*Mudança no estilo de narrativa*
- "Eu gostaria de dizer que, no dia em que a Sociedade Porcelana acabou, o mundo reconheceu o fim de um ciclo de maldade profunda. Que o sol brilhou e o céu azul sorriu, com clareza, na primeira vez em que consegui respirar do lado de fora. Afinal, estava livre, depois de quase um ano de dor. Mas não foi assim." - suspirou, o livro que mantinha no colo já na última página - "Um chuvisco maldoso caía no pátio, cada vez mais cheio de gente, da sede central. Ele chicoteava meu rosto enquanto o vento uivava, sendo ambos um resquício da tempestade de mais cedo, que sequer conseguíramos ouvir. A noite não tinha estrelas, e era escura como um breu total. Dezenas de feridos estavam espalhados no chão, esperando as ambulâncias e carros da Polícia que ainda não tinham chegado. O pensamento de que o mais difícil ainda estava por vir dominava minha mente."
Ela ergueu os olhos, analisando o auditório mudo. A curiosidade e ansiedade no rosto das pessoas, para saber quais as palavras finais do livro, faziam com que algumas delas batessem os pés impacientemente. Alessa sorriu, voltando para sua página em tom sépia.
- "Mas nada supera o sabor da vitória, mesmo que ele esteja misturado com o salgado das lágrimas e o metálico do sangue. Porque o barulho da porcelana ao redor de nós se desmanchando, era maior do que qualquer ideia ruim. E saber que eu, uma mera bambola, havia conseguido cumprir minha promessa escondida de revidar com meus próprios cacos, era ter certeza de que a coragem e a honestidade traziam o melhor prêmio que se poderia receber: a sensação do estar livre." - terminou de ler, sorrindo com simpatia para a repórter na poltrona à sua direita - E é isso. Acaba aqui.
A mulher bem maquiada chegou a piscar diversas vezes, o texto recentemente lido ainda estampado em sua mente. Mesmo que estivesse abalada, ela sorriu de volta, talvez torcendo para que nenhum telespectador tivesse percebido.
- Uau! Estou sem palavras, e a platéia inteira também! - disse, apontando para as pessoas de atenção fisgada, que de imediato começaram a bater palmas - Nunca tivemos uma história tão comovente nas entrevistas deste programa!
Alessa balançou a cabeça, compreensiva. A câmera voltou a girar ao redor das duas.
- Diga-nos, Senhorita Fragnello, consegue acreditar que já faz 5 anos desde que saiu da Sociedade? - ela olhou para as pessoas - Todos nós aqui lembramos do tumulto mundial que o descobrimento daquele lugar causou!
Os que assistiam confirmaram, assentindo em suas cadeiras confortáveis. Estavam mais acima do que as duas, como se o lugar fosse a metade de um anfiteatro. O "palco" em que Alessa estava, na verdade, era um cenário que simulava uma sala de estar comum.
- Às vezes, realmente, não consigo acreditar. Quando durmo, acho que vou abrir os olhos e estar de volta àquele pesadelo. Minha sorte é ter recuperado a relação com meu pai e, bem... ter um artista em casa, que me ajude a perceber que tudo já passou, e que agora é a vez dos sonhos. - respondeu, sorrindo ainda mais enquanto a multidão suspirava e fazia som de "ooownt".
- Ah, é claro! - aprumou-se a repórter, entusiasmada com o clima de romance - Por falar nisso, como vai o seu amor de antigamente?
Alessa riu de leve, apontando para uma pessoa em específico no meio da platéia, discreta até então.
- Ele vai bem, sim. Inclusive, está aqui hoje. Podem perguntar para o próprio. - falou, achando cômico e extremamente fofo o tom rosado que as bochechas de Ônix D'Gasperi adquiriram quando foi notado.
Um holofote foi aceso em sua direção, as pessoas gritando de animação e surpresa, enquanto ele timidamente acenava.
- Ora, Senhor D'Gasperi, o que está fazendo aí? Pode vir aqui juntar-se a nós na entrevista. Afinal, também foi parte de Porcelana! - a mulher exclamou, praticamente obrigando o artista a se aproximar.
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Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 2☆ "Seus sorrisos eram cínicos e debochados. Seus atos bondosos, uma mentira. Suas palavras generosas, um enfeite. Encará-los nos olhos era pavoroso, pois, a única coisa que demonstravam, eram uma maldade e um vazio tão...