Bônus: Derrotas

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Oi gente!!! Eu recebi um pedido recentemente que ficou na minha cabeça e, graças a isso, precebi que seria uma boa trazê-lo para Porcelana. Isso vai facilitar o compreendimento de vocês e vai explicar um pouco dos mistérios que pairam no ar desde a overdose da Alessa. Estão preparados? :)

Ah, aceito teorias!

E, com vocês...



☆Por: Luigi Mangini☆

O ódio quase me cegava, de tão intenso e palpável. Se havia alguém que me tirava do sério, esse alguém era Carlos, aquele que piorava todas as minhas dores de cabeça. E propositalmente.

Quando cruzei a cozinha, deixando Alessa e os outros para trás, percebi que Morgana veio correndo. Eu detestava aquela garotinha grudenta, que estava sempre embaixo de meus pés, implorando por atenção.

- Lu! - exclamou, agarrando meu braço.

Precisei puxar com força para desfazer o nó de suas mãos ao redor de mim, andando ainda mais rápido e recusando-me a encará-la. Àquela altura, certa voz maligna em minha cabeça começara a tramar um plano, e toda a minha atenção se voltara para tal canto mental.

- Lu, o que foi? - insistiu, seguindo-me conforme entrava no corredor em frente - Por favor, fale comigo!

- Cala a boca, Morgana! - exclamei, levando os dedos indicadores às têmporas e massageando a região dolorida. Eu sabia do que precisava para parar com aquilo, mas, infelizmente, o maço de minha necessidade estava em cima da cama de meu quarto.

- Foi a sua bambola desobediente? Ela o aborreceu de novo? Eu sempre soube que ela era um problema! - sua voz aguda entrava em meus ouvidos e fazia a dor triplicar.

Junto com a dor, a raiva também aumentava, no entanto.

- Morgana, - parei, subitamente, e ela chocou-se contra minhas costas - Eu pedi pra você ficar quieta.

- Mas eu quero saber o que... - virei-me bruscamente, sem aguentar mais dois segundos daquela ladainha, e agarrei seus pulsos pequenos.

Ela, como sempre, se encolheu de leve, os cantos da boca coberta por gloss tornando-se retos e tensos. Eu sabia que xingá-la não adiantaria, pois Morgana Mangini era a criatura mais teimosa e impertinente da face da terra. Por isso, conhecendo perfeitamente seu ponto fraco, inclinei-me e beijei seus lábios, que tinham gosto de cereja.

Estranhei o fato de os lábios de alguém geralmente tão amargo, estarem tão doces. Naquele ponto éramos parecidos, afinal.

Antes de agir, eu havia conferido o corredor, para ver se havia alguém ali e assim evitar problemas. Quando constatei estar tudo bem e sua boca tocou a minha, seus joelhos amoleceram imediatamente, e tive que segurar seus pulsos mais alto para mantê-la estável.

Por fim, quando achei ser o suficiente, me afastei e voltei a pensar no quão horrenda era a dor de cabeça que estava sentido, e que precisava imediatamente dar um jeito na situação.

- Você não pode me calar apenas com isso, Luigi... - ela murmurou, os lábios comprimidos em resignação.

Bufei de maneira irritada, sem conseguir me livrar da peste. Mesmo assim, eu tinha certeza de que ela era egoísta demais para resistir à minha próxima proposta:

- Então eu posso te dar mais do que isso... - sorri de maneira maligna, vendo suas barreiras de determinação se derreterem como manteiga no calor - Hoje à noite, Morgana. Basta vir ao meu quarto.

Sussurrei tudo isso bem próximo ao seu ouvido, fazendo questão de ouví-la suspirar em rendimento e assentir, como um cachorrinho babão. Ela sempre acabava fazendo o que eu queria, de um jeito ou de outro. E o pagamento que lhe devia... bom, digamos que fosse bastante divertido, também.

Quando percebi que tudo o que ela faria a seguir seria tentar me beijar novamente, larguei-a bruscamente e me virei, rindo de sua careta de descontentamento. A voz irritante em minha mente passara a falar mais alto, ordenando que pusesse em prática seu plano.

Pois bem, eu pus.

×××

Meus punhos estavam apertados ao lado do corpo. Qual fora o empregado idiota que estragara tudo?

Quando me livrei de Morgana, a necessidade de vingança foi a primeira que saciei. Voltei para a cozinha com os dentes trincados e ordenei que as cozinheiras preparassem uma refeição especial para aquela noite. Pedi, principalmente, que separassem o prato de Carlos, para que eu pudesse inspecioná-lo. Assim que o fizeram, me inclinei e coloquei na comida quente uma dose bem alta daquilo que ele mais desprezava, substância cuja qual lotava grande parte das prateleiras da cozinha. Ele iria sofrer, e a voz em minha mente ficou satisfeita ao se dar conta disso.

Depois, saciei minha necessidade de cigarros, caminhando rapidamente para meu quarto. Não sei ao certo quantos consumi, mas o pequeno cinzeiro que mantinha escondido dentro da gaveta da mesinha de cabeceira ficou lotado. Utilizei as velas da Sociedade para acender os cigarros, rindo com a ideia de que meu pai idiota sequer desconfiava daquele vício. Minha cabeça parou de rodar imediatamente, e a dor cessou.

Então, antes que pudesse sequer aproveitar a sensação tranquilizadora que dominou meu corpo, uma mulher desesperada bateu na porta. Levantei irritado, prestes a despachá-la, quando fui bombardeado pela notícia de que o tiro havia saído pela culatra.

Alessa estava com indícios de overdose, morrendo em meu escritório, sob circunstâncias misteriosas. Quer dizer, misteriosas para os funcionários, pois a primeira coisa que pensei sanou minhas dúvidas.

Agora, enquanto caminhava furiosamente para a cozinha, bagunçando o cabelo ainda mais, tudo em que conseguia pensar era que alguma empregada idiota havia trocado o prato de Carlos e levado-o para Alessa.

Minha respiração acelerou quando escancarei a porta da cozinha, pela segunda vez no dia, deixando-a chocar-se contra a bigorna que a apoiava. O barulho de metal que sempre julguei tranquilizador apenas fez meu rosto contorcer-se com o fogo da raiva, que sempre queimava dentro de mim. Naquele momento, tal chama explodiu.

Por que tudo o que eu fazia em minha maldita vida estava destinado ao fracasso? Fora Carlos a implantar tal dúvida em minha mente.

- QUEM TROCOU OS PRATOS?! QUEM FOI A IDIOTA QUE NÃO SOUBE SEGUIR MINHAS ORDENS?! - as empregadas começaram a tremer imediatamente, praticamente se escondendo atrás dos móveis.

Alguém iria sofrer pelo infortúnio do dia. Se Alessa morresse, meu trabalho teria sido em vão, e isso não podia acontecer.

Eu não daria a Carlos mais um motivo para me julgar inferior, não mesmo. Não admitiria outra derrota.

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora