Cap. 9: Passeios Matinais

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As olheiras em meu rosto eram profundas e escuras. Evidenciavam, com toda a certeza, a madrugada não dormida. Mas, bem, não me importava com isso, pois era comum eu ter insônia naquela casa infernal. Uma noite a mais ou uma noite a menos não faria diferença.

De repente, quando eu estava dormindo com a cabeça encostada na cabeceira da cama, os livros ainda em meu colo, ouvi alguém bater na porta. Acordei subitamente dos poucos minutos de descanso, olhando em volta:

- Senhorita Alessa? - era a voz de uma empregada - Posso entrar?

- Só um minuto! - exclamei, estranhando aquela atitude.

Normalmente, as empregadas entravam em meu quarto quando bem entendessem, sem bater na porta ou me chamar. De sobrancelhas franzidas, saltei da cama, vesti o robe felpudo que ficava no banheiro e escondi o diário de Avril embaixo da cama, garantindo que ninguém o visse.

- Pode entrar. - falei, jogando-me sobre o colchão.

A mulher, silenciosamente, entrou, andando até mim. Ela parecia um tanto nervosa, pela maneira que torcia os dedos e piscava sem parar.

- O Senhor Luigi pediu que eu a aprontasse. Ele disse que pretende encontrá-la dentro de 10 minutos. - explicou, o medo explícito.

Ela teria de me deixar impecável para o Fondatore Maestro em menos de 10 minutos. Era compreensível a sua apreensão.

- Tudo bem. - murmurei, levantando-me e pondo uma mexa de cabelo atrás da orelha.

Tentei ser boazinha com ela naquela manhã, somente por saber que a culpa realmente não lhe pertencia. Porém, não fiquei nervosa, estando cansada demais para temer Luigi no momento.

Deixei-a escolher minha roupa: uma saia rosa que ia até a metade da coxa e uma blusa branca, com o acréscimo de um pequeno colar de brilhantes. Depois, também permiti que arrumasse meu cabelo, penteando-o para a lateral e deixando-o solto.

Suspirei, vendo no espelho da penteadeira a boneca do demônio ruivo.

- Muito bem! - a empregada exclamou, correndo para a porta e me levando junto - Creio que o Senhor Luig...

Ela não terminou sua frase, pois a porta se abriu antes que tivesse a chance de tocá-la, revelando a figura do próprio diabo. Naquela manhã, Luigi vestia calça jeans, camisa social e um colete, todos muito caros. Seu cabelo vermelho também estava penteado para o lado, aparentando ter sido recentemente cortado.

- Olha, devo dizer que você está bonita, perfeição. - ele murmurou, um sorriso maldoso estampado no rosto - Mas... temo que tenha de fazer uns ajustes em sua aparência. E em breve.

A sensação ruim que eu sempre tinha em sua presença intensificou-se, fazendo-me suspirar. O que mais Luigi desejava mudar em mim?

- Venha, bambola. - ele esticou a mão, chamando-me - Hoje nós faremos um passeio matinal.

Obriguei-me a segurar a mão do cabeça-de-fogo, seguindo-o para fora. Ainda assim, virei-me para trás uma última vez, flagrando a expressão aliviada da empregada e desejando, ardentemente, que a mesma não limpasse o quarto naquele dia. O diário de Avril ainda estava embaixo da cama.

×××

- Como você não conhece esta parte da casa, resolvi trazê-la para uma caminhada. - Luigi começou, as mãos nos bolsos da calça.

Ele parecia tranquilo, se não até relaxado. Era surpreendente a expressão humana em seu rosto, que talvez pudesse deixá-lo próximo a um jovem normal. Eu, no entanto, estava rígida como uma estátua, tentando a todo custo me manter distante de suas mãos (ainda tinha pesadelos com a perseguição).

- Entendo. - respondi.

Ele, com um ar divertido, sorriu, parando em frente a uma porta de vidro fosco.

- É aqui que iniciamos nossa excursão, criança. - falou, pedindo que um dos dois empregados que nos seguiam abrisse a porta - Nós teremos uma conversa natural hoje, então, pode perguntar qualquer coisa.

Ele estava se sentindo um professor naquele momento, a careta maldosa substituída por uma expressão cômica. Tive a ideia de distraí-lo, para poder observar a casa e fazer a investigação que Madame Tréville havia me pedido.

- Ok. Por que você mesmo não abre a porta quando vai entrar em algum lugar?

Ele, de maneira chocante, riu. Até mesmo em sua risada sincera, porém, pude sentir um quê de amargura.

- Pelo simples motivo de que posso mandar alguém fazer isso por mim. - o lugar para o qual estava me levando se abriu ao nosso redor, revelando um belo e extenso jardim de inverno - O que achou?

Falando de modo sincero, era realmente bonito. As plantas estavam em jardineiras grudadas às paredes esquerda e direita, que persistiam até o final do comprido salão. Elas estavam atrás de portas de vidro, e possuíam uma aparência impecável, provavelmente fruto do trabalho duro dos funcionários da Sociedade. Também havia uma grande porta de madeira negra no final do estreito cômodo, que estava repleto de elegantes bancos estofados em tecido vermelho. A curiosidade foi súbita, e torci para que Luigi me levasse até o outro lado daquela passagem.

- Bonito. Elegante. - murmurei, gravando na mente todos os detalhes possíveis do lugar.

Novamente, o demônio ruivo riu.

- Sabia que você reagiria assim. Todos que vêm aqui ficam surpresos com este jardim tão... vivo, dentro desta casa. - ele passou a mão pelo cabelo, seguindo adiante.

Segui-o a alguns passos de distância, por precaução. Mas, em determinado momento, ele parou de caminhar, apontando para um banco.

- Vamos nos sentar ali. - disse, seguindo para lá logo em seguida - Ah, e não precisa ter medo de mim. Hoje eu estou controlado, perfeição. Não pretendo fazer nada com você. - o sorriso malicioso retornou para seus lábios - A menos que peça, é claro.

Juntei bastante coragem e cerrei meus punhos, sentando-me o mais longe dele que o assento permitia. Então, virei-me em sua direção, esperando por uma explicação para tudo aquilo.

- Eu quis passear com você, belezinha, porque tinha um recado importante para dar. É necessária uma conversa mais particular, por assim dizer. - Luigi expandiu o sorriso, a maldade voltando com força total - Sei que ficará muito feliz, perfeição!

Soube, bem aí, que algo bom não era. Enterrei as unhas nas palmas das mãos, fazendo força para falar:

- E por quê?

- Porque... - fez mistério, rindo novamente - a data do nosso casamento foi marcada!

Perdi o ar durante alguns segundos.

- Maravilhoso, não é? - o sarcásmo foi óbvio em sua fala, e em sua gargalhada também - A Hora do Progresso criou o momento oportuno para essa festa!



Oi gente!!! E então, gostaram desse passeio do Luigi com a Alessa? E da revelação? Casamento marcado, enfim. Infelizmente.

Espero, de coração, que tenham gostado.

Bjsss, aproveitem!!!

P.S.: Confiram o perfil desta leitora super fofa: Thayane_Letro.

Porcelana - A Promessa Escondida (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora