa, resolvi me virar e voltar para o quarto, para pôr os pensamentos em dia. Além disso, minha dor de cabeça infernal retornara, fazendo minhas têmporas latejarem. Esta dor constante virara rotina, pois surgia todos os dias, com intensidades diversas.

Tomei um corredor que ficava à esquerda, logo ao lado daquele em que Luigi e os outros haviam entrado, e segui covil adentro. Com uma mão massageando a área em cima dos olhos, observei novamente minha prisão bem decorada.

Todos os corredores eram iguais, com um carpete vermelho no chão, paredes salmão e espelhos de molduras douradas, distribuídos em um intervalo de 20 centímetros, mais ou menos. Lá dentro era escuro (devido a falta de janelas) e difícil de saber quando o dia chegava. Eu só conseguia avistar o lado de fora quando fugia, por rotas que criara através da área de serviço da mansão, ou pelas frestas entre a madeira, que eventualmente apareciam em lugares onde deveria existir vidro. Virei à direita, que era a direção do "lado feminino" dos quartos, e então à esquerda, para a ala das bambolas. Como o lugar estava deserto e eu era a única "boneca de Fundador", ficava com o corredor inteiro só para mim.

De repente, avistei a porta de meu quarto, que era de uma madeira escura e lisa, com a sigla "S.P." entalhada em seu centro. Respirei profundamente, preparada para afundar no colchão macio de minha cama, quando percebi que a porta estava entreaberta. De novo.

Lenta e hesitantemente, me movi até o cômodo, disposta a descobrir quem era o invasor. Meu coração bateu mais forte, como há muito não fazia, assim que me curvei para observar através da pequena abertura.

- Lindo. - ouvi uma voz extremamente delicada murmurar, antes de entender a quem pertencia.

Lucca Mangini, irmão do meio de Luigi, estava parado na frente da penteadeira azulada, admirando um vestido que segurava junto ao corpo. Ele era ruivo, com cabelos tão longos que quase podia prender em um coque, e sardas salpicadas na pele dourada. Tinha olhos no mesmo tom que os do irmão, 18 anos e uma estatura extremamente miúda (devia ser menor que eu). Desde que chegara à mansão, eu trocara apenas alguns poucos cumprimentos com o garoto, que era calado e sério. Eram raras as vezes em que o via perambulando pela própria casa, tanto, que até as empregadas me disseram que ele gostava de ficar sozinho em seu quarto.

- Adorável. - continuou, sem perceber minha presença. O vestido que segurava era rosa claro, com rendas que enfeitavam a gola e as costas do corpete.

Curvei-me um pouco mais, intrigada, e empurrei a porta.

- Lucca? Você precisa de alguma coisa? - falei, arqueando uma sobrancelha.

Juro que ele quase teve um ataque cardíaco.

Largou o vestido rapidamente, jogando-o dentro do closet, e ajeitou os cabelos de maneira nervosa.

- Não! Não preciso de nada, bambola! - sua voz, sempre delicada, adquiriu um tom grave forçado.

Estremeci de raiva com a palavra "bambola", sempre utilizada por Luigi para me provocar. Cerrei os punhos, mantendo a calma, e continuei encarando o garoto.

- O que está fazendo aqui, então? - perguntei.

As bochechas de Lucca ficaram da mesma cor que seu cabelo, enquanto suas mãos começaram a tremer. De repente, talvez em pânico, ele se aproximou e me olhou ameaçadoramente.

- Nada que lhe diga respeito. - e, então, sumiu dali.

Não nego que fiquei intrigada, imaginando a razão do comportamento estranho do rapaz. Na verdade, eu já desconfiava de algo fazia tempo, mas não via motivo para tanto alvoroço.

Era ele que andava frequentando meu quarto, afinal.

×××

As empregadas, infelizmente, vieram me chamar algum tempo depois. Fui obrigada a me arrastar até a sala de jantar, onde todos aguardavam sentados à mesa.

- Bem-vinda de volta, perfeição! - Luigi exclamou, gesticulando com as mãos de maneira elegante.

Eu não estava no clima para grandes reverências, portanto, apenas sentei-me ao lado do ruivo, sem encarar ninguém. Além disso, ainda estava confusa quanto ao que Madame Tréville me dissera mais cedo, tentando interpretar o sentido de suas palavras. Como Luigi estava na cabeceira da mesa, acomodei-me à sua direita, evitando a mulher.

- Agora que estão todos presentes, que se inicie a janta! - exclamou, sinalizando para os empregados que estavam ali de pé.

Então, a janta começou. Inúmeros pratos foram servidos: brócolis cozido com queijo, sopa de batata com cenoura, pão colonial, salame, fatias de polenta frita, carne ao molho, massa ao molho branco, vinho e água. Observei enquanto todos desenrolaram os talheres dos guardanapos, fazendo a prata polida reluzir sob os lustres de cristal. A sala de jantar nada mais era do que um espaço retangular comprido, com uma mesa feita para 50 pessoas (cuja qual sempre estava vazia) e objetos caros adornando-a. A decoração mudava toda semana, variando entre flores e estatuetas diversas.

- E então, perfeição? Está gostando? - Luigi sussurrou de repente, curvando-se em minha direção.

Tive vontade de rir, mas me segurei. A comida podia ser boa, mas não compensava nada.

- Olhe, eu gosto quando as pessoas respondem. Acho bom você começar a fazer isso. - ele sorriu de canto, pondo a mão sobre a minha - caso você não se comporte, saiba que posso fazê-la voltar a tomar o remédio. Tenho uma reserva grandiosa na cozinha.

Encarei-o com desprezo, trincando o maxilar. Apertei sua mão o máximo que pude, fazendo a área ficar branca.

- Eu não me importo. - respondi, de maneira sussurrada e fria.

Soltando-se, Luigi riu baixinho. Como de praxe, acrescentou um suposto "elogio" à ameaça.

- Seu coração é uma jóia, minha perfeição. Eu estou apenas me esforçando para possuí-lo. - tocou meu rosto, sabendo que eu odiava o gesto - lembre-se disso quando se sentir punida. É apenas uma maneira de este mero Fundador alcançar a jóia  em seu interior.

Fiquei tão irritada com suas palavras, que pensei em cuspir em seu rosto. Ele estava ameaçando voltar a me envenenar, com palavras falsamente gentis.

Antes de fazer qualquer coisa, porém, decidi utilizar seu próprio método. Ri, de maneira amarga e curta.

- Sim, Lui. Me lembrarei disto. Meu coração é mesmo uma jóia. - olhei-o no fundo dos olhos - é feito do mais puro ônix, se quer saber.

Sem entender a referência, Luigi arqueou as sobrancelhas, confuso.

- Sim, sim. Do que você quiser, perfeição. - murmurou, voltando sua atenção para os convidados.

- Do que eu amar, no caso. - retruquei de maneira inaudível, abaixando a cabeça e começando a comer.


Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora